quarta-feira, 16 de julho de 2008

CRÔNICA: ESTOU ENAMORADO


De fato o tempo chegou, pois quanto mais eu achava que não era essa a minha hora, surpreendentemente me vi completamente envolvido pela situação posta em voga, fui arrebatado num só único solavanco inesperado, foi como se uma violenta onda de mar tivesse me dado um caldo quando eu admirava o oceano infinito. Nossa relação de amor começou assim do nada, como se o nada quisesse acontecer, foi se desenhando vagarosamente, despretensioso, com ar de pura petulância por nos acharmos preparados para o desalento. Começou nas noites e no entendimento da complexidade daquele ser tão introspectivo, o tempo passou e nos vimos um entregue na cumplicidade do outro, estamos sordidamente entregues numa relação inescrupulosa e cheio de ais e uis, o meu respirar a instiga e seu querer me impulsiona. Não mais passo uma noite sozinho na vasta escuridão de desalento e medo, terei eternamente sua companhia, nem que seja somente para sentir que está ali ao meu lado, mas nada pode fazer para me defender. Meu dia sempre se inicia com um beijo nela, ainda com hálito desagradável e a voz grossa, sinto-me mais confortável quando me debruço no seu corpo e ali começo a decifrar todos os segredos que tens ainda guardado, talvez seja essa a minha contínua paixão, desvendar os segredos que ainda carregas dentro de si. Nossa relação é de extrema possessividade e ciúmes bobos, fico a imaginar ela nas mãos de outras pessoas, meu coração acelera e fico a imaginar loucuras, quero-a para sempre, completamente, quero-a sempre inteira e ali, sempre a minha disposição, para saciar todas as minhas vontades, desde as mais inocentes as mais imundas que possam povoar o imaginário de um ser, quero fazer sexo selvagem com ela nas horas mais imprópria do dia, quero tê-la despida na cozinha, na sala de jantar, na sala de visita, no banheiro e na minha cama de solteiro, quero poder sentir o gosto de canela na boca e respirar fundo nos seus ouvidos desejando-a mais e mais, quero senti-la por dentro e vagar nos seus órgãos como um animal ávido e ali depositar o meu sêmen seco. Sempre desejei alguém nesse perfeito formato, sem futilidades mentais, que produtivamente me contasse seu dia como se escrevesse um romance, que ouvisse sem dar opinião sobre o que penso, mas que sempre ta ali pra me acalentar, que intelectualmente pudéssemos sentar-nos à mesa pra discutir seguidamente sobre as razões humanas, não suportaria ouvir os constantes eu te amo irracionais, necessito de algo mais rico para minhas idéias, necessito de mais palavras, talvez seja esse meu completo entregar, esperando meu enriquecimento introspectivo. Estou enamorado do que a arte chama de literatura e de que a literatura chama de sangue, estou inteiramente entregue aos sussurros das palavras que Clarice Lispector deposita nos seus mais variados textos, integralmente sou um servo da sua sabedoria.

Por: Alisson Meneses de Sá

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