domingo, 11 de janeiro de 2009

RELEITURA DE CLARICE LISPECTOR

Ao me debruçar circunspectamente sobre a obra de Clarice, sendo este um dos seus maiores marcos literários, não desmerecendo os demais obviamente, A hora da estrela me conduziu a uma outra análise, trespassando para uma análise psicológica, não dos personagens nele distribuídos, mas do autor que dar sentido à obra. O narrador que dar a tônica do enredo, desenhado de forma jocosa, toda a estrutura da narração, se entrega de forma integral na desconstrução da personagem principal, a Macabéia, essa se tornando uma mulher burra e feia. É essa macabra descrição física, não só contextualiza do lado externo da personagem, que torna seu âmago também hermético. O narrado ridiculariza substancialmente tudo o que representa Macabéia. Não, a raiva não se fará presente nem em Olímpio nem em Glória e sim naquele inescrupuloso personagem inicial que a autora sabiamente tenta se esconder. Ela(e) criou um monstro, deu-lhe contornos humanos, deu-lhe a vida sem poder expressar seus sentimentos porque Macabéia em nada pensa e se o vazio é sua estrada, como podemos explicar o inexplicável? Macabéia não tem vida própria, é sempre conduzida pelas palavras dissimuladas e escrotas do autor e sua coadjuvante ou da autora e seu coadjuvante, a sua incapacidade de se libertar dos grilhões do seu manipulador tanto nos emociona quanto nos angustia. Imagino Macabéia dócio, meiga, apesar da sua magreza mórbida e anoréxica, mesmo não sabendo se expressar verbalmente, seu olhar saberia falar por si só, num formato complexo de linguagem, submergido num mar de pena. Falha inaceitável no seu fim, certo que assim a autora assume seu estilo introspectivo, mas no mínimo, para amenizar a dor de Macabéia poderia ter lhe dado um casamento com Olímpio, ela própria se sentiria feliz e realizada, apesar dos ataques de insulto que seria lhe oferecido gratuitamente. Não, talvez a morte tivesse sido a melhor saída para nós leitores, pois não seria suportável imaginar Macabéia sofrer, ao menos ela sofreu feliz, enganada, mas feliz. Meu rancor pelo personagem narrador e pela autora é tal, pois consigo me enxergar dentro de Macabéia em alguns instantes, ou sempre, mas o pior é que sempre consigo ver as saídas pra suas angústias e nem eu próprio consigo sair das minhas. Eu amo Macabéia.

Por: Alisson Meneses de Sá

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