PARTE - I
Dia 13 de julho, aniversário de meu avô materno, a família viaja para o interior, necessitam ficar mais próximo do patriarca da família. Minha rebeldia de adolescência não se foi, prefiro ficar. Ligo para que essa falta seja menor, pelo menos era o que imaginava. Setenta e poucos anos, a voz era trêmula, senti que sua felicidade era vibrante pelo tom de voz, todos estavam lá ao seu lado, reclamou obviamente porque eu sempre não me fazia presente às comemorações familiares, a resposta nem eu mesmo sabia, mas ele já me conhecia, sabia obviamente porque eu não compartilhava com essas emoções, findo o meu diálogo feliz, com uma missão cumprida de neto querido que ainda tem prestígio.
Bruscamente ao me despedir me vêm à lembrança subitamente de quanto tempo já vivi ao lado daquele homem, já marcado pela velhice e pelos seus problemas de saúde que impossibilita de aplicar seu vigorosos truques masculinos, pelo menos ainda mexe com as meninas que se atrevem a lhe dar ousadia. Símbolo de trabalho, responsabilidade, dignidade e honestidade.
Dentre muitos momentos de acolhimento paterno que ele sempre nos dava, lembro-me de minha infância, por volta dos 11, 12 anos de idade, eu, meu irmão e alguns amigos da vizinhança sempre passavam nossas férias do mês de julho na fazenda que ele possuía, a localização das terras não pertencia a Itabi, cidade na qual sou criado, já fazia parte do município de Gararu, cidade vizinha. Sempre nossas férias de julho eram na fazenda e as de janeiro eram na capital, esse ritual se dá até os 14 anos quando termino o ensino fundamental em Itabi e venho concluir o ensino médio em Aracaju, já que isso era tradição em toda família, colocar seus filhos para estudar fora, pois o ensino era precário.
A fazenda era perfeita, as terras nunca foram exploradas por completo para nos que ousávamos a nos aventurar nelas. A casa ficava no alto, dela dava pra ver toda a extensão da fazenda e dava pra verificar tudo o que acontecia no que movia a fazenda, a vista era ampla de todos os lados a casa era cercada por uma cerca de arame farpado e dentro seus cômodos eram dois quartos um com duas camas de solteiros e a outra de casal, uma cozinha enorme e duas salas bastante ampla e arejada, nas salas e nos quartos tinham vários cabides de armar rede, este era a habitual forma de dormir de meu avô, enquanto nos sempre dormíamos nos quartos. Bem distante da casa logo abaixo existia um curral, um depósito de alimentos e uma fábrica de queijo, ali próximo tinha uma casa, essa casa foi a primeira que meu avô morou logo que comprou a fazenda, por volta do início da década de 80.
O que de fato movia a fazenda eram os gados, centenas de cabeça de gato, outros animais também eram criados como cabras e galinhas. No plantio lembro-me do cultivo do feijão do milho e já no final da palma que alimentava os gados.
O que de fato nos impulsionava a sempre ir com meu avô para fazenda era o que a geografia do local nos proporcionava. A fazenda era delimitada por riachos enormes que tinham como afluente o Rio São Francisco, aliás, eram vários riachos, mas só um nos divertia, era o único que nunca secava os demais eu jamais os vi cheio.
Passávamos por volta de 15 dias, sempre voltando as sextas e retornávamos no sábado após a feira na cidade, meu avô tinha negócios a tratar na feira, coisa de pecuarista. Antes de terminar as aulas, meu avô sempre nos alertava em comprar o nosso material de divertimento, o anzol de pescar e o estilingue, era tudo perfeito, arrumávamos nossas mochilas e ficávamos ansiosos, esperando meu avô chegar na porta da nossa casa com um jipe amarelo.
Acompanhávamos todos os afazeres dos vaqueiros que meu avô possuía, um deles era um filho que meu avô tivera numa relação extraconjugal e que morava na casa de baixo com sua mulher e sua filha. Assim que chegávamos no sábado à tarde depois de uma viagem estressante, mais de 1 hora numa estrada de barro, chegávamos e logo, logo arrumávamos nossas roupas e começávamos a planejar nossas traquinagens, à noite chegava, o silêncio tomava conta, não tinha energia, com isso a luz existente era do lampião que meu avô logo ligava, para nos descontrair daquele tédio vigente à noite meu avô comprou uma TV portátil, bem pequenina que era TV e rádio, somente assistíamos a novela das 7 e o telejornal, depois tínhamos que desligar pois a TV era a bateria. Sempre alguns vizinhos se chegavam à noite para conversar, pegar alguma encomenda da cidade ou ver os netos do “seu Luiz”. Cedo acordávamos, não queríamos perder nada, queríamos ver tudo aquilo que a fazenda nos proporcionava, desde o apartar do gado, leia-se, separar o gado leiteiro dos que eram provisoriamente improdutivos e dos bois, até o colher do feijão. Observávamos curiosos tudo o que se passava, eu sempre medroso, ficava sempre a observar fora do curral, como se tirava leite da vaca, meu irmão e nossos amigos sempre entravam e ousavam pegar nas tetas das vacas e tirar o leite, cheguei até a tomar o leite bem quentinho, mas logo após me foi dando um nojo e nunca mais tomei. Após esse ritual íamos tomar o café da manhã, após o café queríamos fazer algo, tínhamos duas opções, acompanhar os vaqueiros a cortar a palma colher feijão ou tomar banho no riacho, a segunda era a melhor, mas meu avô nunca deixava, queria que agente estivesse sempre acompanhado de um adulto, mas na verdade o trauma persistia, o falecimento de meu tio mais velho afogado no Rio São Francisco onde o corpo só foi encontrado mais de um mês depois, mas o que nos deixava excitados era justamente a desobediência, dizíamos que ia pescar ou que íamos atirar nos pássaros com o estilingue e íamos em direção ao riacho, divertíamos horrores mas depois sempre tínhamos que ficar com as roupas estendidas na grama para secar o mais rápido possível para poder retornar.
Almoçávamos e logo após tirávamos um cochilo, à tardezinha a nossa diversão era pedir aos vaqueiros para selar o cavalo e saíamos disparados pela vizinhança a fora explorando aquelas terras.
Por: Alisson Meneses de Sá
Bruscamente ao me despedir me vêm à lembrança subitamente de quanto tempo já vivi ao lado daquele homem, já marcado pela velhice e pelos seus problemas de saúde que impossibilita de aplicar seu vigorosos truques masculinos, pelo menos ainda mexe com as meninas que se atrevem a lhe dar ousadia. Símbolo de trabalho, responsabilidade, dignidade e honestidade.
Dentre muitos momentos de acolhimento paterno que ele sempre nos dava, lembro-me de minha infância, por volta dos 11, 12 anos de idade, eu, meu irmão e alguns amigos da vizinhança sempre passavam nossas férias do mês de julho na fazenda que ele possuía, a localização das terras não pertencia a Itabi, cidade na qual sou criado, já fazia parte do município de Gararu, cidade vizinha. Sempre nossas férias de julho eram na fazenda e as de janeiro eram na capital, esse ritual se dá até os 14 anos quando termino o ensino fundamental em Itabi e venho concluir o ensino médio em Aracaju, já que isso era tradição em toda família, colocar seus filhos para estudar fora, pois o ensino era precário.
A fazenda era perfeita, as terras nunca foram exploradas por completo para nos que ousávamos a nos aventurar nelas. A casa ficava no alto, dela dava pra ver toda a extensão da fazenda e dava pra verificar tudo o que acontecia no que movia a fazenda, a vista era ampla de todos os lados a casa era cercada por uma cerca de arame farpado e dentro seus cômodos eram dois quartos um com duas camas de solteiros e a outra de casal, uma cozinha enorme e duas salas bastante ampla e arejada, nas salas e nos quartos tinham vários cabides de armar rede, este era a habitual forma de dormir de meu avô, enquanto nos sempre dormíamos nos quartos. Bem distante da casa logo abaixo existia um curral, um depósito de alimentos e uma fábrica de queijo, ali próximo tinha uma casa, essa casa foi a primeira que meu avô morou logo que comprou a fazenda, por volta do início da década de 80.
O que de fato movia a fazenda eram os gados, centenas de cabeça de gato, outros animais também eram criados como cabras e galinhas. No plantio lembro-me do cultivo do feijão do milho e já no final da palma que alimentava os gados.
O que de fato nos impulsionava a sempre ir com meu avô para fazenda era o que a geografia do local nos proporcionava. A fazenda era delimitada por riachos enormes que tinham como afluente o Rio São Francisco, aliás, eram vários riachos, mas só um nos divertia, era o único que nunca secava os demais eu jamais os vi cheio.
Passávamos por volta de 15 dias, sempre voltando as sextas e retornávamos no sábado após a feira na cidade, meu avô tinha negócios a tratar na feira, coisa de pecuarista. Antes de terminar as aulas, meu avô sempre nos alertava em comprar o nosso material de divertimento, o anzol de pescar e o estilingue, era tudo perfeito, arrumávamos nossas mochilas e ficávamos ansiosos, esperando meu avô chegar na porta da nossa casa com um jipe amarelo.
Acompanhávamos todos os afazeres dos vaqueiros que meu avô possuía, um deles era um filho que meu avô tivera numa relação extraconjugal e que morava na casa de baixo com sua mulher e sua filha. Assim que chegávamos no sábado à tarde depois de uma viagem estressante, mais de 1 hora numa estrada de barro, chegávamos e logo, logo arrumávamos nossas roupas e começávamos a planejar nossas traquinagens, à noite chegava, o silêncio tomava conta, não tinha energia, com isso a luz existente era do lampião que meu avô logo ligava, para nos descontrair daquele tédio vigente à noite meu avô comprou uma TV portátil, bem pequenina que era TV e rádio, somente assistíamos a novela das 7 e o telejornal, depois tínhamos que desligar pois a TV era a bateria. Sempre alguns vizinhos se chegavam à noite para conversar, pegar alguma encomenda da cidade ou ver os netos do “seu Luiz”. Cedo acordávamos, não queríamos perder nada, queríamos ver tudo aquilo que a fazenda nos proporcionava, desde o apartar do gado, leia-se, separar o gado leiteiro dos que eram provisoriamente improdutivos e dos bois, até o colher do feijão. Observávamos curiosos tudo o que se passava, eu sempre medroso, ficava sempre a observar fora do curral, como se tirava leite da vaca, meu irmão e nossos amigos sempre entravam e ousavam pegar nas tetas das vacas e tirar o leite, cheguei até a tomar o leite bem quentinho, mas logo após me foi dando um nojo e nunca mais tomei. Após esse ritual íamos tomar o café da manhã, após o café queríamos fazer algo, tínhamos duas opções, acompanhar os vaqueiros a cortar a palma colher feijão ou tomar banho no riacho, a segunda era a melhor, mas meu avô nunca deixava, queria que agente estivesse sempre acompanhado de um adulto, mas na verdade o trauma persistia, o falecimento de meu tio mais velho afogado no Rio São Francisco onde o corpo só foi encontrado mais de um mês depois, mas o que nos deixava excitados era justamente a desobediência, dizíamos que ia pescar ou que íamos atirar nos pássaros com o estilingue e íamos em direção ao riacho, divertíamos horrores mas depois sempre tínhamos que ficar com as roupas estendidas na grama para secar o mais rápido possível para poder retornar.
Almoçávamos e logo após tirávamos um cochilo, à tardezinha a nossa diversão era pedir aos vaqueiros para selar o cavalo e saíamos disparados pela vizinhança a fora explorando aquelas terras.
Por: Alisson Meneses de Sá
Um comentário:
Lindíssimo texto,na minha opnião o melhor que já vi nesse blog pq acho que vc tem uns engavetados!rsrsrsrs.Me faz recordar da minha que não foi tão diferente hehe!!
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