Jamais espere ver na tela do cinema a perfeição da obra, digo isso quando a película for baseada numa obra literária, pois nossa mente é capaz de captar diversas situações que o diretor de um filme jamais seria capaz de imaginar, com toda sua fertilidade imaginativa. Assim é o filme “Ensaio sobre a cegueira”, baseado no livro do mesmo nome tendo como escritor, o português José Saramago, ganhador do prêmio Nobel de literatura. Daí pode-se observar a sua relevância e a responsabilidade que o diretor do filme teve em produzir a história. Na verdade o filme tem como único foco discutir o ditado que diz: “em terra de cego quem tem olho é rei”, mostrando uma outra concepção de dominação, onde a visão as vezes não vale de nada quando o sentimento é mais relevante e toma proporções indiscutíveis. Sem dúvida o filme foi muito bem trabalhado no sentido de não expor o quanto selvagem o homem torna quando o medo do amanhã é algo latente e a sobrevivência do meio é algo imediato, desfazendo assim de toda uma estrutura sedimentada, é a discussão dos princípios mediante as situações de sobrevivência. O tempo de José Saramago é algo atemporal, ou seja indefinido, já o tempo do filme é contemporâneo, o que na verdade seria impossível pro diretor do filme trabalhar sem expor um determinado tempo, haja vista que na obra literária a imaginação monta toda estrutura temporal já as imagens cinematográficas precisam de algo mais consistente para se trabalhar. O diretor nesse ponto foi extremamente sábio quando deixou indefinida a localidade da ação onde as cenas são desenvolvidas, podendo ser aqui próximo, numa outra região do nosso país, como pode ser num longínquo país além mar. Os cortes pra quem leu o livro são claros, especialmente na cena de estupro coletivo, no livro ele é mais bem destrinchado, mais cruel, mais doloroso pro leitor, sem contar as relações pessoais que se desenvolvem dentro do hospital em que todos os cegos estão trancafiados. As cenas perfeitamente são encaixadas ludicamente, no sentido de preencher uma lacuna aberta, porque parece que o imaginativo não supri tal necessidade, somente vendo pra crer naquela realidade, é assim que o filme é pra quem esteve debruçado na obra literária de Saramago. Por fim na obra ela, a protagonista da história, após todos perceberem que estavam voltando a enxergar e ela fazendo o mesmo percurso que o filme mostra, seguindo em direção a sacada do seu apartamento, não consegue enxergar mais nada a sua frente, seguindo o mesmo processo do início da cegueira dos demais, tendo a sua frente um mar branco, como se fosse leite. Já no filme ela deseja não mais enxergar o que o diretor não deixa acontecer, subentendo no final do filme um final feliz pra todos.
Por: Alisson Meneses de Sá
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