Eis que o tempo é de chuva e a
vontade é de perpetuar no enlace da minha cama e do meu edredom, trocando o espreguiçar
por sonhos, o meu esmorecer por simpatias, palavras e sorrisos que vem de longe.
Escrever sentimentos é o que me conforta nessa infinidade de pensamentos que
habita o canto precioso dos meus desejos. É no despertar do amanhecer, na
organização mental das minhas atribuições diárias, que habitualmente tento
organizar, onde você aparece, sem pudor, devastando toda estrutura de conforto que
se apaziguava dentro de mim e assim vou despertando no espreguiçar descontente,
pois os meus pensamentos tentam te alcançar, alcançar não só o seu ser físico,
mas o seu espírito, tento entrelaçar os seus desejos nos meus, até os mais devassos,
pervertidos e incontidos que porventura povoaram seus sonhos numa madrugada de
sonho qualquer. Calo-me diante do improvável, do inseguro e do inesperado,
desafio a distância, o bruto e o covarde, me disponho pro novo, pra paixão e
até para o amor e assim vou me estruturando para a batalha diária. E foi nesse
tempo chuvoso, num despertar contido e introspectivo que meu coração doeu, senti
uma pontada de lembranças dos primeiros tempos, dos primeiros beijos de horas
incertas onde tocamo-nos e trocando olhares ainda tímidos percebi que você me
quer e eu te desejo.
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