terça-feira, 18 de março de 2008

TERÇA RETRÔ EM: ARACAJU SITIADA

Prestando aqui uma pequena homenagem à cidade de Aracaju que completou ontem 153 anos de existência e dando início com isso as terças retrô que tem como norte expor de forma enfática e pessoal fatos de cunho histórico. Nessa perspectiva trazemos à tona um fato que mostrou Aracaju, no âmbito internacional, em meio à segunda guerra mundial, posicionando o Brasil no conflito de forma incisiva e marcante para todos que viram e viveram na Aracaju uma vez sitiada.

Vamos nos imaginar moradores da cidade de Aracaju da década de 40, especificamente morando numas das ruas localizada no centro da cidade, como por exemplo, a Rua Estância, como a da foto acima, haja vista, que os bairros mais longínquos do centro ainda estão em estado de bastante precariedade, bairros esses hoje conhecidos como Santos Dumont, Siqueira Campos. Imaginemos tais condições para termos a nítida impressão do que passou a população aracajuana quando eclodiu uma revolta popular para que o presidente da república, na época Getúlio Vargas, instaurando o Estado Novo, tomasse um posicionamento na Segunda Guerra Mundial.
Vivemos numa cidade pouco evoluída, faltando em muitas ruas, calçamento, luz elétrica e água, se agravando ainda mais do centro para a periferia, onde a cidade era conhecida como a “cidade da palha” por conta do grande número de casas que ainda eram construídas de forma arcaica, com palhas ao invés de telhado. Os jornais que habitualmente acompanhamos, por sua vez, fazem severas críticas ao tal desenvolvimento que parece não querer chegar aqui, constantemente mencionando os atos heróicos de Fausto Cardoso quando fez um levante na praça, que hoje leva seu nome, em meados de 1906, indignado com situação precária da cidade, comparada com as demais do país; além disso, os jornais criticavam também o comportamento dos pedestres e noticiavam além dos fatos políticos nacionais o acompanhamento da segunda guerra na Europa.

Até aqui parece que tudo estava tranqüilo, como na verdade era a cidade de Aracaju em meados da década de 40, como mostra a foto acima. Mas além dessa situação exposta algo mais incomodava a população não só aracajuana, mas como de todo estado de Sergipe, pois, por conta da guerra na Europa o tráfego marítimo foi obstruído e como a maioria dos produtos alimentícios vinham do sul, conseqüentemente os produtos eram escassos e quando existiam tinha um valor pouco condizendo com a realidade da população, a parti daí percebemos grande problemas sociais que se desenvolvia particularmente na capital, onde fica nítida o grande número de assaltos existente à noite às casas da famílias mais abastadas. Além de conduzir alimentos os navios também eram um dos meios de transporte mais usado naquela época. Em Aracaju a ponte do Lima era onde as famílias se aglomeravam para esperar seus familiares que vinham do sul e as moças mais afoitas se exibiam para os marinheiros que aqui aportavam.

Esperávamos em 16 de agosto de 1942 uma embarcação que vinha da Bahia e as notícias que corre de esquina em esquina e que algo de estranho tinha acontecido no litoral, às notícias chegavam através de curiosos que ficavam pelas ruas a investigar o que realmente tivera ocorrido no mar, nada agradável nos chegava, não tínhamos ainda a noção de que submarinos alemães estavam por trás do naufrágio que ocorrera com o navio Aníbal Benévolo na noite do dia 16 de agosto, mas sobreviventes do naufrágio confirmaram que de fato submarinos submergiam da água e metralharam o navio. Recebíamos notícias de que pessoas ainda lutavam no mar pra sobreviver, dentre eles existiam homens, mulheres e crianças, mas a maioria dos sobreviventes foram tripulantes que trabalhavam na embarcação. Na cidade a população ouvia os comentários do torpedeamento e se revoltavam contra o ataque, se sentindo desprotegidos, inseguros e ameaçados, contando somente com a sorte, vários grupos de estudantes se mobilizavam nas praças saindo em passeatas gritando por uma participação mais ativa do governo federal no tocante a tragédia ocorrida. A sociedade em nada estava preparada com todo o reboliço que se deu na cidade um tanto quanto pacata, o medo estava expresso nas faces dos populares, era o medo de ser subitamente invadida pelos invasores alemães, era o medo de ser bombardeados pela força armada pouco conhecida dos aracajuanos que mal tinham visto falar sobre ataques submarinos, sem falar na indignação de saber que corpos fuzilados boiavam no mar. A sociedade se impôs diante de todas essas ocorrências esperando uma ação imediata do governo de Getúlio Vargas que até então se mantinha neutro. Após a participação do Brasil na II Guerra a sociedade aracajuana teve que se adaptar a esse medo latente e se imbuiu de formatos de salvaguarda em toda a cidade, moldando toda população para um possível ataque alemão, de fato a cidadã estava toda tomada pelo espírito de guerra. Ademais, decorrer sobre o que se transformou a cidade de Aracaju quando da entrada do país na guerra, rende mais uma terça retrô.

Por: Alisson Meneses de Sá

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