segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

IRACEMA AGRADECE

Olá meu querido Martin!
Você não imagina o meu estado de contentamento em receber suas ligações, seus recados, enfim, vivo sorrindo à toa pelos cantos de casa, do trabalho, pela rua. Minha felicidade só não é completa por conta da distância que nos separa, acho que essa distância é a pedra de Carlos Drummond de Andrade que estava no meio do caminho e agente vai aos poucos diminuindo essa distância que me parecer ser cada dia mais longínquo ao passo que vamos estreitando nosso gostar, nossos sentimentos.
Esperarei aqui na terra da Arara e do Caju você, como se espera um príncipe, espero que possamos passar uma das melhores viradas de ano de nossas vidas, regado a bastante cumplicidade e diversão, espero que goste dos meus amigos, acredito que deu pra ter noção, pouca, mas foi uma prévia, de como mantemos nossa amizade. Apesar de eu está me sentido um pouco só, por conta de algumas circunstâncias, com você aqui eu posso dividir mais essa minha solidão.
CDs recebidos – meu muitíssimo obrigado. Tudo pra mim ta sendo tão complicado, indecifrável, mas prazeroso e compensador e foi de uma forma tão inusitada o recebimento dos CDs que me enviaste. De antemão só tenho a agradecer ao prazer a mim proporcionado, concretizando algo que poderia está solto.
Estava em minha casa no interior, não tinha noção de quando iria ver seu presente por conta dos meus trabalhos que exigiriam um maior tempo longe de minha residência na capital e onde estaria meu presente. Na terça-feira passada, ao cair da tarde, chegando em casa, um pouco exausto, me deparo no meu quarto, mais especificamente em cima de minha cama, um envelope grosso, logo toquei para ver do que tratava, ali sentado na cama percebi que era uma correspondência sua, não abri, pois já tinha idéia do que estava ali, queria observar mais aquele envelope e o que ele representava pra mim. Fechava os olhos e ficava a imaginar você, seus olhos, suas mãos, sua boca, desenhava na minha imaginação a sua fisionomia, me entregando àquele envelope, escrevendo meu endereço. Aquilo era tão mágico, tão brilhante que me trazia um alívio dentro do peito, me deixava leve, parecia que levitava.
Foi à noite que pude saborear seu presente. Preparei-me exclusivamente para aquele momento tão mágico, tão especial. Tomei banho, me vesti com um short extremamente confortável, posicionei o micro-sistem dentro do meu quarto e fiquei ali, deitado na minha cama de solteiro, de olhos fechados, imaginando você me dizendo todas aquelas músicas, com uma perfeição que só você poderia fazer. Não consigo me conter de tanta emoção quando ouço de forma triste, Cartas de Amor, aquilo entrando nos meus ouvidos é emocionalmente carregado, mas no fundo sobra um fiozinho de alegria por todos os instantes que passamos juntos.
Queria está bem pertinho de você pra poder recitar essa poesia de Drummond:

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe

Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvido. Amor começa a tarde.
Carlos Drummond de Andrade

Beijos saudosos dessa que aqui está a te esperar numa ansiedade só.

Iracema

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