terça-feira, 26 de abril de 2011

AZEDUME DE PALPITAÇÕES


Cheguei a pensar que a felicidade estivesse logo ali do outro lado, do lado de fora. Daí inevitavelmente personalizei dando-lhes nome, sobrenome, endereço e situações. Achei que seria uma felicidade duradoura, permanente nas minhas sensações de prazer contínua e irreversível. Ledo engano. Usurpei toda aquela alegria só para os meus quereres num ato ensandecido de egoísmo e introspectividade, por um tempo relativamente curto guisá intenso. A felicidade que antes só me pertencia era perfeita demais para que eu, somente eu, a vislumbrasse da janela do meu ser. Aos poucos por razões que estarão mais trancafiadas que preso nas masmorras, a felicidade incorporou outros gostos, são sabores amargos, como o café forte e sem açúcar de todas as manhãs. A intensidade da felicidade foi desmerecendo seus valores, só restando porém sua essência de prazer saciado no final. O tempo foi passando aos meus olhos de cansaço de todas as sextas-feiras à tarde, a perceber que a felicidade guardada na dispensa junto ao arroz e ao feijão foi ganhando outras proporções, chegando ao ponto crucial de não conseguir mais contê-la.
A felicidade já não mais me pertence, ora, não conseguia mais fechá-la junto aos grãos e seu gosto ácido era cada vez mais acentuado. Entrava em alvoroço ao vê-la em outras bocas, em outros braços, sendo a felicidade para outros seres. Era como se o afiado e frio metal trespassasse por entre minhas entranhas num arrependimento substancial de jogador que sempre poderia fazer melhor ao ver sua partida perdida. Foram minutos de morte sentimental sendo orientado pela profunda tristeza que agora ocupava o mesmo compartimento junto aos grãos na dispensa. A tristeza não era nem nunca foi boa conselheira, assim a deixei trancada, pois preferia ficar esturricado de fome do que tê-la por perto, era preferível que ela fosse vista também em outras bocas e outros braços, mas bem longe de mim.
Mais tarde, no âmago do meu ser e exacerbado por sensações diversas que jamais conseguiria personificar, percebo que a felicidade sempre esteve ali do meu lado e nunca do lado de fora. Noto que talvez meu erro foi tentar deixar ferroado minha marca de dono e proprietário já que é um estado de espírito inerente a todas as bocas e braços. A felicidade só torna-se duradoura e constante com as possibilidades de situações onde fazemos acreditar na sua existência. Foi a partir dessa premissa que o mundo, por mim, toma novos contornos, são feições mais bem elaboradas onde a tristeza por graça e obra dos deuses não se transformou em ódio e rancor. A felicidade que tanto me autoflagelei por achar que tinha perdido agora poderia está nas simples situações, nos novos projetos e nas novas emoções que hão de surgir com o amargar das sensações vividas outrora. Agora o que me resta é saber dosar esse azedume de palpitações que eclode dentro de mim, numa vontade alucinada de viver, aprender, ensinar, sorri, ter a felicidade sempre ao meu lado, sendo comparsa de meus desejos de minhas emoções, acreditando que tudo podemos alcançar naquilo que acreditamos ser essencial pra nossa alma. Há quem diga que a felicidade está atrelada a liberdade de está só, há também quem diga que está noutro ser. Prefiro não entrar no mérito da discussão pois já encontrei a felicidade nos dois patamares e durante o período em que ela existiu tornou-se essencialmente necessária. Hoje encontro-me só com a felicidade engavetada, sabendo que sou a única pessoa capaz de destravar a alavanca e assim me tornar inacreditavelmente feliz.


Por: Alisson Meneses de Sá

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