terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O CIÚMES DE ARI

A história que substancialmente irei me debruçar a contar aqui nesta página é sumariamente simples, instigante, jocosa e prazerosa de ser lida. Ouvi dia desses pela diarista que trabalha em minha casa. Ao atentar nos detalhes descritos, conseguia imaginar todos os personagens fazendo parte de alguma película de Pedro Almodóvar. Os detalhes não seguirão na íntegra, conforme foi me passado, por conta da impossibilidade ao transcrever, haja vista, as impressões pessoais diferenciadas, o da diarista em contar e o meu em ouvir e repassar.
Ari, como era conhecida, é a personagem principal dessa história, uma mulher de seus quarenta e tantos anos, de beleza um tanto quanto tosco, pois sua altura e sua magreza era desproporcional, sem contar seu estilo jocoso de se ultrajar. Mãe de quatro filhos, dois do sexo masculino e dois do sexo feminino, todos já adolescentes. O mais velho era conhecido por usar drogas e furtar residências; o segundo se portava como mulher, andava sempre com roupas justas, minúsculas, femininas e gritantes; a terceira, ainda nova, fugiu com um rapaz que conhecera numa semana; a quarta e a mais nova era contida, talvez por carregar toda a carga de culpa dos mais velhos. Ari já fora casada, ou como diz o popular, ajuntada, por três vezes, contanto com o atual. O primeiro vivia do sustento dela e quando bebia a espancava, sem justificativas e sem propósito; o segundo e pai dos quatro filhos trabalhava, mas deixava todo seu ganho nos bregas da cidade e quando não a espancava, pois tentava ela controlá-lo; o terceiro e atual chama-se Chico, é pedreiro e vive sempre fora de casa quando seus serviços são noutras cidades, inclusive na capital, onde mais trabalhava, Ari o amava como nunca amou nesta vida, sentia sempre um vazio no seu coração toda vez que ele cruzava a porta de sua casa com seu material de trabalho. Ciúmes e possessão eram o que movia Ari, tinha receio em perdê-lo e sempre indagava seus trabalhos na capital.
Certa vez, Ari angustiada resolveu também viajar pra capital, alegando precisar fazer uma consulta médica. Nadinha, queria mesmo era checar uma ligação que recebera no celular de Chico, que temporariamente ficou em seu poder. Ficou hospedada na casa de uma amiga que é doméstica e no mesmo bairro onde Chico ficava, preferia do que ir pra casa de suas irmãs ou de sua mãe, assim evitaria algum tipo de justificativa sobre sua vida, seus relacionamentos e sobretudo, seus filhos. Ela queria saber quem era Dan, um homem de voz efeminada, desejava ela saber se ele, Chico, mantinha algum caso com esse Dan, pois ao atender o celular o dito cujo, achando que estava falando com o Chico, o tratou de forma delicada, cobrando a ida dele. Perguntava-se ela porque ele não suportava a vida que o filho dela levava como gay. Numa discussão Chico lhe disse que esse Dan ajeitava fêmeas pra ele e ele ajeitava machos para o Dan, a deixando furiosa, mas mesmo assim ela precisava tirar a prova dos noves, necessitava estar frente a frente com o Dan.
Coincidentemente, já na capital, ela reencontrou um grande amigo, lá do interior, eram amigos de infância e adolescência, ele morava no mesmo bairro que sua amiga doméstica. O contentamento dos dois foi demasiado, ele aproveitou toda a alegria e a convidou para comer uma rabada na sua casa. No outro dia se aprontaram para o almoço quando de repente Ari recebe uma ligação de sua irmã dizendo que estava chegando para almoçar com eles. Chico numa adrenalina altíssima se prontificou em esperá-la no ponto de ônibus para não se atrapalhar por aquelas ruas esquisitas e um pouco perigosas, pois se tratava de um bairro da periferia. Ari se sentindo desprotegida começou a se espernear descontentemente, alegando que todos deveriam sair juntos, que não tinha a necessidade dele sair sozinho na frente. Chico, olhando furiosamente para todo aquele ataque doentio de ciúmes, mudando de expressão como se muda da água pro vinho, se dirigiu a ela com olhos vermelhos de ódio, a chamando de urubua, de bruxa, que ela parasse com tudo aquilo porque ele não era de bater, mas que estava por um fio pra dar uma surra nela, ali, e que a abandonaria num segundo porque ele não suportava mais ficar com ela, dizia ainda que ela era uma tribufu, feia, uma vaca magra desmamada, que mulher pra ele não era problema. A cena ocorreu na frente de um contingente significativo de pessoas, a dona da casa, suas duas filhas e seus dois genros, mais suas três netas e o amigo de Ari que estava oferecendo a rabada, chegara naquele exato momento para avisá-los que tudo já estava pronto. Todos ficaram imobilizados com a ação do casal, com tanto ódio que exalava de Chico e da expressão de medo que Ari esboçava. Ari parecia estar tapada, com uma cara de choro e a vergonha latente de se abater em desespero, ou pior em perdê-lo. Numa forma de apaziguar a situação, a dona da casa puxou Ari pro quarto enquanto Chico saia de casa. Na casa do amigo, o som estridente, Chico se distraia jogando sinuca enquanto Ari, ainda em estado de choque, dura, tesa, sentada na cadeira como uma peça imóvel e olhar fico pro nada, imaginava sua vida sem Chico. Todos se divertiam, comiam e bebiam com bastante fartura. Do nada, Chico sentou-se próximo dela e murmurando baixinho, só pra ela ouvir a chamava de bruxa, bruaca, vaca magricela, piolhenta, feridenta, ruim de cama, pata choca, que a vontade dele era esfregar a cara dela no ralo pra piorar o rosto dela, porque ela era feia e que só ficava com ela por pura pena. Calada, Ari não se manifestava, porque mesmo assim o amava, sua vida sem ele não teria o menor sentido. Dan adentra a casa e Ari só toma conta da presença dele quando a filha da sua amiga doméstica toca no nome dele quando passava pela frente de Ari, ainda imóvel. Ela despertou-se e olhando fixamente pra Dan, perguntou a ele se realmente era ele o Dan da ligação de outro dia. Confirmando a pergunta e abrindo um sorriso pra ela, Dan disse que toda àquela brincadeira não passou de uma provocação de Chico que queria provocá-la de ciúmes, abraçando e beijando-a no rosto. Ari não agüentou de tanto contentamento e abriu um sorriso pra Dan, que a puxou pra dançar forró naquele chão batido. O contentamento de Ari era tamanha que não se importava em dançar exageradamente com Dan, parecia estar no paraíso, mexia os ombros como se algo neles a incomodasse. Sussurrando no ouvido de Dan ela disse que amava Chico e que ela era capaz até de suportar um caso de Chico com o Dan.

Por: Alisson Meneses de Sá

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