terça-feira, 8 de abril de 2008

TERÇA RETRÔ EM: TEMPO DE DITADURA

A intelectualidade brasileira anda meio capenga por conta da falta de estrutura diretiva que proporcione aos espectadores um interesse sobre tudo o que acontece no país, assistindo de forma passiva aqueles que um dia se fizeram de partes inerentes nos centros acadêmicos governarem a nação e não verem a partir daí possibilidades de avançar na luta contra as injustiças sociais, uma vez sonhadas no passado e desestimulada hoje no tocante ao cansaço mental para conseguir resultados formais no campo político, inclusive.
Percebo nitidamente que a ditadura foi uma forma ilegal de se adquirir justiça organizacional no país, mas foi através da brutalidade lá existente que podemos retroceder saudosamente naquilo que se chamamos de evidência artística e intelectual em tempos de terror, onde alguns autores históricos relatam evidentemente o grande interesse da população em acompanhar através de jornais, televisões e rádios o embate entre os universitários e operários que formavam o lato intelectual contra a forma militar e política, esses dois últimos somados numa única instituição chamada Estado, lhe atribuindo poderes relevantes nessa contenção de interesses, o que vai lhe auferir anos e anos no poder. Com isso podemos perceber um grande número de despontamentos literários que surgem no bojo dessa casuística e inflamada participação popular, oferecendo aos grandes pensadores condições e reconhecimentos daquilo que se é produzido.
Talvez eu também me apaixonasse por Mário Jorge, poeta sergipano. Quem sabe também não tivera o conhecido naquela corrida de velocípede e ali pudesse perceber a sua capacidade. Seríamos amigos, como também seria de Wellington Mangueira e Ilma Fontes. Estudaríamos juntos no Atheneu e junto com ele seria expulso. Explode a ditadura e temos razões mais que reais pra lutar contra uma situação e expor nossas idéias. Foi assim com Mário Jorge, alguém que literalmente soube viver cada segundo da década repressora e soube expor como ninguém no estado suas condições de militante contra a imposição na qual éramos obrigados a viver. Quem sabe, seria eu quem fosse junto com Mário Jorge fazer planfetagem no centro da cidade e ajudá-lo a divulgar suas poesias de protesto social, também iria me indignar com a morte do jovem Luis no Rio de Janeiro e estaria dentro das manifestações de repúdios aquele modo ilícito de se governar e com todo orgulho seria preso no 28BC e sofreria as barbaridades sofridas nas cadeias em tempos de ditadura, mas teria hoje orgulho da minha época, porque pude lutar.
Sofremos com essa perda de patriotismo, por termos do que gritar e contestar, mas não temos forçar para tais condições, pois acreditamos ainda, de forma passiva, que o país está em vias de bons resultados. Óbvio, demos um salto enorme quanto ao sistema democrático, mas ainda faltam. Os populares em nada se indignam quando se vêem surrupiados pelas máquinas administrativas e recebem de bom agrado as notícias que sem intervir substancialmente. Os intelectuais se calam diante da situação. Os do passado estão cansados e os novos não têm onde se espelhar e os poucos que ainda sobram dessa precariedade ficam sujeitos as mesmices da literatura, em muito escrevendo para a intelectualidade e não mais para os populares.
A amizade era algo que estava embutido nas pessoas, e é justamente nesse período que podemos verificar a grande quantidade de relatos quanto a uma eternizarão daquilo que hoje as pessoas pouco valorizam, que é o saber nutrir uma verdadeira e saudável amizade, voltados sempre para a arte de interagir, envolto de ótimos textos e discordâncias factuais. É poder observar nos olhos de Ilma Fontes as lágrimas virem a escorrer por entre seu rosto branco com pingos de sinal por lembrar-se da vivência com o poeta Mário Jorge e também se imaginar naquela posição como também poder escutar Wellington Mangueira dizer apaixonadamente que Mário pra ele foi uma grande paixão e não perceber nessa expressão nenhuma insinuação maldosa e invejá-lo por não fazer parte daquele momento tão especial.
É trágico saber que o passado vai sempre está ali, pronto para ser estudado e pesquisado, mas que nunca poderá ser vivido.

Por: Alisson Meneses de Sá

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