quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A DISTÂNCIA ENTRE O QUERER E O FAZER

Queria poder que tudo está perfeito, que tudo não passou de um mal entendo, querida poder dormir está noite com a mente tranqüila sem nada poder me preocupar, queria tomar café da manhã sem me preocupar com a alteração do leite, queria poder não ter problemas a resolver, queria simplesmente não ter uma irmã com depressão em vias a uma loucura, queria poder não receber a correção da minha monografia e tê-la desconfigurada, alegando tratar de um texto positivista, de uma história feita por vencedores e me sentir no vazio da intelectualidade, queria simplesmente ter o pó mágico da resolução de tudo isso que nos completa, problemas!
Depois de dezenas de ligações sem obter resposta, percebo a minha fragilidade diante de certas ocasiões na qual me vejo. Liguei somente para me redimir do erro casual de ter esquecido o horário, ludibriado no papo de amigos. Isso era o mínimo que um ser humano poderia agir. Achei pura infantilidade, acho que se respondesse somente uma ligação e justificasse no mínimo que não desejava conversar sobre o assunto, que estava furiosa ou coisa e tal. Não adiante depois de todo ocorrido ligar pro meu trabalho e perguntar se está tudo bem, se está tudo bem mesmo, seria um absurdo discutir isso. Mas se preferir já que a atitude de ontem jamais poderia ser esperada podemos ficar nisso mesmo, pois ontem me sentir um ser insignificante, algo sem valor, sem importância, pois em toda minha vida jamais tratei quem quer que fosse de forma tão vil e impensada, a atenção que atribui o meu ser é tão especial que não consigo imaginar o que o levou a tomar tal atitude, pois podem ter várias, mas acredito que nenhuma delas justifique a sua ação.
Na angustia dos meus pensamentos em estado de transformação começo a ler poemas, e tiro esta poesia de Ferreira Gullar e te envio sem nenhuma mágoa, mas ainda ferido!!!!

CARTA DE AMOR AO MEU INIMIGO MAIS PRÓXIMO

"espero-te entre os dois postes acesos entre os dois apagados naquela rua onde chove interruptamente há tempos; procuro tua mão descarnada e beijo-a, o seu pêlo roça os meus lábio sujeitados a todos os palimpsestos egípcios; cruzas o mesmo vôo fixado num velho espaço onde as aves descorram e o vento seca retorcido, amor, teu cotovelo roído pelo mesmo ar onde olhares se enderecem pela cicratização das referências ambíguas, pela recuperação das audácias, pelas onomatopéias da essências; amor!, vens, cada sono, com tuas quatrocentas assas e apensa um pé, pousas na balaustrada que se ergue, como uma pirâmide ou um frango perfeito; do meu ombro à minha orelha direita, e cntas:
ei, ei, grato é o pernilongo aos
corredores desfeitos
ei, ei, Ramsés, Ramsés brinca com
chatos seculares
bem quero que me encontres esta noite na Lago Rodrigues de Freitas, no momento exato em que os novos peixes conheçam a água como não conheces jamais o ar nem nada, nada. Iremos, os dois, como um gafanhoto e um garfo de prata, fazer o percurso que nasce e morre de cada pé a cada marca, na terra vermelha dos delitos, queridinho!"

Ferreira Gullar

Escrito em 05/11/2007
Por: Alisson Meneses de Sá

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