Não ei
de questionar a Deus sobre a vida pela complexidade que nela se
configura a razão de estar vivo e depois morrer, pois dela sou
constantemente refém, não ei de me desintegrar por não entender o
motivo que a vida tem de tirar pessoas significativamente
insubstituíveis. Acalento-me nessa hora triste nos conceitos
literários, como Guimarães Rosa diz: “O correr da vida
embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí
afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem. Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a
alegria...Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos
capazes da alegria sozinhos...Essa... a alegria que ele quer.”
E assim se vai seu Luiz, meu avô Luiz, com toda sua ombridade,
dignidade e sagacidade de viver, orquestrado pelas mais bela sinfonia
do período junino, ele nos deixa, configurando na história de cada
um que o conheceu aprendizados singulares de homem trabalhador.
Remeto-me as lembranças de outrora como acalentador da dor, de um
tempo que não volta mas que deixa na história sua marca, guio
minhas lembranças para os momentos únicos que ele nos proporcionou
na vivência de homem do campo, passando ensinamentos verdadeiramente
essenciais de relação para com a terra e seus animais. Ai, aquela
casa, que parecia surgir do nada de quando passávamos parte de
nossas férias, a brincar, sempre com seu Jeep amarelo ao lado e
aquela árvore grosseira logo a frente de uma das cancelas que nos
permitia entrar na suas terras. Ainda consigo configurar na mente
toda estrutura do “Sertão” como assim definíamos, pois
percorríamos por todo extensão da terra, correndo, andando a
cavalo, pescando, quando a seca não era tão eminente, caçávamos
passarinhos sempre com estilingue em punho, óbvio financiado por ele
que não se importava com nossas traquinices de criança, ele nos
dava a completa liberdade de viver só não admitia ser desrespeitado
porque era um príncipe. Como era maravilhoso ver meu avô surgir
naquele cavalo branco com seu chapéu de couro, parecia um príncipe
disfarçado de plebeu, mostrando como era importante dar valor a
tudo, porque tudo que foi construído por ele foi demasiadamente
muito trabalhado. O entardecer naquela casa era mágico e mais
sublime ainda era quando a lua despontava no céu, nos acomodávamos
no alpendre e ficávamos esperando ele se deitar na rede para contar
suas histórias com o rádio sempre ligado, era fato sempre algum
vizinho das redondezas chegar para trocar ideias ou pedi favor a seu
Luiz, ou então resolvíamos fazer alguma alguma invencionice para
distrair a noite assim que ele dormia tomado pelo cansaço da lida.
Era praxe acordarmos junto com o nascer do sol logo atrás de uma
serrinha que se posicionava a frente da casa, sair na neblina para
ver o leite sendo tirado era indescritível, pois descíamos com um
caldeirão para buscar o leite e depois retornávamos pra comer
aquele cuscuz com queijo que ele sempre aprontava. Os sábados da
minha infância tinha um sabor diferente, logo cedo corríamos para
pedir dinheiro a ele pois sábado era um dia de negócio, era o dia
que ele pagava seus funcionários, negociava, a garagem da sua casa
na cidade era um verdadeiro escritório era onde ele recebia as
pessoas, e assim aproveitávamos a sua benevolência de avô que
nunca se recusou e sempre nos dava alguns trocados, assim descíamos
pra feira para comprar doces, brinquedos. Engraçado como a vida é,
fez com que seu enterro fosse exatamente num sábado, para que seus
amigos do campo pudessem se despedir. O natal, como vai será o natal
sem a presença do meu avô lindo que demonstrava no seu semblante a
alegria por ter uma família tão linda, como ele sempre dizia,
porque todos saíram igual a ele, adorava na noite de natal tirar um
maço de dinheiro do bolso e fazer a distribuição, era como se
fosse uma recompensa por está ali, junto dele, acalentado num abraço
forte que ele adora nos dar. E assim se vai seu Luiz, meu avô Luiz
que foi mais do que um avô, ele foi um pai, espelho de honestidade e
trabalho, quero poder dar orgulho a ele, tomando ele como referência
pra toda minha vida....vai com Deus meu avô...
Alisson
Meneses de Sá