quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

PERSONAGENS DE UMA TRAGÉDIA

Tudo aconteceu num dia de inverno comum do sertão nordestino, onde o sol do dia se faz presença constante dos labutadores da terra e do abafado calor das repartições públicas, numa calmaria até irritante. Suas noites se contrastavam com seus dias, sempre acobertados por agasalhos consistentes e seu silêncio interrompido pelo canto do sapo e pelo apelo do grilo. Estavam o dia e a noite em conflito conjugal naquela cidadezinha de pouco mais de cinco mil habitantes. Feneciam com estados comportamentais sempre divergentes, talvez fosse aquele lugarejo o palco do desamor e da tragédia natural.

Capitu, 33 anos, professora municipal, possui como característica seu raciocínio lento e sua obsessão pela futilidade. Helena, 30 anos, professora municipal, engajada na luta da classe educacional, mostra-se sempre com disposição política, seu maior desejo é manter-se incólume num relacionamento. Ceci, 26 anos, professora contratada, com residência fixa na capital e viagem semanal pro interior, a polida. Iracema, 25 anos, desempregada, sustentada pela pensão que a avó recebe, na qual a criou desde nova, quando de forma involuntária fora abandonada pela mãe, sua característica marcante são seus relacionamentos. Macabéia, 22 anos, comerciante, ajuda sua mãe no gerenciamento de um mercadinho e de uma padaria, seu maior objetivo é viver.

As personagens acima se tornam personagens principais, quando tentam usar de subterfúgio comuns para assim modificar os seus respectivos hábitos de seres esquecidos do mundo, escapulindo do marasmo do dia-a-dia da cidadezinha de interior que nada tem a oferecer culturalmente aos seus cidadãos heterodoxos, trancafiados nas jaulas televisas como forma de entreter os seus, em muitos, ávidos por acontecimentos incomuns onde consequentemente seriam emitidos comentários nem um pouco introspectivos, mas herméticos e radicais, dotados da única razão, a sua própria. Julgar a mulher infiel, apontar o efeminado como anormais, ridicularizar o doente mental, dar versões às brigas de vizinhos, rejeitar a adolescente deflorada, questionar o rápido enriquecimento do outro, faz parte da cultura antropológica dos que fazem uma comunidade.

Foi uma terça-feira insólita que marcou a história dessas cinco personagens, Capitu, Helena, Ceci, Iracema e Macabéia, todas residente na mesma e parada cidadezinha do nordeste brasileiro. Costumeiramente após ás 19:00h se encontravam na praça de cima, local aberto e extremamente frio, se encontravam após executarem seus trabalhos, no caso de Iracema, depois do nada. Encontravam-se pra conversarem sobre as amenidades da vida, se lamentando, outras se vangloriando, enfim, seguiam os passos do cotidiano pensante da cidade. Eram as cincos conhecidas por serem mulheres despojadas e independentes, abafavam comentários ali outro acolá, e assim seguiam vivendo. Naquela noite elas desejavam algo incomum, almejavam sair daquele marasmo diário e repugnante que as afligia num todo. Ceci tinha como conseguir a chave do sítio que a família possuía afastada pouquíssimos quilômetros da cidade. Capitu, desejosa por um divertimento mais intimista se lançou na idéia de todas ali reunidas convidarem alguns amigos para se divertirem, afastado da cidade, assim minimizaria os comentários jocosos do dia seguinte. Iracema que tinha já um namorado, de índole um tanto quanto duvidoso, achou por bem convida-lo e assim convidar seus amigos a fazerem companhia. Comprariam bebidas, salgados. Macabéia se responsabilizaria pelo baralho. Capitu pelo transporte até o sítio. Helena pelas bebidas. Ceci pelo sítio. Iracema pelos convidados.

O jogo de trinta e um, envolto numa mesa, pois além das cinco, mais sete rapazes, bebiam e fumavam ao som desses forrós midiáticos, conhecido como eletrônicos. Bebiam uma dose caprichada de vodca seca quem ultrapassasse o número de trinta e um. Todos se divertiam normalmente, despreocupados com o amanhã, se seriam ou não alvos de comentários tortos ou não, inclusive sobre elas, que se faziam acompanhar por rapazes, pertencentes à arraia miúda daquela cidade provinciana. Por volta de 01:00h já da quarta-feira, após todas as garrafas de vodca secarem e todos salgados perecerem, todos resolveram retornar pra cidade. A estrada deserta, tendo somente e unicamente a lua minguante como testemunha, todos voltavam, ainda sob a algazarra do álcool. Iracema, ainda de beijos e abraços com seu namorado tácito. Helena se fazia acompanhar por um rapaz, caminhavam afastados de todos, assim como Ceci que seguiu na frente.

Quarta-feira, a cidade parecia não ter digerido bem o café da manhã, os populares com expressão de ânsia de vômito. O inesperado parecia acontecer de forma trágica. A cidade lamentava, mas gostava de sentir o gosto do trágico. Mal saberia as cinco o que lhes aguardava. De bar em bar, de esquina em esquina, de beata em beata, de boca em boca o assunto era o assassinato truculento de Medeia. Seu corpo fora encontrado completamente desconfigurado, por atos de extrema selvageria, como se fosse vítima de um ritual diabólico, com marcas de queimaduras e órgãos extirpados. Medeia era uma mulher de seus 50 anos, sempre viveu sozinha e nunca chegaria a casar. Jocosamente era conhecida como moça-velha. Pouco se sabia da vida dela, pois não se fazia ser amiga das pessoas, preferia o silêncio. Seu corpo fora encontrado pelo vigia da cidade que percebeu fumaça saindo de sua humilde casa e fora esse mesmo vigia quem desvendou o mistério do crime. Alguns rapazes perambulavam pela rua, tarde da madrugada, nas imediações da casa de Medeia. Diadorim foi preso, assumindo toda a culpa. Era ele o namorado de Iracema. Usuário de drogas. Mantinha um relacionamento duplo. Iracema e Medeia. Matou Medeia para se livrar das cobranças vexatórias que passava constantemente por uma quantia que devia a vítima. Achava-se herói do terror, o espelho da perversidade incorporada no ser humano.

Foram elas que financiaram o crime. Elas estão envolvidas. Era Ceci que ia morrer. Estava com dólares do bolso. Eu já sabia que ia acontecer essa tragédia. Elas são umas perdidas e imorais. São todas usuárias de drogas. Financiam droga na cidade. Eles pretendiam executar todas as professoras. Macabéia era vítima, ela esbanjava dinheiro. Era o que se ouvia na rua e chegava com bastante facilidade aos ouvidos das cincos, e mais, o que as aterrorizava, seus familiares eram atingidos como alvo certeiros de uma guerra civil. Desejavam poder apagar aquela noite com uma borracha, mas tornava-se diariamente uma missão impossível. Sentiam-se acuadas pelos constantes interrogatórios dos populares revestidos pelo poder de polícia que normalmente são atribuídos. Pareciam estar passando diariamente por aprovações e a tônica do suportar era não se deixar abater, naturalmente conduziam suas vidas, trabalhando, conversando, se divertindo pra não se deixar abater, não desejavam ser passivamente acusados, desejavam que logo a verdade viesse à tona.

Medeia morta. Diadorim preso na capital. Iracema ou por vergonha ou por outro motivo indizível se afastou das quatros. Capitu se transformou em dona de casa, zelosa, respeitadora dos princípios que foram impostos dentro de casa. Macabéia, após discussão com sua mãe foi enviada para capital a contragosto. Ceci não mais foi a mesma, passou a pior noite de natal de sua vida. Helena viajou pra casa de sua irmã noutro estado por algum tempo. Ficaram Ceci, Capitu, Macabéia e Helenas mais próximas, apesar da distância pela qual foram submetidas. A cada acontecimento direcionado a uma, as demais se sentem no direito de defesa. Incorporaram-se numa única causa, mostrar que a união não só faz a força como expurga as energias negativas que foram emitidos, durante todos esses acontecimentos pela quadragenária agente de endemias, Glória e a balzaquiana professora infeliz, Vera, quem sabe, personagens próximas de alguma vilania.

Por: Alisson Meneses de Sá

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

PROPOSTA INDECOROSA

Fiquei imensamente constrangida com o convite indecente que me fizeram dias desses. Sou gordinha, para não dizer obesa, pois essa palavra pesa, e não me acho assim bonita, já tenho uma filha e me sinto extremamente responsável em assumi-la, apesar da minha pouca idade. Considero-me uma mulher resolvida sentimentalmente, haja vista os meus relacionamentos infundados e sempre fadados ao fracasso que mantive no passado. Não tenho a mínima vergonha em afirmar que adoro fazer sexo, há quem diga que sou uma ninfomaníaca, talvez até seja. O sexo é uma concepção divina e não podemos jamais descartar as oportunidades eu mesma abraço firmemente quando ela bate a minha porta. Tenho no meu sobrenome o Maia e por onda novelística alguns amigos deram pra me chamar de Maia, não exaltando meu sobrenome de origem portuguesa e sim a protagonista da novela das nove; fico irada quando sou chamada de Maia, se no mínimo tivesse um Barruam daqueles pra transar todos os dias, jamais me importaria, poderiam me chamar até de sapa do lago que não iria dar a menor importância, ora, estaria sendo saciada por um homem daquele. Enfim, fui convidada a ir pra uma festa de formatura, dessas chatíssimas que aguardamos só a hora dos comes e dos bebes, foi daí que conheci o ficante dessa minha amiga já quarentona, um adolescente de pouco mais de vinte anos que estava com um amigo menor de idade, os dois eram bem afeiçoados e o acerto era pra eu ficar com o de menor, não vi, por hora, nenhum problema, na verdade o problema estava nele que não me quis, talvez, aí vai à paranóia, por eu ser cheinha. Minha amiga que estava desejosa por um fim de noite regado a muito sexo, se lançou numa proposta indecorosa, ela queria me ver transar com o ficante dela, na condição de que ele me amarraria e faria o que ele bem imaginasse; tipo sexo selvagem com um vouyer. Eu já tinha entornado alguns copos de uísque na festa, estava me sentindo molinha quando ouço uma voz no meu ouvido:
- E aí Maia você topa ser comida?

Por: Alisson Meneses de Sá

CONVERSA SÉRIA

Num escritório, em meio a uma quantidade exorbitante de papeis.

- Você realmente não mais disfarça.
- O que é que você está falando, não estou compreendendo seu jeito agressivo para com minha pessoa.
- Ora! Como você consegue ser assim, tão fria e dissimulada, eu achei que tinha uma amiga, mas não.
- Mas eu sou sua amiga Eugênia, sempre serei, agora eu não estou lhe entendendo a sua forma rude de se dirigir a mim.
- Não, você é que ta calma demais Marta, você é muito fria, age como se nada ocorresse.
- Mas não está acontecendo nada comigo, a não ser que você sente nessa cadeira e comece a me explicar o que se passa de tão grave, daí talvez eu comece a me desesperar.
- Quanta tranqüilidade a sua.Você é extremamente interesseira e age como se tudo isso fosse comum.
- Que tipo de interesse é esse?
- Você só foi pro sítio no final de semana passada comigo porque sabia que seu namorado, ficante... sei lá mais o que, do Alfredo estava por lá.
- Não, você está enganada, ta certo que ele foi mais um motivo impulsionador...
- Pare! Pare por aí, não vem que não tem. Na sexta você tava num contentamento só, porque ele estava lá.
- Sim, estava e era pra ser diferente? Acho que não né?
- No sábado porque esse contentamento feneceu? Ele já tinha ido embora não é?
- Não sei, estava cansada.
- Você nem deu a mínima atenção a mim, fiquei lá, completamente sozinha. Você disse que ia beber água na cozinha e foi pro quarto dormir.
- Já disse, estava cansava.
- Te acho tão individualista e interesseira, porque se gosto de você como amiga lhe trato como tal.
- Eu te acho uma verdadeira amiga.
- Não acha mesmo, senão não se comportava assim, tão individualista.
- Paranóia de sua cabeça.
- Pois é, você não tá nem aí pros meus sentimentos.
- Não é bem assim, sempre conversamos.
- Eu que tenho que te ouvir.
- Não, não...
- Sim, sim, sim. Você só faz o que lhe convêm. Já eu penso no conjunto, tento agradar a todos me desfazendo de interesses próprios.
- Quanto drama Eugênia.
- Quanta ilusão Marta. Não se perca amiga, porque você está perdida, capaz de fazer loucuras por Alfredo, fico temerosa, sua mãe me disse que você se comporta como uma louca quando quer dinheiro pra sair com ele, quebra coisas dentro de casa. Mas se ele lhe faz feliz, quem sou eu pra impedir. Você agora só vive na base da vida dele. Surpreendeu-me dias desses quando você me chamou pra sair em plena quarta-feira à noite pra aquele barzinho da praça do meio, você não suportava sair pra beber durante a semana, no outro dia era certeira sua dor de cabeça. Quando cheguei lá foi que entendi o real motivo. Talvez Alfredo fosse pra lá com uns amigos. Senti-me como um animalzinho de estimação. Foi tão ridículo. Daí resolvi juntar tudo.
- Nossa você ficou tão ressentida, nunca imaginei que isso fosse deixá-la assim.
- Se fosse um caso isolado, você tenha a certeza que não ficaria ressentida. Mas pra você é como se entrasse por ouvido e saísse por outro.
- Amiga perdão, não tive essa intenção.
- Eu sei, mas me comportarei contigo de forma diferente.
- Não...
- Com o tempo você perceberá. Odeio me sentir usada. Já estamos conversadas. Passe-me esses arquivos, por favor.
- Eugênia, vamos ver um filme quarta-feira à noite?
- Pode ser.

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O CONVITE OU A FEIJOADA

- Eu só queria que recordassem de minha nobre existência sempre, não só em momentos de diversão ou no fulcro da solidão, pois penso e se penso logo existo. Não pretendo ficar de escanteio para as horas mais convenientes, como se fosse um brinquedo de estimação. Chamo-me Pedro Ávila, solteiro de nascimento e por opção. Casamento? só em outra vida. Fui preterido recentemente. Tranco-me no meu quarto escuro e lá fico só a escutar o barulho dos grilos, parece, não tenho tanta certeza, que só eles me ouvem e só eu os escuto. Eu deveria estar naquela feijoada do domingo passado. Porque eles não me convidaram? Será que sou tão desagradável e as pessoas não me aturam por muito tempo? Deve ser, outra justificativa não se tem. Esquecimento? Pouco provável. Não me acho um ser esquecível assim, a ponto de não ser convidado pro aniversário de Jairo no domingo. Pão-duro eu não sou, sempre contribuo financeiramente e se caso estiver duro, invento uma história comum e não me faço presente. O capucho/Centro hoje está demorando muito, deve ser àquela greve de operários no Monte de São Bernardo que bloqueou a avenida. E se tudo isso for uma aprovação por eu já ter feito o mesmo com alguém? Hum... Não me recordo se já exclui alguém da minha convivência. Excluir não, essa palavra pesa, quem sabe, me fiz esquecer propositalmente, essa ficou sonoramente audível. Quem sabe, não é o retorno. Esse cheiro me incomoda demais, num calor infernal alguém me ascende um cigarro, deve está pedindo um câncer de pulmão. Lá vem a condução, deve está lotado. Como devo me comportar diante de todos quando os ver? Senhora sente-se aqui. Qual será meu jantar de hoje? Certamente minha avó já estará sentada na cadeira posicionada da porta a costurar. Será que alguém me ligou? Minha avó deve me dar o recado.

Por: Alisson Meneses de Sá

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Programa de Lan House


Tornei-me igual àquelas prostitutas que descem iluminadamente a rua do ouvidor e com um rebolar de quadril que parece estar imprensados numa rua estreita, suas traseiras pareciam enganchar e com traquejo e modo delicado elas passavam, sempre formosa. Rebolavam e brilhavam. Seguiam em uma única direção, sempre fiel a rua do ouvidor, nunca viravam qualquer outra rua. Pararam na esquina com a Avenida Rio Branco, defronte pro rio, não tinham mais onde caminhar. Rua da Aurora esquina com Avenida Rio Branco era seu ponto de fazer vida. Diariamente as via passar e ficava a observar o brilho que nunca deixava de está nas suas vestimentas exacerbada. Tornei-me garoto de programa de Lan House. Após o meu PC desparafusar me sinto assim, obrigado a freqüentar todo tipo de antro. Fico de micro a micro, escolhendo o melhor que me convêm. Vou sempre à noite, as vezes à tardezinha, parece ser mais confortável se não fosse os gritos estarrecedores dos guris a jogarem vídeo game alucinadamente. Torna-se estranho tudo isso, a cada dia um rosto diferente. Pretendia entrar em cada ser, mas o barulho daqueles moleques deixava minha capacidade de introdução mental bloqueada. Sou a prostituta da praça da independência. Por hora ficarei neste recinto, antro de gastança descontrolad, e de adolescente ávidos por descontração, aberto por volta das 08:00h da manhã e fechando impreterivelmente ás 22:00h. Pego meu bloco de notas, fecho a conta, passo pela frente da lanchonete, um convite à imperfeição do corpo. Cruzo a Avenida, faço o caminho inverso das verdadeiras prostitutas. Subo a Rua da Aurora, sozinho, olhando toda essa promiscuidade de vida.

Por: Alisson Meneses de Sá

A FUGA


Analice pretendia fugir, não uma fuga involuntária, nem agressiva, mas uma fuga do que se transformara em rotina e de certa forma a incomodava. Fugia daquele turbilhão festivo que alucinava todos de sua geração. Sentia-se inerme diante de todo àquele turbilhão de alvoroço que por ventura pretendesse participar. Resolveu se entregar ao natural. O convite era para se recuar numa praia, achou assaz tácito o referido convite, porém resolveu ousar e se aventurar no que poderia vir de enriquecedor, ela colhia experiências naturais de forma passiva. No mínimo tomaria banho pelado à luz da lua, comeria peixe fresco assado, saborearia as deliciosas moquecas de frutos do mar, caminharia por todo dia seminu, usando em cada dia um traje de banho condizente com a estação de calor vigente. Andaria descalças pela areia molhada a ver os pescadores em alto mar a labutar. Divertir-se-ia no jogo de truca com os perdedores bebendo a dose de pinga com cara de nojo. Entristecer-se-ia no vazio do seu instante, porque talvez àquele não seria o seu momento. Choraria de rancor por algo que falta e não poder ser preenchido. Chamaria qualquer pessoa pra lhe acalentar em qualquer noite de frio e finalizaria gozando num completo estado de exaltação ao deus do prazer. Arriscaria Analice nesse fulcro de solidão.

Por : Alisson Meneses de Sá

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O CONTO DA GLÓRIA


Olhar de vaca lânguida. Lábios carnosos que recheava a perfeição dentária de um sorriso tímido e provocativo. Cabelos negros azulados que escorriam ao longo de suas costas. Possuía um pigmento de pele marcada pelo sol escaldante que adquiriu na lida do dia-a-dia, a marca da camiseta era evidente quando se vestia com alguma outra roupa mais decotada, coisa rara, pois era Glória uma menina de vinte e alguns anos, pudica nos seus modos de se expor naquele vilarejo que vivia desde o dia em que nasceu. Fora sempre respeitada por todos os moradores da vila, chamado de Sertãozinho, localizado numa certa região do nordeste brasileiro. O corpo que sustenta sua estatura mediana mantinha-se na estética do mundo contemporâneo, através do esforço físico que diariamente tinha que exercer ao ajudar seu pai com o trabalho de carregamento de sacos de feijão da roça para as mercearias no vilarejo. Matinalmente Glória era despertada por seu pai, conhecido em Sertãozinho por seu rigor nos compromissos de entrega dos sacos de feijão, como Capitão Artur, que nem sequer sabia o real significado da patente de capitão que as pessoas, inclusive as crianças, o chamavam quando avistava passar com sua carroça pela vila, com seu jumentinho e Glória, sempre em cima dos sacos, parecia que exibia um troféu, passava sempre com um sorriso pronto. A rigorosidade com que Glória era controlada sempre por seu pai, a fazia acanhada no falar com as pessoas, mantinha sempre o olhar voltado para baixo, respondendo a todo e qualquer questionamento feito, corriqueiramente, sobre sua mãe, que mal as pessoas de Sertãozinho conheciam, o Capitão Artur proibia qualquer tipo de exposição da sua mulher.
A tardezinha, após seu pai guardar a carroça e ordenar que Glória alimentasse a jumentinha e dia sim dia não dar banho, ela corria pro banheiro, se aprontava e batia à porta da vizinha atrás de Anunciação conhecida como Preta. As duas foram criadas como irmãs, já que nem Glória nem Preta não possuíam irmãos. A criação de Preta foi mais liberal, comparando-se com a de Glória, pois Preta fora na adolescência criada pelo padrasto, após a morte misteriosa e trágica do seu pai. Capitão Artur de uns tempos pra cá fazia vista grossa para tal amizade, pois Preta começou a ser falada na vila depois de ter sumido um dia inteiro de casa, depois uma discussão de sua mãe com Cigano, este seu padrasto. O pai de Glória, que sempre evitava falatório na rua soubera que Preta não era mais moça na barbearia, quando foi aparar seu bigode e sua barba já grisalhos. Terminava a conversa sempre batendo no peito afirmando que filha honrada e criada, era a dele, a pequena Glória, como a chamava.
Glória adorava sentar no batente de sua calçada com Preta para ouvi-la contar as novidades dos homens, era Glória uma moça virgem que nunca tinha provado um beijo de homem. Queria saber como era cada homem com quem Preta tinha beijado nas festas que freqüentava. Ficava sempre em casa sonhando com as festas de fim de semana que Preta contava durante todos os dias da semana, sempre com algum detalhe diferente. Glória achava que os bailes tinham cheiro de morango porque a deixava sempre em estado de êxtase e Preta sempre gozava dela por tamanha inocência. Mal sabia ela do cheiro de cigarro e suor que exalava dos corpos dos homens que a puxavam pra dançar, preferia ficar Preta quieta e deixar Glória sonhar.
Sempre afoita Preta que possuía uma beleza significante aos olhos dos homens daquele vilarejo, começava a traquinar a saída de Glória para o forró do Desquite, que acontecia quinzenalmente num sítio afastado da vila e mal visto pelas famílias tradicionalistas. O forró, popularmente ficou conhecido como “desquite” por conta do número exorbitante de mulheres que pediam o desquite após saber da passagem dos seus cônjuges pelo bar de Gilda, uma prostituta que fazia vida na capital e depois de sofrer uma desilusão amorosa com um michê carioca, se afastou para a vila de Sertãozinho e assim reconstruiu sua vida.
Era noite. Glória era conduzida pela força vital de Preta. Trocaram-se as escondidas. Capitão Artur já tinha se recolhido, mas antes foi ao quarto de Glória certificar da sua dormida. Saíram as duas correndo pelo quintal, cuidando para que a jumentinha não se assustasse. Saíram pelo beco da oficina de seu Nenê que ficava três casas após a sua. A estrada de piçarra em sentido ao Varame as conduzia ao forró do desquite. Caminhando descalças para não empoeira suas sandálias de camurça. Preta sempre batia os pés com as mãos antes de entrar pela porteira de acesso ao bar de Gilda e ao galpão do forró. O batuque do forró era estridente. Seguia compassadamente, Preta, o ritmo musical, enquanto desajeitada Glória só fazia balançar de um lado para outro, olhando desconfiada toda aquela movimentação. Mulheres de maquiagem forte dançavam com despudor, agarradas aos homens em sua maioria bêbados. Glória se movimentava para não ser um corpo estranho naquele salão. Rejeitava um e outro que a convidava a dançar. Preta dançava com todos, bebendo da mesma bebida, como se fosse uma troca. Repentinamente, em meio a toda àquela movimentação Glória sentiu alguém puxar no seu braço, acreditou que fosse algum bêbado ousado e com um empurrão ela ficaria livre. Era um homem alto, sóbrio, de barba por fazer e com trajes de vaqueiro com seu chapéu de couro peculiar, mas o que chamava atenção era sua beleza escondida naqueles trajes. Tentou recusar, mas o olhar dele e sua força a imobilizava de uma certa forma, logo ela estava no meio do salão. Parecia está acolhida nos braços dele, sentiu o cheiro forte de suor, mas se satisfez por senti o cheiro de homem.
Ao abrir a porta dos fundos, tonta, Glória logo se deparou com Capitão Artur, pois naquele momento ele não seria mais seu pai, estava ele sentado num banco, alisando grosseiramente a taca que batia o jumentinho. Olhou-a com olhos cheios de lágrimas, esperou fechar a porta e gritou:
- Perdida!!!!!

Por: Alisson Meneses de Sá

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

ENSINAS-ME A LIDAR

A amizade é uma relação sem sexo. Pauto essa afirmativa nas verdadeiras amizades, àquelas que superam grandes avalanches no percurso do convívio. Saber lidar com cada situação, quando se tem alguns amigos é uma arte auspiciosa, mas no fundo prazerosa. Algumas amizades perecem quando uma das partes não sabe lidar com os problemas existentes da outro ou do coletivo, às vezes o gostar é intenso, mas a importância no ajudar ou de ser ajudado quebra o laço uma vez construído. Fazendo aqui um paralelo das minhas verdadeiras amizades consigo perceber que em um existe a tristeza incorporada no seu eu, por não saber lidar com os términos da vida se trancafiou na sua introspecção permanente, após um desabrochar de sentimentos. Noutro, vejo o medo de se entregar às razões da paixão, se cotejando entre o sofrimento velado e o bem-querer, no medo de gostar se torna no próprio campo minado, pisando em ovos para não se machucar. Ainda tem o que se entrega inteiramente na relação não conseguindo mais enxergar ao seu redor as coisas se modificando, excluído parcialmente o que antes tivera construído, se deixando levar pelas emoções centralizadas no outro e não em si. São três degraus, cada um num patamar diferente quando falamos do sentimentalismo humano. Em nenhum dos casos existe facilidade no compreender, pois em muitos a chave que abre tal conexão está escondida nos seus respectivos esconderijos e só, somente eles podem revelar as a senha de abertura de tais portas. É o que acontece comigo quando fico angustiado por não saber lidar, por sua vez não compreender, essa tônica do relacionamento. Das três esferas aqui levantadas, uma o caso já é considerado irreversível, por ser sabido integralmente da sua condição passiva, noutra é mais suportável e fácil de compreender e conseqüentemente ajudar, pois existe uma maior liberdade, noutro o caso é mais hermético, porém, penetrável, o que não quer dizer que estar perdido. Não me privarei do silêncio diante da abertura de porta que espontaneamente e respectivamente deve abrir, caso contrário tornar-me-ei tácito.

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

AO NOVO

Na vida as incertezas são tantas que por mais que imaginamos que estamos preparados e que estamos aptos a enfrentar as querelas da vida de peito aberto, eis que vem o tsunami e nos arranca todas as certezas um dia construída. Inicio esses riscados de forma enigmática e filosófica, mas não é essa as minhas verdadeiras intenções ao intitular esse texto. Estou dando início a um jogo onde não se sabe se existe vencedor no final, só sabe-se que nesse jogo só entra quem tem reais interesses, onde tem que possuir muito jogo de cintura, sutileza e ousadia, este último com bastante ênfase, pois bastou o convite ser lançado para que eu entrasse numa complexa análise de modernidade pessoal, determinando, mentalmente até onde poderia chegar o meu conceito de pessoa moderna, regada a uma boa dose de ousadia. O meu estado de introspecção me fez perceber que nunca estaremos preparados para o novo, e ele nos assusta e vai se transformando em um monstro feroz onde devemos enfrentar logo no início para estigmatizá-los de uma só vez. Assim fiz, dei a largada para a funcionalidade do jogo, numa partida que espero render bons frutos e um bocado de experiência quanto a emoção exacerbada que sedimenta a alma humana. Só me resta declarar nesse início de partida que me vejo já integralmente envolvido e adaptando-me ao novo e ao imediato.

Por: Alisson Meneses de Sá

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

XXXIV ENCONTRO CULTURAL DE LARANJEIRAS

Em três dias de completa integração no evento que intitula esses rabiscos, pude retratar tanto através de escritos como através de fotografia digital todo tipo de manifestação cultural lá visualizada. A programação era extensa e ao final pude perceber que somente 1/3 foi visto de tudo o que a cidade ofereceu. O início dessa peregrinação aconteceu na quinta, 08/01 com uma tímida abertura e um simpósio que discutiu a questão da identidade cultural, o segundo dia, 09/01 a programação estava mais promissora, o terceiro e para mim o último, porque no dia seguinte permanecia a programação festiva, foi o mais completo. Com relação ao terceiro dia, 10/01, as imagens serão de fotografias de tudo o que foi captado por este que vos escreve, num dia extremamente enriquecedor culturalmente e ensolarado.
1º Dia – 08/01/2009
É no turbilhão de gente que começa minha partida em direção à cidade que se intitula o berço da civilização sergipana (Laranjeiras), a Rodoviária Velha, este por ser antigamente, o ponto de integração das viações terrestres interestaduais da capital, um local pouquíssimo preparado para receber a quantidade de gente que por ali passam diariamente, procurando meios mais fáceis de se retirarem para seus respectivos interiores, pois atualmente ela voltou a ser o ponto de integração dos ônibus. Foi exatamente nesse emaranhado de gente, afobada, que se deu início a minha ida pra Laranjeiras. Eis que comecei com grande estilo a minha imagem fotográfica, dentro mesmo do terminal. O que conseguia perceber era exatamente aquele corre-corre de pessoas com trejeitos humildes passando de um lado pra outro, a procura de sua condução, tendo no rosto expressões de cansaço e talvez de indignação pela condição miserável que alguns são expostos. O som era indecifrável naquele turbilhão, mas vez por outra se ouvia o gritar de algum cobrador de ônibus indicando a sua linha de transporte para com isso facilitar os analfabetos que por ali se encontrava atordoado pela confusão generalizada que ali era percebido. Entrei na condução onde um letreiro enorme informava a cidade e sentei-me num dos bancos traseiros da condução, para poder assim reparar toda a movimentação daquele transporte. O ônibus não demorou muito e logo deu sinal de partir, esperando somente alguns passageiros entrarem, mal as pessoas se confortaram em suas poltronas a condução entrou em movimento. Poucas pessoas seguiam em direção e o que ficou registrado é que pela fisionomia das 13 pessoas ali dentro somente três tinha o aspecto de turista, todo o resto parecia ser nativo da própria cidade, que tinha ido a capital resolver algum problema. Mas aquela moça de vermelho em muito me chamou atenção, sentada do mesmo lado em que estava, ela comia amendoim como se comia um doce que se desmanchava na boca, seu contentamento era tanto que nem chegou a imaginar no que poderia ela causar em jogar todas as cascas, no colo acumulada, por entre a janela em direção ao lado externo da condução. Continuamos o caminho e a fisionomia dela continuava intacta, a felicidade dela era tanta que seu sorriso parecia está congelado na face. Ao chegar no destino, que era a rodoviária da cidade de Laranjeiras, pude verificar que a cidade mais parecia um canteiro em obras. Minha primeira visão foi da montagem sendo concluído do parquinho, um alvoroço só de operadores a gritar de um lado pra outro e ferramentas tocando o chão de paralelepípedo causando um som quase insuportável por entre o carrossel e as cadeirinhas rodantes. Eu teria que ir pro Colégio Zizinha Guimarães, lembrei rapidamente da história dessa educadora negra que ficou marcada nos registros educacional do estado; como não fazia idéia de onde ficava, avistei logo um moto-taxi onde ele me conduziu por apenas um real até o colégio. O Simpósio há muito já havia começado, a sala mal cabia de tanta gente querendo assistir o debate, posicionei-me logo atrás para ter uma visão ampla, caso alguém se sentisse entediado e saísse do seu local, assim o fiz, sentei-me logo que alguém se retirou. O debate seguiu formalmente, algumas pessoas ligadas diretamente às artes se atreveram na discussão, apimentando ainda mais o simpósio, deixando o palestrante meio confuso quando o assunto foi Pára-folclore. Fechando o simpósio seguimos (eu e Valmor, este último meu companheiro inseparável de Pós-graduação) em direção ao Museu Afro de Sergipe, e sedimentamos mais um pouco o nosso conteúdo histórico da África. O sol estava escaldante e demos uma parada, antes de pegarmos nossa condução de volta, num barzinho e ali debatemos sobre as amenidades da vida tomando uma cerveja gelada.

Por: Alisson Meneses de Sá

domingo, 11 de janeiro de 2009

RELEITURA DE CLARICE LISPECTOR

Ao me debruçar circunspectamente sobre a obra de Clarice, sendo este um dos seus maiores marcos literários, não desmerecendo os demais obviamente, A hora da estrela me conduziu a uma outra análise, trespassando para uma análise psicológica, não dos personagens nele distribuídos, mas do autor que dar sentido à obra. O narrador que dar a tônica do enredo, desenhado de forma jocosa, toda a estrutura da narração, se entrega de forma integral na desconstrução da personagem principal, a Macabéia, essa se tornando uma mulher burra e feia. É essa macabra descrição física, não só contextualiza do lado externo da personagem, que torna seu âmago também hermético. O narrado ridiculariza substancialmente tudo o que representa Macabéia. Não, a raiva não se fará presente nem em Olímpio nem em Glória e sim naquele inescrupuloso personagem inicial que a autora sabiamente tenta se esconder. Ela(e) criou um monstro, deu-lhe contornos humanos, deu-lhe a vida sem poder expressar seus sentimentos porque Macabéia em nada pensa e se o vazio é sua estrada, como podemos explicar o inexplicável? Macabéia não tem vida própria, é sempre conduzida pelas palavras dissimuladas e escrotas do autor e sua coadjuvante ou da autora e seu coadjuvante, a sua incapacidade de se libertar dos grilhões do seu manipulador tanto nos emociona quanto nos angustia. Imagino Macabéia dócio, meiga, apesar da sua magreza mórbida e anoréxica, mesmo não sabendo se expressar verbalmente, seu olhar saberia falar por si só, num formato complexo de linguagem, submergido num mar de pena. Falha inaceitável no seu fim, certo que assim a autora assume seu estilo introspectivo, mas no mínimo, para amenizar a dor de Macabéia poderia ter lhe dado um casamento com Olímpio, ela própria se sentiria feliz e realizada, apesar dos ataques de insulto que seria lhe oferecido gratuitamente. Não, talvez a morte tivesse sido a melhor saída para nós leitores, pois não seria suportável imaginar Macabéia sofrer, ao menos ela sofreu feliz, enganada, mas feliz. Meu rancor pelo personagem narrador e pela autora é tal, pois consigo me enxergar dentro de Macabéia em alguns instantes, ou sempre, mas o pior é que sempre consigo ver as saídas pra suas angústias e nem eu próprio consigo sair das minhas. Eu amo Macabéia.

Por: Alisson Meneses de Sá

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

FORRÓ DAS VEIAS

Seria trágico e indizível se não fosse jocoso e completamente descritível o forró conhecido como “forró das veias”, localizado numa casa afastadas da cidade de General Maynard. Não serei hermético ao retratar aqui a imagem fotográfica que se desenhou desde o momento que aportamos naquele terreno, que mais parecia um sítio do que salão de festa. Já era tarde, pois o dito forró se inicia cedo, ou seja, pós às 21:00h a casa começa a emitir seu costumeiro som de pé-de-serra. Estávamos em outra cidade, noutra festa quando resolvemos passar por essa tão afamada festa de interior. Ao longe já ouvíamos o som se desenvolvendo, nada fora do comum daquilo que se imagina nessas festas de interior, logo mais afastada da cidade, a casa era única na região, ao seu redor não era perceptível nenhuma residência. Era uma casa com um salão enorme ao lado, espaço esse para dança, o bar ficava localizado internamente, as mesas ficavam dispostas ao redor da casa/club/bar para que o espaço de salão seja só e unicamente para dançar ou ralar o bucho como chamam os nativos. O salão estava lotado, as pessoas por sua vez pareciam hipnotizadas com o som que ali era emitido, dançavam descompasadamente, alguns com um certo gingado. As idades eram diversas, apesar do nome que atraia a população eles se misturavam parcialmente, entre adolescentes e senhores de idade, seguindo o objetivo geral de diversão, fugindo talvez das mazelas da vida. A embriaguês era um fator que se generalizava, a tônica para toda aquela movimentação, enquanto a poeira do chão levantava no terreiro. Uma senhora de seus sessenta anos chamava a atenção naquele ambiente, tanto na desenvoltura da dança como no recurso que ela utilizava, talvez pra chamar atenção ou atrair algum homem para finalizar sua noite, ela levantava compassadamente seu vestido florido, depois levantava sua anágua cor de rosa deixando à mostra sua calcinha, e pra finalizar aquela dança do acasalamento, abria um sorriso, mostrando seu único dente da frente; a risada a zombaria tomava conta de todo aquele espaço. Dentro do bar o dono do espaço vendia bebidas e alguns petiscos, sua fisionomia era comum, quase de satisfação dentro do bar, a movimentação estava animada e os lucros pareciam dar mostra. Sentadas, observando com um certo ar de irritação, pavor e nojo estavam a mulher do proprietário e sua mãe, ambas possuíam traços de evangélicas ortodoxas, pelas roupas e fisionomia sem maquiagem, pareciam desconjurar tudo aquilo, olhava para as meninas que ali andava quase desnudas com repugnância, meninas essas que em muito freqüentavam aquele forró justamente para prestar alguns serviços aos homens ali solitários e sedentos para fugir da suas respectivas rotinas.
Assim feneço tal descrição que fora dali seria incapaz de ser visualizado, não pelas pessoas toscas que freqüentam e que fazem aquele forró, mas pela estrutura humilde, tanto da localização quanto do povo, tão incapaz de insurgir.

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A MALÍCIA

O tombo da minha maturidade não veio nem a galope nem de conversível, aportou de forma trágica e lancinante. Tornei-me naquilo que mais o ser humano abomina em si ou nos outros para só uma destinação de sentimento. Sou o egocêntrico e o infantil de sempre, não conduzo minhas ações por conta das convenções comuns. Tombei no pragmatismo das minhas concepções de pessoa um tanto cruel por assim dizer, extravasei nas minhas inquietações mais íntimas, dei a cara a tapa a toda uma montagem de vilania incorporada. Usei da pior forma os sentimentos de pessoas incapazes talvez de enxergar esse hermético ser. A cretinice me tomou como forma para suas astúcias inexeqüível em tempos normais com a vida. Ao longe se sentia o cheiro horripilante do ódio, do fenecer no homem para suas relações emocionais. Pequei e eis que me crucifixo e me chicoteio com bastante esmero, não precisarei de dedos apontadores e acusadores daquilo que já reconheço no meu eu lânguido. Apaixonei-me não pela figura personalizada em si e sim pelas palavras cheias de retóricas que colocava. Atirem suas próprias pedras, àquelas na qual foram atingidas quando erraram. A percepção do que esperava para o que de fato ocorreu foi sumariamente tardio e o desfazer tornou-se o mais complicado dos desfechos que teria que dar. Não desejava o trágico, mas ele bateu a porta da minha imaginação deixando-me sem saída, contornando assim toda uma história que poderia, e tinha tudo, para ser bela e inesquecível. Assim, atrevi em me passar como um verdadeiro malfeitor dessa história, dessa forma compensaria a toda culpa em mim habitada. Naquela noite em que apresentei toda crueldade de dentro de mim, que aí confesso o ápice dessa personalidade, magoei, propositalmente, não só uma pessoa, mas duas, de forma clara e gratuita e sei mais ainda, que deverei receber, por todas as maldades lançadas, negativamente, como respostas pelas ações emitidas. Agora preciso me recolher, talvez quem sabe eu consiga apoiar minha cabeça no travesseiro, fechar os olhos e dormir incólume.

Por: Alisson Meneses de Sá