segunda-feira, 8 de novembro de 2010

UM ÁTIMO DE VISITA


Arranjei a rede após a refeição da noite e nela me entreguei, deixei-me ser abraçado involuntariamente pelos braços da rede. Minha solidão era uma constante e na rede me fiz, a imaginar situações, a escrever mentiras a esperar o tempo se diluir enquanto o sono não chegava, tudo seguindo uma rotina macificante as vezes insuportável pois era certo aturar nas horas de solidão em meio a uma rede ligada de um ponto ao outro no meu quarto de repente um som estridente surgiu vindo da entrada da casa.

Apareceu sem justificativas plausíveis. Convidei a entrar. Ofereci chá, café, sequilhos de nata, até uma coca-cola na geladeira esquecida, a tudo parecia se agraciar, mas nada me respondia se por acaso o olhar fixo sobre meus olhos já não fosse perguntas seguida de respostas. Não tinha percebido que a visita ainda estava estática na porta e eu sem jeito para receber, em meio a minha insuportável e tosca timidez convidei pra entrar naquela humilde residência. Seus passos eram firmes, precisos de quem entrava naquele recinto com algum propósito. Estabeleceu-se no sofá defronte pra minha rede e ali ficamos a conversa sobre as amenidades da vida cotidiana e algo estranho me havia ocorrido, mas de nada poderia exaltar, pois não tinha completa certeza, e do nada me revelou que era de costume me expiar em momentos de outrora, quando passava por sua calçada, desengonçado, sem pensamentos expressivos, talvez sem muitas ansiedades, pois havia anos que me transformara em viúvo e o que mais desejava era que Deus me apontasse como seu escolhido para ser levado, a cada dia isso era almejado. Lembrei-me de que realmente sempre que passava pela rua da Aurora que corta a do Ouvidor sentia-me como sendo estranhamente observado, exatamente no trecho movimentado e confesso que certa vez vi uma moça com uma fita vermelha na cabeça, segurando uma trança, encostada no alpendre da casa amarela, a me observar, a observar meus passos. Comentou também que o casaco cinza, o meu preferido, era também o preferido dela. Seus olhos brilhavam.

Consertou a almofada desajeitada sobre o sofá e aquele simples gesto me fez chorar, lembrei da Júlia, não que a Júlia fizesse igual, percebi que poderei amar. Disfarcei e disse que a poeira da rede fez entrar fagulhas no meu olho e me fez espirrar. O sorriso que se abriu nos lábios foi de uma precisão monumental, como se dissesse algo que tomado pelo átimo da visita não conseguia decifrar. O tempo foi passando e não tínhamos percebido que o tempo ligeiro passava, a cada minuto passado mais os nossos gostos se combinavam, nossos corpos se atraiam e assim do átimo deu-se a permanência e foi se perpetuando e se estabelecendo faceiramente dentro da minha alma, passou-se as horas como também passou-se os dias e seu lugar foi sendo construído, da forma mais singular. E se o amor apareceu naquela casa veio em formato de conchinha, pois é assim que se agrega ao meu corpo pra dormir.



Por: Alisson Meneses de Sá

3 comentários:

Bruhno Costa disse...

WOW..
belo texto, adorei!
Sucesso!

Wendy(A Megera) disse...

Oh. Que lindinho... tão singelo e tão marcante!
"...uma moça com uma fita vermelha na cabeça, segurando uma trança, encostada no alpendre da casa amarela..."

Tão Sigle Dó Ré Mi Fá...

A.D.O.R.E.I.

Clayton Carvalho disse...

Simplesmente surpreendente!

E se o amor apareceu naquela casa veio em formato de conchinha, pois é assim que se agrega ao meu corpo pra dormir.

sucesso aew!