Às vezes não percebemos o quando a vida nos oferece de oportunidades positivas e como imbecis passamos despercebidos, sempre visionando o supérfluo e o animalesco das coisas que a vida nos proporciona, as vezes uma pequena parada pra observar o que acontece em nossa volta pode proporcionar prazeres muitas vezes indescritíveis e talvez nunca imagináveis, pois as vezes por sermos práticos, lógicos ou talvez por o nosso dia a dia não nos permitir tal ato, porque somos produto de uma máquina capitalista que exige produção acima de qualquer princípio básico, nos fazendo passar despercebidos por situações um tanto quanto valiosas para nossos princípios como pessoas dotadas de sabedoria.
E foi ali, sentado numa cadeira, bem afastado de toda movimentação possível da casa que pude perceber o quando não damos valor ao que temos e de estupidamente não sabemos agradecer. Era um entrar e sair de gente dentro da instituição enorme, a coordenadora da casa mandou que eu esperasse ali sentado para poder conceder a entrevista de cunho acadêmico sobre o processo pedagógico para os deficientes visuais do Estado de Sergipe. De repente, eis que surge o menino, usando um chinelo já bem gasto, uma camisa de xadrez azul com branco, e uma bermuda bastante surrada, conduzindo seu pai que era cego, o menino ao conduzir seu pai expressava na sua face uma responsabilidade sem tamanho, um compromisso a ser cumprida com bastante zelo, pois tratava de seu pai, era o que transmitia seus olhinhos brilhantes. Por alguns segundos seu pai não precisou de sua condução, pois já conhecia alguns compartimentos da casa e podia se locomover sozinho, sem ajuda do seu, por assim dizer condutor. Durante os minutos que o garoto esteve livre de sua trágica função, ele brincava, brincava como uma verdadeira criança que era, qualquer objeto era alvo de um divertimento provisório, pulava, cantava, sorria, o menino brincava sem ao menos se constranger com a minha presença, pois era um ser estranho naquele ambiente já conhecido do garoto que poderia ficar tímido, aproveitava os segundos como se fosse seu último, e que de repente poderia voltar a sua função de conduzir seu pai. Viu numa salinha bem apertada um telefone, acredito que o menino já tenha visto um telefone, mas que não era coisa de sua vivência habitual, entrou na sala e rapidamente ficou a admirar aquele aparelho, pegou no gancho do telefone e colocou no seu ouvido, ali escutava alguém falar na outra linha, achou aquilo interessante e tornou a ouvir, não deu importância a minha presença na sala ao lado que a tudo percebia, abruptamente desce as escadas um rapaz alto que por seu porte deveria ser o vigia daquela instituição, entrou na salinha e deu um tabefe na cabeça do garoto, o menino saiu da sala e voltou para sala onde eu estava, o rapaz que deu o tapa começou a esbravejar dizendo que aquilo era falta de educação, aquilo que o menino estava fazendo, o menino ficou num canto, envergonhado e com vontade de chorar, o pai não estava ali presente, e ele já sabendo que poderia também levar uma bronca do seu pai também não se atreveu a ir contar o ocorrido. Alguns minutos depois seu pai grita seu nome, ele não espera que seu pai chame outra vez e sua face muda como um pingo d’água quando cai no chão, seu pai necessitava subir uns degraus, ele logo correu e colocou a mão de seu pai no seu ombro, a responsabilidade de conduzir era enorme, isso refletia nos olhos que brilhava.
Olhos que brilhavam, que desejavam uma infância mais passiva, eram olhos que desejavam mais liberdade pra poder aproveitar aquilo que eu soube aproveitar na minha infância, poder brincar e estudar sem compromisso sem o medo de ser censurado por qualquer ato que lhe dá vontade e forma brutal ser interompido por alguém que na verdade não possui o direito de te reprimir.
Foi durante aqueles poucos segundos que permaneci naquela sala a esperar a coordenadora o quanto as coisas às vezes bobas, às vezes imperceptíveis torna-se um instrumento de crescimento interior, essas são as benesses que a vida nos proporciona e que 99% das vezes ignoramos. Não existe depressão no mundo que resista a essa lógica, a do saber observar as coisas e saber colher dali frutos saudáveis.
Saber lidar com o indiferente é algo que persiste no contexto histórico que conduz a sociedade, e tiro lições desse curto período de pesquisa que estive no CAP (Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais). Jamais pude imaginar ser ignorado por qualquer grupo social, e assim aconteceu, você saber que as pessoas que por ali passaram não percebiam a sua presença era de nos angustiar, e assim me senti, uma pessoa imperceptível a outro ser, existe pessoas que por sua natura reprova outro ser, mas sabemos que são vistas, porque pra censurar um outro ser precisamos pelo menos dar uma boa passada de olho e dá um parecer naquilo que nos incomoda. Era um passa-passa de pessoas naquela instituição enorme, as pessoas circulavam por ali a cumprir alguma atividade que o centro oferecia, as pessoas nunca podiam imaginar que ali no canto estava um ser ávido por aprender um pouco sobre essa inclusão, e ali fiquei, imóvel a observar, e foi através dos olhos do menino que conduzia que pude dar uma conotação ampla para tudo o que estava acontecendo. Era daquele mesmo jeito, através dos olhos do menino a vida passa por responsabilidade e pitadas de divertimento, sendo censurados pelo desconhecido mas não dando importância para o que o amedronta, enfrentando com esmero e dedicação tudo ´que é imposto, mostrando o quando a nação precisa olhar mais pra suas crianças e avançar na aceitação do indiferente, conscientizar aquele que deveria ser referência como pessoa humana ao uso da bengala como instrumento de condução e não usurpar a liberdade de um ser de aproveitar a sua infância naturalmente, a mostrar a este pai as várias razões de apostar no futuro esperançoso da criança que hoje o conduz para sua segurança mas que no futuro não terá segurança ao se conduzir por si só.
E foi ali, sentado numa cadeira, bem afastado de toda movimentação possível da casa que pude perceber o quando não damos valor ao que temos e de estupidamente não sabemos agradecer. Era um entrar e sair de gente dentro da instituição enorme, a coordenadora da casa mandou que eu esperasse ali sentado para poder conceder a entrevista de cunho acadêmico sobre o processo pedagógico para os deficientes visuais do Estado de Sergipe. De repente, eis que surge o menino, usando um chinelo já bem gasto, uma camisa de xadrez azul com branco, e uma bermuda bastante surrada, conduzindo seu pai que era cego, o menino ao conduzir seu pai expressava na sua face uma responsabilidade sem tamanho, um compromisso a ser cumprida com bastante zelo, pois tratava de seu pai, era o que transmitia seus olhinhos brilhantes. Por alguns segundos seu pai não precisou de sua condução, pois já conhecia alguns compartimentos da casa e podia se locomover sozinho, sem ajuda do seu, por assim dizer condutor. Durante os minutos que o garoto esteve livre de sua trágica função, ele brincava, brincava como uma verdadeira criança que era, qualquer objeto era alvo de um divertimento provisório, pulava, cantava, sorria, o menino brincava sem ao menos se constranger com a minha presença, pois era um ser estranho naquele ambiente já conhecido do garoto que poderia ficar tímido, aproveitava os segundos como se fosse seu último, e que de repente poderia voltar a sua função de conduzir seu pai. Viu numa salinha bem apertada um telefone, acredito que o menino já tenha visto um telefone, mas que não era coisa de sua vivência habitual, entrou na sala e rapidamente ficou a admirar aquele aparelho, pegou no gancho do telefone e colocou no seu ouvido, ali escutava alguém falar na outra linha, achou aquilo interessante e tornou a ouvir, não deu importância a minha presença na sala ao lado que a tudo percebia, abruptamente desce as escadas um rapaz alto que por seu porte deveria ser o vigia daquela instituição, entrou na salinha e deu um tabefe na cabeça do garoto, o menino saiu da sala e voltou para sala onde eu estava, o rapaz que deu o tapa começou a esbravejar dizendo que aquilo era falta de educação, aquilo que o menino estava fazendo, o menino ficou num canto, envergonhado e com vontade de chorar, o pai não estava ali presente, e ele já sabendo que poderia também levar uma bronca do seu pai também não se atreveu a ir contar o ocorrido. Alguns minutos depois seu pai grita seu nome, ele não espera que seu pai chame outra vez e sua face muda como um pingo d’água quando cai no chão, seu pai necessitava subir uns degraus, ele logo correu e colocou a mão de seu pai no seu ombro, a responsabilidade de conduzir era enorme, isso refletia nos olhos que brilhava.
Olhos que brilhavam, que desejavam uma infância mais passiva, eram olhos que desejavam mais liberdade pra poder aproveitar aquilo que eu soube aproveitar na minha infância, poder brincar e estudar sem compromisso sem o medo de ser censurado por qualquer ato que lhe dá vontade e forma brutal ser interompido por alguém que na verdade não possui o direito de te reprimir.
Foi durante aqueles poucos segundos que permaneci naquela sala a esperar a coordenadora o quanto as coisas às vezes bobas, às vezes imperceptíveis torna-se um instrumento de crescimento interior, essas são as benesses que a vida nos proporciona e que 99% das vezes ignoramos. Não existe depressão no mundo que resista a essa lógica, a do saber observar as coisas e saber colher dali frutos saudáveis.
Saber lidar com o indiferente é algo que persiste no contexto histórico que conduz a sociedade, e tiro lições desse curto período de pesquisa que estive no CAP (Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais). Jamais pude imaginar ser ignorado por qualquer grupo social, e assim aconteceu, você saber que as pessoas que por ali passaram não percebiam a sua presença era de nos angustiar, e assim me senti, uma pessoa imperceptível a outro ser, existe pessoas que por sua natura reprova outro ser, mas sabemos que são vistas, porque pra censurar um outro ser precisamos pelo menos dar uma boa passada de olho e dá um parecer naquilo que nos incomoda. Era um passa-passa de pessoas naquela instituição enorme, as pessoas circulavam por ali a cumprir alguma atividade que o centro oferecia, as pessoas nunca podiam imaginar que ali no canto estava um ser ávido por aprender um pouco sobre essa inclusão, e ali fiquei, imóvel a observar, e foi através dos olhos do menino que conduzia que pude dar uma conotação ampla para tudo o que estava acontecendo. Era daquele mesmo jeito, através dos olhos do menino a vida passa por responsabilidade e pitadas de divertimento, sendo censurados pelo desconhecido mas não dando importância para o que o amedronta, enfrentando com esmero e dedicação tudo ´que é imposto, mostrando o quando a nação precisa olhar mais pra suas crianças e avançar na aceitação do indiferente, conscientizar aquele que deveria ser referência como pessoa humana ao uso da bengala como instrumento de condução e não usurpar a liberdade de um ser de aproveitar a sua infância naturalmente, a mostrar a este pai as várias razões de apostar no futuro esperançoso da criança que hoje o conduz para sua segurança mas que no futuro não terá segurança ao se conduzir por si só.
Por: Alisson Meneses de Sá
Um comentário:
Nossa o texto é linod,me emocionou com suas palavras bem colocadas e tua visão perfeita!Parabéns!
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