sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

COMO EVELYN ROE

O mar parecia calmo, tranqüilo, mas mesmo existindo um descontentamento de águas nada conseguiria perceber, pois meus olhos só conseguiam enxergar o barco, ali estacionado no píer, de cor escura, onde nada que correspondesse a sua paisagem, para mim era de pouca ou quase nenhuma importância seguindo assim as minhas determinações florescidas ao estourar dos fogos no ano que se iniciava. Sem dúvida aquele era o mesmo barco que a prostituta Evelyn Roe desembarcara tempos atrás e parecia ainda ter deixado sua alma vagando talvez se vingando das angústias uma vez passadas naquele barco. Estava efusivamente cego quando adentrei naquela embarcação, meu destino não era Jesuralém, nem muito menos pretendia falar ou ser possuído por Jesus de Nazaré como desejou Evelyn Roe, só desejava ser amado, poder me encaixar nas sensações mais pura dos que tem o prazer de amar. Sofri do mesmo mal que Evelyn sofreu, acreditei no ser humano para alcançar o abstrato, fomos ludibriados de forma vil como se nos privassem eternamente de sentir as emoções humanas. Usaram-nos, abusaram-nos até que tomamos conta de todo aquele absurdo na qual submetemo-nos por não sermos racionais. Só conseguimos dar conta quando nos projetamos no espelho e nos enxergamos estraçalhados, envelhecidos, desbotados... até que a tentativa de fuga tornou-se eminente e os barcos tomaram seu destino incerto enquanto sofremos calados na imensidão substancial daqueles que nos julgam. A doce prostituta Evelyn Roe vaga por aí por não conseguir adentrar nem o reino do céu nem as profundezas do inferno, já eu fico aqui isolado, aguardando uma outra embarcação para poder mais uma vez aventurar meus sentimentos, fico culpando-me por não ter tapado o buraco do barco e por tê-lo deixado vagando pelo infinito oceano de águas frias, por ter sentido o amargar do amor, daquele silêncio triste e introspectivo. Busco resposta, não obtenho de imediato, pois existe uma complexidade monumental, sofro então calado, tapo a boca quando a dor aumentar e não mais consigo dar os passo seguintes, corro para que possa passar despercebido entre as pessoas, escondendo meu rosto e meus olhos encharcados de lágrimas. Fico e Evelyn Roe vai, vagando por entre os corações destruídos.




Por: Alisson Meneses

A lenda da prostituta Evlyn Roe

Não suportei e chorei, chorei feito criança birrada, cheia de vontade e com uma tristeza infinita dentro dos olhos, quase não consigo chegar ao final da segunda leitura pela sua intensidade, fazendo questionamentos sem obter, pelo estado de consternação que me encontrava, resposta concreta. Bertold Brecht tornou-se, ao meu ver, após tê-lo conhecido superficialmente nas aulas de história contemporânea, com aquele professor que mais dormia em pé do que ouvia as nossas declamações, um ícone incomparável da literatura mundial, passarei enfim a adentrar mais e mais nas suas obras, começando agora por seus poemas depois para seus textos teatrais. Abaixo segue o texto que mais me comoveu. A lenda da prostituta Evelyn Roe...




Veio a Primavera era azul o mar

Mas ela não sossegou

Com o último barco ao navio chegou

A jovem Evelyn Roe

Vestido bem simples cobria seu corpo

Belo celestial

Em vez de jóias o ouro só

Do seu cabelo tão sensual

“Meu capitão, ai leva-me,à Terra Santa

Anseio por meu Jesus!”

“Pois vem, mulher, porque bela és tu

E loucos somos nós!”

“Cristo vos pague que pobre eu sou

Minh’alma é de Jesus, é do Senhor”

“Pois dá-nos teu tenro corpo, mulher

Porque o Deus que tu amas não nos pode pagar

Pois já morreu na cruz”

Eles navegaram com vento e sol

E amaram Evelyn Roe

Que comeu seu pão e bebeu seu vinho

Mas com lágrimas o amargou…

Dançavam de dia

Dançavam de noite

E o leme ficou ao léu

Evelyn Roe era branda e doce

Eles duros qual pedra e fel

Ela viu primavera e verão passar

De sapatos rotos de noite andou

De verga em verga, perdido o olhar

Uma praia tranqüila quis vislumbrar

A pobre Evelyn Roe

Dançava de dia

Dançava de noite

Qual doente enlanguesceu

“Meu capitão, quando afinal

Terra Santa verei eu?”

Nas coxas o capitão sorriu

E beijando-as lhe falou:

“Quem disso tem culpa não sou eu

E sim a Evelyn Roe”

Dançava de dia

Dançava de noite

Qual cadáver ela ficou

E do capitão ao grumete, enfim

Todo mundo dela se fartou

Trapos cobriam seu corpo já

gasto ferido inchado

E grenhas imundas a lhe cair

No rosto desfigurado

“Jamais te verei, Cristo meu Jesus

Com meu corpo pecador

Tu não podes com puta Te encontrar

Com esta pobre mulher, Senhor!”

Da popa à proa ela vagueou

Coração e pés a sangrar

Numa noite quando ninguém a viu

Ela se atirou no mar.

E a onda glauca a acolheu

E o seu corpo alvo tornou

E agora bem antes do capitão

Terra Santa ela alcançou

Quando enfim chegou ao Paraíso

São Pedro o portão trancou

Deus disse: “Não vou acolher no céu a puta Evelyn Roe”

Também quando ao Inferno ela chegou

A porta na cara levou

E o diabo gritou: “Não quero aqui a beata Evelyn Roe”

Então ela anda de déu em déu

Ao vento e ao luar vagueando

Em verdade vos digo eu a vi passar

Tarde da noite… no campo a errar…

Às tontas, sem paz, sem jamais parar

Alma penada

Sem morada

A pobre Evelyn Roe

RETORNO

Após algumas circunstâncias que me impossibilitaram de me debruçar neste meu blog e aqui deixar todas as minhas perspectivas e pensamentos, dos mais remotos aos mais consistentes, retorno a escrever com mais ímpeto e perseverança, traduzindo assim toda uma largada já dada dos meus problemas pessoas e dos meus desejos de criar personagens ilimitados, cuidando para confrontar tais características de forma suave e delicada... Estamos em pleno período carnavalesco e os pierrôs e as colombinas nos atiçam para o meio da folia e eu como um intenso folião fico aqui, nessa de perpetuar meus sentimentos, registrando tudo que meus olhos veem, meus ouvidos ouvem, meu nariz cheira e o que minha boca tem vontade de falar e... não fala, prefiro escrever. Acredite que o que virá logo mais serão angústias que refletirão a partir da minha pessoa, projetando-se em palavras, ações e reações. Não tomem por surpresa esse meu retorno abrupto com textos de intenso sofrimento, pois é na dor que a arte mais floresce.







Por:






Alisson Meneses de Sá