sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O CURRAL


Eis que o dia chega e tenho que cumprir uma missão. Dia 02 de outubro, ensaio na sala 18 do bloco F, inicio meu ensaio e não consigo recitar a tal poesia há dois dias ensaiada, o nervosismo toma conta da situação, a professora logo reprova minha atuação e logo fico mais nervoso do que estava, mas consigo mudar o clima, dizendo que aquilo pra mim era tranqüilo, estava por demais meloso e demorado, ela desejava algo nem muito rápido nem muito longo... Quarenta minutos antes de vir à tona a situação já esperada, sinto pronto e preparado pra apresentar.
Teatro lotado, gente saindo pela tangente, o nervosismo assim voltou a me povoar e aquelas mentes saudáveis ou talvez doentias estavam com os olhos obviamente voltados para aquele palco horrendo e eu ali sentado na primeira fila aguardando a hora de subir e fazer jus ao papel na qual fui atribuído.
Logo minha vez chega, subi aqueles degraus ouvindo um zum-zum, acreditei que fosse alguém da minha turma que ali tirava alguma brincadeira a meu respeito e as pessoas cochichavam. Parei no centro daquele palco, atrás personagens históricas da literatura sergipana, à frente seres hediondos... E assim foi... O poema fala do CEASA que antes era um curral... A poesia ficou melhor do que o esperado... por mim!!!!

São pequeninas casas espremidas
Num inconsciente abraço de miséria
É de saber que foram construídas
Por centenas de braços cadavéricos
E mentes doentes
Tanto assim que o curral vive agachado
Numa faixa de terra doentia
E a noite aquelas casas decadentes
São como um batalhão de seres hediondos
Vestindo a farda suja da fome

O “Beco do Veneno” no “Curral”
E uma rua povoada de gemidos
Como um monstro horrendo
Não é uma rua de mestiços
Nem de pretos
Nem de pobres
É uma rua dos miseráveis
Dos aleijados de doenças
Dos que um dia enlouqueceram
E divertiram a cidade
Vieram depois
Pelos braços de um mendigo generoso

No Curral quem não pode caminhar
Vive agachado no batente
E aos que passam por acaso
Erguem a mão de dedos de gravetos
No calado grito de socorro
Perdem depois o movimento
Ficam como cadáveres

O Curral é o cemitério dos vivos

José Sampaio

Por: Alisson Meneses

Nenhum comentário: