domingo, 17 de junho de 2012

UMA CERTA DESPEDIDA...

 Não ei de questionar a Deus sobre a vida pela complexidade que nela se configura a razão de estar vivo e depois morrer, pois dela sou constantemente refém, não ei de me desintegrar por não entender o motivo que a vida tem de tirar pessoas significativamente insubstituíveis. Acalento-me nessa hora triste nos conceitos literários, como Guimarães Rosa diz: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria...Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos...Essa... a alegria que ele quer.” E assim se vai seu Luiz, meu avô Luiz, com toda sua ombridade, dignidade e sagacidade de viver, orquestrado pelas mais bela sinfonia do período junino, ele nos deixa, configurando na história de cada um que o conheceu aprendizados singulares de homem trabalhador. Remeto-me as lembranças de outrora como acalentador da dor, de um tempo que não volta mas que deixa na história sua marca, guio minhas lembranças para os momentos únicos que ele nos proporcionou na vivência de homem do campo, passando ensinamentos verdadeiramente essenciais de relação para com a terra e seus animais. Ai, aquela casa, que parecia surgir do nada de quando passávamos parte de nossas férias, a brincar, sempre com seu Jeep amarelo ao lado e aquela árvore grosseira logo a frente de uma das cancelas que nos permitia entrar na suas terras. Ainda consigo configurar na mente toda estrutura do “Sertão” como assim definíamos, pois percorríamos por todo extensão da terra, correndo, andando a cavalo, pescando, quando a seca não era tão eminente, caçávamos passarinhos sempre com estilingue em punho, óbvio financiado por ele que não se importava com nossas traquinices de criança, ele nos dava a completa liberdade de viver só não admitia ser desrespeitado porque era um príncipe. Como era maravilhoso ver meu avô surgir naquele cavalo branco com seu chapéu de couro, parecia um príncipe disfarçado de plebeu, mostrando como era importante dar valor a tudo, porque tudo que foi construído por ele foi demasiadamente muito trabalhado. O entardecer naquela casa era mágico e mais sublime ainda era quando a lua despontava no céu, nos acomodávamos no alpendre e ficávamos esperando ele se deitar na rede para contar suas histórias com o rádio sempre ligado, era fato sempre algum vizinho das redondezas chegar para trocar ideias ou pedi favor a seu Luiz, ou então resolvíamos fazer alguma alguma invencionice para distrair a noite assim que ele dormia tomado pelo cansaço da lida. Era praxe acordarmos junto com o nascer do sol logo atrás de uma serrinha que se posicionava a frente da casa, sair na neblina para ver o leite sendo tirado era indescritível, pois descíamos com um caldeirão para buscar o leite e depois retornávamos pra comer aquele cuscuz com queijo que ele sempre aprontava. Os sábados da minha infância tinha um sabor diferente, logo cedo corríamos para pedir dinheiro a ele pois sábado era um dia de negócio, era o dia que ele pagava seus funcionários, negociava, a garagem da sua casa na cidade era um verdadeiro escritório era onde ele recebia as pessoas, e assim aproveitávamos a sua benevolência de avô que nunca se recusou e sempre nos dava alguns trocados, assim descíamos pra feira para comprar doces, brinquedos. Engraçado como a vida é, fez com que seu enterro fosse exatamente num sábado, para que seus amigos do campo pudessem se despedir. O natal, como vai será o natal sem a presença do meu avô lindo que demonstrava no seu semblante a alegria por ter uma família tão linda, como ele sempre dizia, porque todos saíram igual a ele, adorava na noite de natal tirar um maço de dinheiro do bolso e fazer a distribuição, era como se fosse uma recompensa por está ali, junto dele, acalentado num abraço forte que ele adora nos dar. E assim se vai seu Luiz, meu avô Luiz que foi mais do que um avô, ele foi um pai, espelho de honestidade e trabalho, quero poder dar orgulho a ele, tomando ele como referência pra toda minha vida....vai com Deus meu avô...

Alisson Meneses de Sá