segunda-feira, 9 de junho de 2008

SEGUNDA DA CRÔNICA: DESCONSTRUÇÃO


Eu não quero mais ser esta ou isto, preciso mudar, não quero ser mais eu, preciso incorporar uma outra personagem, ou será que este é um personagem e na verdade eu precise encontrar o verdadeiro eu? Estou cansada, não, não, isso não é loucura, não estou ficando maluca. Às vezes me sinto podre, as minhas ações não são dignas desse que parece ser eu ou que realmente seja eu. A... esse meu instinto, sempre me entregando, talvez se não fosse ele seria o mesmo eu, é ele quem me deixa assim, não, não, não é crise de identidade, porque essa ou aquela sou eu, sei que ela existe, ela já existiu talvez dentro de mim. Mas preciso não ser esta, quem sabe por alguns tempos, pois é, por alguns tempos, daí consiga o que quero, enjôo de ser quem eu sou e volto, volto para o meu instinto podre. Mas é óbvio, tenho que me segurar. E se ele descobre? Não, não, tenho que ser inteligente. Calma, preciso pensar, não posso deixar nenhum vestígio, tenho que me conter, eu não sou quem eu realmente sou, ele tem que acreditar, meu instinto de devassa tem que ficar longe de mim. Eu não consigo, é muito confuso, preciso agir com frieza talvez, mas assim faltaria emoção, os brilhos dos meus olhos devem surgir, eu preciso, eu quero, não estou ficando louca. Vou representar pra ele. Ser adultera é algo imposto pela sociedade, ninguém entende só eu, ele não deve sentir o cheiro que exala dentro de mim, esse cheiro que para os outros é podre, mas para mim é prazeroso. Ai... preciso sentir esse cheiro, eu quero fazer o que não posso, talvez eu tente, o que acontece na minha cabeça? Eu não sou isso ou isto. Pensamentos tolos, isso é mais um ciclo que se fecha, igual aos demais, começo assim com essa cara de idiota, babaca, mulher apaixonada, tola e termino com ódio de mim ou dele, sempre dele, porque jamais a culpa ser minha, está nos outros, tenho então que culpar alguém, isso, não acontece porque eu quero, a culpa é claro ta na minha criação, foi minha mãe a culpada de tudo isso, isso foi ela, foi ela, não, coitada de minha mãe, tísica naquela cadeira de balanço, não tem culpa, isso é culpa do ciclo que se fecha, devo me comportar. Mas que personagem interpretarei? Não, a moderna não rola, quero a cética, a cega, caí bem por algum tempo, é isso mesmo será ela. E os demais? Eles irão logo perceber, não serei eu, eles gostam disso? Preciso dar um jeito, talvez tenha de ser um personagem que agrade a gregos e troianos, mas qual? Não é compatível, não bate, são extremos distintos, e nesse momento o que será de mim? Continuarei sendo a adúltera para todos ou a amante apaziguadora, fingindo ser a mulher amada, mas que na verdade o outros é quem sabem me amar, os da rua, das esquinas, dos becos, os dos prostíbulos. Que tipo de construção foi essa? Confesso, é imensamente incompatível. Estou ficando louca, preciso fazer algo para acabar com esse turbilhão de contrapontos. Ali está a resposta para as minhas perguntas, ta ali em cima da mesa, são rosa, bem que tudo na vida poderia ser rosa, vou pegar um, não um não, quero três, quero água pra ajudar a descer, o gosto é horrível, lembro-me que minha mãe disse que aqueles grãozinhos cor-de-rosa em cima da mesa é veneno pra matar os...

Anônimo

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