sexta-feira, 11 de julho de 2008

DESCONSTRUÇÃO SEGUNDO CLARICE LISPECTOR

Era algo que não se explica assim facilmente, era uma desconstrução pessoal, algo que de fato incomodava e que não era perceptível a olho nu, somente poderia ser notado quando algo de constrangedor viesse a calhar e de fato veio, assim pude entrar no meu universo introspectivo e fazer severas avaliações não no quesito de mudanças de personalidades, coisa que eu abomino e que pra isso é necessário um processo longo, mas de observações relativa a comportamentos. Em meio a essa auto-análise que o meu EU anda fazendo o que não é proposital, me vejo debruçado sobre as análises comportamentais de Clarice Lispector na obra A Paixão Segundo G.H., obra esta que tempos atrás eu me atrevi a ler, mas por várias circunstâncias, inclusive a leitura rebuscada, talvez fosse essa a principal razão, abandonei, deixei para uma ocasião mais propícia. Nesse momento toda a leitura me parece particular, me vejo completamente como G.H., sendo minuciosamente desconstruído em seus diálogos introspectivos, me vi literalmente naquela mulher que após matar uma barata começa a analisar tudo a sua volta de maneira inteligentemente diferente. A sensação é a pior possível, é como se tudo aquilo que foi construído no passado não mais valesse a pena, é como se tudo simplesmente tivessem sido evaporado e só restado àquela sensação de perda. Daí pensei comigo, se tudo isso me causa constrangimento e mal estar, porque eu teria que permanecer naquilo que me deixa absurdamente burro. É um processo gradativo, hoje repenso isso e evito aquilo, amanhã posso pensar em outra coisa e evitar as demais. Dentre os vários e vários trechos da obra de Clarice Lispector me deparei, aliás, me encontrei no que descrevo a seguir:
“Ah, em mim toda está doendo largar o que era o mundo. Largar é uma atitude tão áspera e agressiva que a pessoa que abrisse a boca para falar em largar deveria ser presa e mantida incomunicável – eu mesma prefiro me considerar temporariamente fora de mim, a ter a coragem de achar que tudo isso é verdade” (Clarice Lispector. A Paixão Segundo G.H.).

Por: Alisson Meneses de Sá

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