sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

INDAGAÇÃO DE MARTIN


Olá minha querida Iracema

Fico mais aliviado ao receber a sua resposta e compreender melhor o que aconteceu. Estava me sentindo culpado e meio confuso do que eu poderia ter feito. Sempre tenho esta mania de achar que sou culpado de tudo e me martirizo muito por isso.

Eu também estou sendo bastante transparente contigo e acho isto muito importante (aliás, este é o meu jeito de ser e talvez, por isso, pago um preço muito alto). Eu quero que saiba que, apesar do pouco tempo que estivemos juntos, não foi apenas algo momentâneo, sexual, diversão efêmera de um "turista", até por que, se assim fosse eu não teria nem ligado para você no domingo e proposto sair contigo, teríamos começado e acabado tudo naquela noite, na escadaria da casa onde estava. (Só um pequeno comentário: eu me senti tão desconfortável com este termo que você usou, "diversão de um turista", e de eu ter passado este tipo de impressão para você - me senti como se fosse um vigarista / conquistador barato FDP/ sei lá o quê - sei que não foi esta a sua intenção quando usou o termo, mas me incomodou bastante - vou me policiar para nunca mais deixar que alguém possa me julgar desta forma).

Adorei ter te conhecido e sentir a sua energia, seu calor, sua vibração, seu vigor de alma. Você me ajudou a voltar acreditar ainda na possibilidade de um relacionamento a dois e ajudou implodir a "Pedra" no meu peito, que estava obstruindo todas as minhas emoções, sentimentos e crença nas pessoas.

Talvez, na ansiedade de compartilhar da mais bela intimidade, devo ter ido rápido demais e não ter conseguido me fazer entender e muito menos fazer transparecer os meus sentimentos mais nobres. Mas eu confesso que também estava confuso. No outro dia eu já viajaria. Não tínhamos muito tempo para fazer as coisas no ritual e ritmo que também considero mais adequado (apesar de que no mundo que estamos vivendo, parece não haver mais espaço para a sutileza e delicadeza). E eu achei a sua energia também tão gostosa, que queria poder me entregar aos seus beijos, carinhos, abraços e a uma sintonia íntima (de corpo, alma e espírito) que transcende a individualidade e faz de alguns momentos eternos. Eu queria eternizar esta intimidade, o que não tem haver necessariamente com o sexo. O fato de podermos ficar nus, no meu ponto de vista, envolve a confiança para descobrir a essência do corpo do outro, de cada parte intima, de cada zona erógena, a beleza única de cada ser, de cada sensação de cada parte do corpo.

Infelizmente eu sou assim, romântico, adoro fazer e receber carinho, adoro me perder nas horas que se eternizam e que nem vemos ver passar, embriagados pelas carícias, abraços, beijos, toques, massagens e tudo que a afetividade e a mais bela intimidade permite. Se entre nós rolasse o sexo naquele dia, seria uma conseqüência de uma entrega mútua e não a vontade de uma parte e muito menos o sexo pelo sexo, o que eu não me satisfaz, tanto que quando percebi que você ficou meio travado eu não avancei o sinal e preferi depois ver você adormecer, fiquei fazendo carinho e ficar te observando no seu momento de sono até que eu me adormeci também. Aquele dia, eu só queria que você pudesse ter ficado comigo, e pudéssemos ter passado à noite (dormindo, acordando, brincando, sonhando juntos, fazendo carinho, exercitando o amor que podemos nutrir na intimidade, sem medo, sem ressalvas, traumas passados, neuras, na mais completa interação). Queria poder ver o dia raiar junto contigo e guardar na memória da minha pele, corpo e alma a beleza do momento. Gostaria que pudéssemos ter feito aquele momento eterno, enquanto ele durasse. Eu seguiria a minha viagem em paz no outro dia, mesmo se não tivesse dormido nada a noite. Isto foi idealizado e o que criei no meu sonho, mas não pode ser realizado, o que não necessariamente me frustrou - pois na vida tenho aprendido que sonhos são sonhos e nem sempre podem se concretizar - porém fiquei triste de te ver ir embora de uma forma tão rápida, enigmática e estranha.
Acho que tanto eu como você estávamos muito carentes e com os mesmos anseios, expectativas e necessidades, porém seguimos caminhos diferentes para fazer as coisas acontecerem, o que nos fez assustar um com o outro. Mas isto é a vida: é vivendo que se aprende. Tenho certeza que tudo o que você fez foi com a melhor das intenções e posso te afirmar que eu também te queria te oferecer o melhor de mim. Pena que não consegui ser claro.
Mais uma vez, me desculpa por não ter tido a capacidade de me fazer entender e demonstrar com clareza os meus sentimentos e peço perdão por tê-lo feito chorar e, de uma certa forma, ter te magoado.

Hoje eu enviei pelo correio os CDs da Bethânia que gravei para você. Peço-te que ouça com carinho e mergulhe fundo em cada palavra, acorde, sentimento, melodia e poema recitado e sinta como se eu estivesse transmitindo estes sentimentos para você. Este trabalho da Bethânia toca fundo na minha alma e fico muito feliz de poder proporcionar as pessoas queridas à possibilidade e o contato com um trabalho de tamanha sensibilidade e beleza.

Sobre o Réveillon, me diga o que pretende fazer, onde irá passar, o que planejou etc. Quem sabe posso amadurecer a idéia, apesar de não ser muito fã de Réveillon e do Natal. Estas datas mechem um pouco comigo e eu fico um pouco melancólico. Mas quem sabe não é hora de mudar.

Vamos mantendo contato, nutrindo e fortalecendo cada vez mais a amizade e deixar as coisas rolarem...

Um abraço fraternal e bem forte e um beijo profundo e recheado das mais belas intenções,

Com carinho,

Martin

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