segunda-feira, 13 de outubro de 2008

NO MEIO DO TEMPO

Parte I

Pegamos nossas sacolas, arrumamos dentro dela o que era mais necessário extremamente o necessário para sobreviver por dois dias em meio ao nada. Já no caminho percebíamos como já seria esses dias. Olhava para um lado e só enxergávamos uma vastidão de terra inabitada, com raras exceções, algumas casas de luzes já acessas, olhávamos mais tarde para outro lado e víamos à noite já chegando e tomando contornos de completa escuridão no nada. A casa era rústica, do tempo em que tijolo e cimento pertencia somente às famílias abastadas, onde podemos verificar que não era o caso da família que viveu naquela casa, a casa era toda de taipa com resquícios de modernidade somente na eletricidade e na geladeira que ali estava, pois até o banho e as demais necessidades tinham que ser feito ao ar livre, na total liberdade de um ser humano. A casa tinha uma sala, possuindo nela uma cama de solteiro, uma rede desarmada e no canto uma quantidade enorme de feijão ainda em estado primitivo, podendo perceber que na terra onde estava localizada àquela casa existia plantações de feijão. Seguindo o corredor encontramos o único quarto da casa com uma cama de casal completamente forrada e com seus lençóis limpos, na sala seguinte nos deparamos com uma mesa, uma geladeira, uma dispensa e um rádio, em cima da mesa, em estado precário, mas que nos distraiu por alguns instantes durante todos aqueles dias. No compartimento seguinte, sempre em descida, encontramos o local reservado para o fogão, de lenha vale ressaltar e alguns potes para reserva de água filtrada. O chão era de barro batido.

Queríamos fugir da movimentação rotineira da cidade que já não nos oferecia nenhum enriquecimento intelectual imediato, assim resolvemos arriscar no inusitado, na aventura talvez, era o desejo latente de sair do trivial e desviar todo àquele estresse para algo mais natural, chegando quem sabe ao estado mais primitivo do homem, colhendo seu próprio alimento, dominando o fogo e com essa junção tornando-se um ser pensante, capacitado para viver em meio à diversidade natural.

O primeiro impacto percebível ao se instalar na casa foi notar o afastamento completo de qualquer contato com a civilização populacional, parecíamos que tínhamos nos afastado do planeta e qualquer urgência necessária teríamos que percorrer a pé quilômetros e quilômetro de distância, preferimos não focalizar nos pensamentos negativos, respaldados nessa perspectiva de completo afastamento do contato civilizatório, também percebemos que ali nada saberíamos do que acontecia no mundo, em caso de guerra que o país declarasse a alguma nação, seríamos obviamente os últimos a ser informados, notabilizando com isso a contraversão do nosso cotidiano.

Não demorou muito para que nós nos lançássemos numa aventura pra sair daquele marasmo repentinamente instalado. Após o jantar resolvemos que daríamos a graça no povoado mais próximo da casa, necessitávamos ter o mínimo de noção possível da cultura estabelecida naquela região, analisamos que sendo aquele dia um sábado e que como qualquer outra civilização mais evoluída, existiria alguma concentração humana, fosse na rua, nas praças, inclusive nos bares daquele povoamento, enfim era uma forma de dessestressar da cansativa semana de lavoura que os habitantes deveriam desfrutar. Mas antes de sair para a aventura, em meio à escuridão da noite tivemos uma missão, já pensando no dia seguinte quanto à nossa alimentação, era o descascar o feijão, sentamos e só paramos após a exaustão dos dedos já avermelhados, pois tínhamos que forçar a casca para que os caroços do feijão saíssem, a quantidade não era suficiente, haja vista as visitas confirmadas para almoçarem conosco no dia seguinte. A princípio estávamos em três, os únicos que resolveram arriscar nessa aventura inusitada. O mais velho já era conhecedor da região, já tivera habitado noutra casa ali próximo por alguns meses; o do meio, na escala etária, era extremamente cosmopolita, mas se adaptava a todo ambiente que lhe fosse oferecido, mas na sua essência possuía um pé no ruralismo por conta dos seus tempos de infância, nas férias passada na fazenda do seu avô; o mais novo vivia das novidades da metrópole ao completo modo primitivo, completamente adaptável. Harmoniosamente sobrevivíamos aos dois dias no meio daquele mato, não mais selvagem.

Seguem na segunda parte as aventuras desse trio de aventureiros na trilha do meio do tempo.


Por: Alisson Meneses de Sá

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