terça-feira, 14 de outubro de 2008

NO MEIO DO TEMPO

Parte II

O homem civilizado possui plenas condições para escolher em que meio pretende viver, criar raízes e ali frutificar, de acordo com suas condições e normas de vivência no seu meio estabelecido. O homem remodela o seu meio e conseqüentemente ou futuramente o de sua comunidade.

Após os primeiros contatos com o que seria o mais primitivo da vivência humana, resolvemos nos aventurar, sair daquela casa localizada no meio do nada e irmos no povoado mais próximo. Dos três ali aventureiros somente um tinha já conhecimento da região, bem como de mato e de prováveis caminhos que poderíamos percorrer. Apostamos no caminho mais curto, o que não poderíamos esperar era que esse atalho nos fosse mais arriscado do que o caminho normal e mais longo. Seguindo um riacho que deveria está seco, chegaríamos ao povoado em dois tempos. Começamos caminhando pelo encostamento do riacho que não estava completamente seco, a terra estava molhada e fofa, o medo do escuro confrontado com as duas lanternas se misturaram com o medo de atolar os pés naquela lama preta. Quanto mais seguíamos o percurso do riacho mais percebíamos que o risco de atolar o pé era certo, quando de repente o do meio enfiou o pé onde não devia, tendo seu pé e parte da perna submersa na lama preta, o desespero era tanto que misturávamos com a graça eminente e ríamos. A lama tinha prendido o calçado, cuidadosamente a perna era puxada para que o calçado também viesse e assim darmos continuidade na nossa jornada. Demoramos, mas cuidadosamente retiramos o pé, o cheiro que perdurou no pé do rapaz do meio não era nada agradável. Em seguida nos vimos em meio a uma resolução, continuar por outro atalho ou voltar pro caminho normal e mais demorado. Mais uma vez resolvemos pegar outro atalho que era subindo uma elevação, coberta de mato quase fechado, passando assim por diversas divisões de pastos de arame farpado. O escuro já não era mais assustador, focalizávamos nossos medos no que poderia existir de bicho dentro daquele mato escuro. À mente vinha cobras, aranhas, raposas etc, esquecemos de tudo o que mais desejávamos que era chegar na esperada estrada que nos conduziria ao povoado. O mato em nada ajudava. O mais velho como era conhecedor da vida rural seguia na frente conduzindo os demais, o do meio ficou por último por conta da lama que ficou no calçado, atrasando sua subida, o mais novo ficou no meio ajudando o último no afastar do mato e foi nessa de afastar que ele enfiou a mão numa planta espinhosa, enchendo seus dedos de pequeninos espinhos. O arrependimento era perceptível na face, mas já estavam ali e deveriam seguir o caminho. O cansaço era notado na respiração ofegante. Atravessamos alguns arames farpados e logo chegamos na estrada que dava acesso aos povoado. Ouvíamos o latir dos cachorros, onde nos aproximávamos do povoado, a cada passo que dávamos mais era nítido o latir quanto a quantidade. Era comum em cada residência possuir um ou mais de um canino para assegurar a vigilância das residências. Adentramos no povoado, as casas pareciam ser abandonadas, não ouvíamos nenhuma voz humana e nenhum movimento, somente o latir dos cachorros. Seguimos em direção ao centro e a cada passo dado verificávamos que o povoado estava deserto. A frustração tomou conta das faces dos três. Somente um velho caminhava assustadoramente pelas ruas, ele era gordo, caminhava com dificuldade, arrastando uma perna e sustentando seu corpo com uma moleta. O senhor gordo e barbudo se aproximou dos três, sorriu e passou adiante. Resolvemos voltar, o imaginado não foi concretizado. A ficha caiu, a população rural pouco tem lazer, trabalham geralmente de domingo a domingo, somente alguns proprietários se dão ao luxo de relaxar num domingo. A nossa volta foi sem dúvida pelo caminho mais distante, não estávamos em condições de nos aventurar naquela noite exaustiva, mas compensadora no sentido de transferir o estresse habitual para o nosso próprio conhecimento, dando ciência aos nossos medos e anseios. Tudo foi válido e num divertido retorno não percebemos o quão distante era aquela estrada.

Continuação na parte III.

Por: Alisson Meneses de Sá

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