quarta-feira, 6 de agosto de 2008

COISAS DO INTERIOR


São exatamente sete e meia da noite de uma quarta-feira qualquer, dia em que volto pra vida cosmopolita e deixo pra trás a vida ruralista, na esperança de que os dias se prolonguem para que eu não me depare na rotina da estrada outra vez. Não que eu faça aqui menção a desgosto por ir trabalhar no interior, não, longe de mim, o problema é o cansaço físico de pegar uma estrada e ficar nela por duas horas e meia, sentado, isso pra voltar, se eu fizer a soma numa semana gasto por volta de cinco horas só na estrada de ida e volta, num mês fico 20 horas e no ano fico 240 horas, no total, para fechar as contas eu passarei 10 dias nessa vida turbulenta de asfalto, nesse vai-e-vem desmedido, exaustivo e enjoativo. Mas a vivência interiorana até que não é todo ruim não, por lá, onde ando, as coisas são por demais cômicas, tudo pra mim é levado na brincadeira, adoro me divertir com os causos que lá observo, nada tão gritante, coisas corriqueiras, picuinhas do povo do campo que muito não se ver pela capital. Estamos em campanha eleitoral em toda federação brasileira, ta, até aí tudo tranqüilo, mas o que eu destaco onde trabalho são seus candidatos toscos, irreverentes, inusitados, enfim, candidatos ao pleito de vereadores que são do outro planeta, claro que um o outro ainda se salva, mas eu já pude listar alguns por demais da conta incomuns. A representatividade gay está por demais gritantes, mas tudo por trás da moita, ninguém quer levantar a bandeira, também se levantar num dia no outro pode se considerar fora da corrida eleitoral. Tem corno consentido e até mulheres da vida fácil a tentar uma vaguinha para talvez representar as suas minorias, abrindo, por exemplo, um antro para acalmar os rapazes afoitos da cidade, ótimo projeto, mas se confrontará na rede das representações gays e das carolas da cidade. A cidade é tão pequena, mas tão pequena que se você coçar aqui todo mundo já sabe que você está com micose e o que mais se ver é candidato nas ruas a condenar o povo a procura de voto que num tá no gibi. Lá vinha eu, de um dia de aula, caminhando pela rua, num sol escaldante, quando de repente alguém, no desespero para se eleger me avista, eu como sempre comunicativo não me esquivei na aproximação da dita cuja e parei, educadamente, para cumprimentá-la, meu Deus, foi tão hilário, que quase, por um triz me espalhei em riso e gargalhada na frente da senhora, ela simplesmente apertou minha mão, abriu um sorriso e se lançou – meu fio quero que você me ajude, que da sua família saia um voto pra mim, pois estou precisada, sua família tem representação. Era uma aflição só o discurso dela, parecia que iria morrer sufocada, eu educadamente, respeitando os cabelos brancos, escondidos pela tintura, daquela mulher, disse que infelizmente eu não podia enganá-la, pois todos da minha casa já tinham um compromisso com alguém, pra que foi que rebati com sinceridade, poderia muito bem ter somente balançado a cabeça afirmativamente, que ela sairia satisfeita e eu seguiria meu rumo, ela num solavanco só, apressando suas palavras, sem espaços para a respiração colocou em questão de 5 segundos ou menos todos seus projetos, e tudo que já fez na cidade no quesito saúde, fiquei pasmo, nesse instante ia ri, não por zombaria, por que sei bem que ela trabalha muito em prol da cidade, mas pelo fato inusitado que agente só ver em cidade pequena. Apertei bem forte a mão dela, pedi que ela fosse falar com minha mãe, que daí quem sabe rolaria uma partilha, ela abriu mais uma vez um largo sorriso, de prótese, vale ressaltar e continuou seu destino rua abaixo, espiando o próximo pedestre que por ali passasse. Mas a risada eu dei logo adiante quando avistei um estimado amigo e meu ex-professor, onde comentei que um outro amigo quando se ver importunado por um esfomeado candidato logo diz: querido meu voto já está comprometido, quero o novo, daí diz o nome do dito cujo e sai, deixando o candidato a dizer impropérios ao vento, pois o candidato mencionado (o novo) além de ser uma pessoa que ninguém sabia de sua existência, anda tirando suspiros de tudo que é mulher, por só andar alinhado fazendo o estilo Fernando Collor de Melo, pra deixar os enfezados, os rabugentos de esquina no quesito higiene e educação no chinelo havaiana.

Por: Alisson Meneses de Sá

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