domingo, 21 de novembro de 2010

AS MANCHAS ROXAS DA RESSACA


 Não agüentava mais sentir o cheiro de sua pele naquela noite de lua minguante e bela por sinal. Seus olhares dissimulados sempre 
penetrava os meus. Não suportava mais ter que dividir suas atenções com ninguém, o que se tornava meramente impossível, pois o jantar que fora oferecido naquela noite tinha personalidades que nos interessava estar, não seria, porém, de bom comportamento ignorá-los. O desejo era doentio, eu precisava urgentemente despir aquele corpo todo sensual e possuí-la inexoravelmente, incansavelmente, como se àquela necessidade um dia fosse em mim fenecer.
O vinho que Timótio trouxera era de boa qualidade e diante do desejo alucinante de ter aquela mulher e da conversa sobre moeda internacional, algumas garrafas assim foram secadas. Senti-me tonto por alguns instantes, logo me dirigi ao banheiro da cozinha, joguei água fria na face, enxuguei e fiquei ali, diante do espelho a me questionar o quanto era idiota e não tomava logo a iniciativa de arrastá-la sem ao menos me desculpar dos convidados e saciar de uma vez por toda aquela sede insuportável.
O teor alcoólico no meu corpo parecia não ter passado, meus movimentos ficaram lentos e de repente senti algumas pontadas na cabeça sugerindo então excesso de vinho, significando no entanto uma ressaca insuportável ao amanhecer. O grupo a cada hora passada não parecia esmorecer, animavam-se mais e mais e Timótio era quem conduzia inteligentemente toda diversão, ela adora ver as expressões de Timótio ao se prolongar nas piadas. A francesa me retirei, parei na cozinha que estava uma bagunça infernal e fiquei a imaginar como tudo aquilo seria limpo, tive momentaneamente pena de Maria. Abri o refrigerador e lembrei que mamãe dava goiabada para curar a ressaca de papai todos os sábados quando era costume papai ir para o bingo da cidade, recordei assim que tinha comprado no início do mês para comer como sobremesa misturado com creme de leite a goiabada, era uma dos lanches que mais adorava degustar após ler jornais no escritório e fumar um charuto cubano. Comi alguns pedaços e não resistir em ir tomar banho quando passava defronte ao banheiro assim que tentava retornar ao grupo.
A água gelada também era receita certa para curar excessos de bebidas alcoólicas. De cueca cheguei ao quarto, meu corpo só me direcionava a cama e assim desabei sobre ela. Apaguei até o momento em que senti aquele corpo quente sobre o meu, sutis beijos percorriam meu corpo em direção contrária à sua boca. Seus lábios molhados sussurravam aos meus ouvidos palavras de “eu te amo', “eu te quero”, “você é meu dengo”; abracei involuntariamente seu corpo febril. Ao longe ouço um som impróprio para a ocasião, era seu bichano que implorando atenção de sua mãe miava. Pela força do álcool minha mente sugeria chutá-lo, mas a razão logo veio à tona lembrando o imensurável carinho que ela nutria por aquele animalzinho insuportavelmente peludo. Complacente como sempre fora, ela deixou-me de acariciar e passou a dar exclusiva atenção àquele bichano. Ela caminhava pelo quarto com o gato no colo fazendo cafuné e aquilo foi me irritando. Eu tinha a completa certeza de que íamos dividir a cama com aquele bicho incapaz de perseguir ratos, e assim ela o fez, colocando o gato entre nossa eterna conchinha. A ressaca logo ao amanhecer aparecera em forma de manchas arroxeadas pelas pernas. Desde pequeno quando odiava as notas baixas no boletim da escola meu corpo surgia redondas manchas roxas.

Por: Alisson Meneses de Sá

Nenhum comentário: