quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

UMA CERTA GIOCONDA

Seus traços são um tanto quanto expansivos, possuidora de uma protuberante barriga, que extrapola os limites da saliência. Cria na sua face às características de mulher rechonchuda. A sua obesidade é permanente desde sua juventude, o que a deixava frustrada, sempre como alvo de críticas quanto ao seu desleixo físico. Era assim a nobre Gioconda, sempre mimada por sua mãe que a protegia de toda má situação que se colocava. Fosse financeira ou amorosa, até no corre-corre de estudante que Gioconda sempre fora.
Foi numa mesa de praça de alimentação dum shopping que Gioconda ficou frente a frente com sua inimiga, antes desconhecida e agora mortal. Entre duas garrafas de água mineral a vida de Dagoberto era destrinchada. Um verdadeiro campo minado se tornou aquela mesa, o barulho das pessoas em movimento fora silenciado, nada mais a sua volta era tão importante quanto aquela conversa. A outra possuía as mesmas características físicas de Gioconda, o único diferencial é sua idade mais avançada. Aparentemente Dagoberto, que é um moreno alto, atlético de classe média, estava mantendo relacionamento firme com as duas. Sabe-se lá o que justifica esse interesse peculiar de Dagoberto para com as duas fofinhas, por assim dizer. Gioconda estava se envolvendo com Dagoberto recentemente, os dois tinham se conhecido através desses sites de relacionamento, já a outra, estava há mais tempo, onde ela afirma que sempre viveram as turras, ela ciumenta, possessiva e ele um garotão despreocupado. Naquela mesa onde as duas resolveram colocar os pontos nos is, toda palavra tinha que ser meticulosamente estudada antes de ser dita, as duas estavam aparentemente jogando o jogo do amor enganado. Gioconda, por ser mais nova e super apaixonada por Dagoberto, sentia-se desesperada com tudo que a outra pronunciava a respeito dele, estava Gioconda pronta a terminar seu relacionamento, e o que mais lhe amargurava era ficar distante daquele homem que tantas vezes lhe realizava na cama, ela nunca tivera um homem que lhe desse tanto prazer no sexo como o cretino do Dagoberto.
A outra desmascarou de forma seca toda a história que a envolvia com Dagoberto, o negrinho pobre como ela chamava em momentos de fúria. Estava ele tentando se reconciliar com ela, mas estava profundamente magoada, pois na noite do aniversário dele ela fora preterida, onde teve a certeza da boca de Gioconda que ele ficou com ela. Mas aquilo não era nada, apesar de tudo, ele passou o natal e o réveillon com ela, numa ceia comemorativa, junto com os amigos dele. Aos poucos Gioconda desvendava a vida de Dagoberto, até sobre a relação sexual entre a outra e ele, o que a deixou mais ainda perplexa.
Dagoberto devia uma certa quantia à outra e por conta da vida dupla que o mesmo estava tendo e que a outra já vinha percebendo, resolveu assim cobrar a dívida, o que não faria caso não tivesse motivos. As cobranças foram reforçadas mais quando Dagoberto reforçou seu envolvimento com Gioconda, dando-lhe maior atenção. Sentindo-se rejeitada e enganada a outra resolveu chantagear Dagoberto com fotos comprometedoras entre os dois. As ameaças estavam amedontrando de certa forma o cafajeste do Dagoberto que via na própria Gioconda a possibilidade de ter sua dívida sanada e assim se livrar de uma vez da relação com a outra.
Foi a partir desse medo constrangedor que Gioconda resolveu ter com a outra e colocar tudo em pratos limpos. Diante, uma da outra, selaram um compromisso, iam se unir em prol da tragédia que se tornaria a vida de Dagoberto sem o luxo que a outra poderia proporcionar e do sexo fabuloso que Gioconda tem a lhe oferecer. Tava certa Gioconda que nada daquele acordo iria cumprir, é claro, estava ela chocada com tudo aquilo, mas o que mais lhe importava era ter a certeza de que Dagoberto não mais se encontraria com a outra o deixando livre para usufruir o máximo do que ele sempre a proporcionou. Sexo, óbvio.

Por: Alisson Meneses de Sá

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

TÁ NA PELE

As marcas grafadas no corpo, conhecidas especificamente como tatuagem, teve e tem adesão em todas as classes sociais, raças, continentes, enfim, a tatuagem conota uma forma de expressão artística tanto para os índios, quanto para os negros escravizados como nos brancos de várias épocas. Foi durante a chegada dos europeus na América que se percebeu corpos desnudos e decorados com cicatrizes azuladas, o que na verdade significava a sua origem tribal ou que marcava momentos de passagem como a puberdade ou mudanças de status (de menino para guerreiro ou a de inimigo para escravo). As cicatrizes tinham que ser feitas por um material cortante como espinhos, dentes de animais e até diamantes. O pigmento azulado percebidos pelo europeu Henri Estienne, vinha do jenipapo. Os desenhos jamais se comparam com os sofisticados utilizados na atualidade, eram desenhos geométricos e rudes. Quanto às tatuagens dos negros escravos eram chamados de escarificação, eram indicações da origem familiar, do Reino, do Pesídio e do lugar onde nasceram. A palavra tatuagem surge na Polinésia, onde os nativos usavam espinhas de peixe ou ossos de passarinho, ambos finíssimos para injetar na pele pigmentos a base de carvão ou ferrugem tornando, assim, inapagável. Na sua língua chama esse processo de tatau. Já no Taiti a onomatopéia do som levou pra uma versão inglesa o termo tattoo. Marinheiros, operários, prostitutas e criminosos são adeptos da moda da tatuagem no século XIX. No Brasil não foi diferente, após a abertura dos portos começa a disseminar a tal arte de grafar na pele humana. A conotação criminal, ou por melhor dizer, de baixo nível, é originária exclusivamente de países católicos e ocidentais, já nos países protestantes como Alemanha, Holanda e Inglaterra os reis, imperadores e aristocratas adornavam e seus corpos, significando o conquistador branco. Até o final do século XX a tatuagem era marginalizada e produzida pessoalmente por tatuadores amadores (alguns eram marinheiros de passagem). No Brasil Knud Harld Likke Gregersen fez história no ramo de tatuar, deixou a marinha para viver do ofício de tatuar, onde aprendeu com seu pai. Chegou ao Brasil em 1959, em 60 foi tema de matéria na folha de São Paulo, mas foi nos anos 70 que Tattoo Lucky, como ficou conhecido nacionalmente, fez sucesso na arte de tatuar, por conta exatamente da febre nos Estados Unidos das peles tatuadas de artistas pop, como foi o caso de Janis Joplin. Aderiram primeiramente a moda, os surfistas e os antenados na moda, nesse contexto os hippies. A segregação da tatuagem no Brasil ganha a classe média urbana através dos surfistas, no mais, para celebrar essa mania contagiante Caetano Veloso, músico da MPB cria rimas, enaltecendo numa canção, surfistas e suas tatuagens. Tratava-se do movimento contra-cultural que tomava os meios de comunicação, levando estilo pra todo país, assim crescendo o mercado em várias regiões, principalmente no Rio, São Paulo e em Salvador. O resultado dessa exacerbação artística está aí, ta na pele do povo brasileiro.

Por: Alisson Meneses de Sá
Referência Bibliográfica
MARQUES, Tony. Questão de pele. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro. Ano 4. Nº 40. Janeiro de 2009.

SÓ UMA NOITE

Sucedeu-se tudo conforme imaginei, foi somente uma noite, única noite de diversão à três. Eu, ele e ele. Nada incomum se não fosse a minha pouca experiência nesse jogo com mais dois jogadores. Eles, acostumados estavam com o lance. Eu, encabulado, curioso, ansioso permaneci antes do ato. Criei uma expectativa que por hora vejo que foi sumariamente frustrada. Vi-me dentro daquele relacionamento pagão, discutindo, indagando, trazendo um pra perto do outro, me sentindo de fato como a própria Cristina de Vicky Cristina Barcelona de Woody Allen, apaziguando uma relação desgastada e conflituosa. Penso que talvez tenham tido algum tipo de conflito, pois jamais poderia dizer que seria 100% pros dois, obviamente pendi pra um dos lados que convenientemente me favorecia e aquilo pode ter causado um atrito no casal. Longe de mim ser motivo de intrigas de relacionamentos entre casais de anos de convivência, não teria jamais esse extinto perverso e destruidor, na verdade entrei na jogada com um único intuito que foi me divertir, e provar dessa nova experiência um tanto quanto instigante e satisfatória. Fiquei completamente destemido de toda vergonha que estava embutido quando me vi pelado naquela cama, separando um e outro. Tive que pensar em algo forte que não fosse aquela vergonha latente, incorporei ali naquele momento um personagem, o mais vagabundo dos personagens cinematográficos fazendo um ménage à trois de primeira qualidade, me dispondo para as duas pessoas que estavam ali, ávidas por uma noite diferente no seu relacionamento conjugal. Fui um GP gratuito por assim dizer, pois o que valeu mesmo foi o prazer a mim atribuído.

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O INÍCIO DA PESQUISA

Como tudo na minha vida se inicia como quem não quer nada, assim de forma que menos possa esperar, foi daí que surgiu, assim de repente, lendo uma matéria da Revista de História da Biblioteca Nacional, uma matéria que se debruçava sobre a leitura das tatuagens e sua concepção artística, desde a cultura dos índios até os dias atuais com técnicas mais sofisticadas e permanentes. Foi como uma luz no fim do túnel esse achado tão especial tendo como autor Tony Marques que é jornalista e editor do Fantástico, programa dominical da Rede Globo e autor também de Brasil Tatuado e outros mundos, obra essa que ainda passará pelas minhas mãos para um processo de avaliação e inclusão dos vários aspectos cognitivos que a arte na pele pode trazer. Após muito pensar, após ler a matéria, me vi completamente impulsionado em me desbravar por esse caminho da história cultural, já me debulhando em leituras referenciais desse processo antropológico que está embutido nas artes, nesse caso a tatuagem. Fazendo assim um retrocesso, indo buscar lá atrás através de documentos, bibliografias, imagens, todo tipo de gravura uma vez deixada pelo homem, para poder explicar hoje o significado das marcas permanente da tatuagem, hoje tido como moda e tempos atrás marginalizados. O foco da pesquisa estará evidentemente por uma questão de estética regional, vinculada ao pequeno estado de Sergipe, desenhando com isso toda a história da tatuagem uma vez aqui estabelecida, buscando referência oral e documental, saindo da periferia até o centro urbano para enriquecer de forma concisa todo o objetivo da minha pesquisa historiográfica. Que me perdoe a Pedra da Paciência com o processo de tombamento que pretendia desenvolver inicialmente e que me perdoe mais recentemente François Hoald, artista plástico sergipano, na qual estava profundamente ligado através de suas obras em estado de esquecimento. Aqui compartilharei com todo achado da minha pesquisa, divulgando através de textos, fichamentos, resenhas, enfim, documentos que possam no final de toda pesquisa, sustentar um trabalho de conclusão de curso, como também, me oferecer à chave para entrada no curso de mestrado em História da Arte.

Por: Alisson Meneses de Sá

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

UM, DOIS, TRÊS E JÁ

Nunca mais deu um golpe baixo, depois que a galera começou a confundir as coisas, achei por bem parar com aquele lance de contar o que a turma andava aprontando nessa capital tão pequena, onde de um tudo se sabe. Daí, tendo em vista alguns acontecimentos resolvi voltar aqui numa rapidíssima, para deixar aqui registrados tais fatos, pois não é à toa que Deus nos deu esse meio de comunicação, fabuloso, que é a internet.

Lá vai...

Um... Aquele outro, que se achando gostosão da cocada preta, aquele que não levou na esportiva um comentário aqui feito, mas, verdadeiro, e agrediu com palavras esse que vos escreve, estava mais uma vez se esfregando com uma criaturazinha sem sal e sem açúcar neste weekend, a bola da vez foi nada menos do que a interiorana loira, esta por sua vez foi o pivor do término de relacionamento de outro amigo, que deu muito pano pra manga, até ameaças rolaram. Olha a faca!!!!! Enfim, o gosto do rapá, que eu passo e nem um oi sou digno de dar, está cada vez de mal a pior sem contar seu número crescente né. Dizem as más línguas que rodado é pouco.

Dois... A casa de Madame Sufia voltou à ativa. hehehehehehehehe. Atendimento só nos finais de semana. A própria que só faz contabilizar os ganhos está se recuperando aos poucos de uma pequena cirurgia. A casa mudou de nome depois uma baixa temporada de final de ano.

Três... E o que foi aquilo mesmo na boate neste weekend? Parecia até final de novela. Todos se acertando, até as vilãs. Uuui. Depois do fight virtual brabíssimo, que começou aqui neste blog, eu mesmo presenciei, sem muito acreditar, pois estava só esperando quem daria o primeiro golpe baixo, no reencontro regado até a sanduíche na dance floor. Pasmem. Tem quem diga que foi a cachaça. Eu digo que foi do coração, os rancores foram curados. E viva a putaria.

Quatro... Gente eu não sabia o que era aquilo, uma pinguça do caralho, desculpe pelo termo, não sabia se era Emilhinha Hoitmam ou Santana, enfim, quem era aquele personagem que se encostava no balcão de bebidas a pedir cachaça e mais cachaça. Benza a Deus. Nunca vi a criatura num estado mais catastrófico que aquele. A ressaca deve ter sido pesadíssima. E tome-lhe água

Cinco... A mais novata das novatas das novatas no ramo de diversão em boates, saiu assim meio desgostosa da vida do weekend, pois a única pessoa que ela beijou lhe disseram que não se contava. Pobre moça, atirou pra tudo que foi lado. Se esfregava em tudo que passava, vejam, TUDO, nem foi todos hehehehehehe, deixa eu cuspir essa senão eu morro, no final das contas ficou zerada e arrasada.

Seis... O recém casal que se separou, pelo que vi ainda estão separados, mas sempre com um ar de que voltarão daqui a pouco. A amizade é coloridíssima, nem sei o que mais falta pro retorno. Vamos ficar só na expectativa né?

Sete... O milagre, a residente da casa de Madame Sufia saiu da toca, com cara de enjoada, mas saiu. Só não sei quando retornará, mas que saiu isso eu vi, saiu.

Já... Voltarei pras minhas literaturas de principiante.

Por: Alisson Meneses de Sá

À TARDE

Sentado. Bebo um suco de umbu com leite. Um dos meus sucos preferidos. Queria me fazer de surdo pra não ouvir o que aquela voz estridente dizia. Tento. Não consigo completamente. Ouço partes agravantes e ofensivas. Finjo que nada daquilo é comigo. Frente ao computador faço expressões faciais de contentamento, como se o que via na frente do computador me desse prazer. Aquele barulho ainda continuava. Insanidade mental de um ser. Completa loucura imaginária. Fraqueza humana. Minha conta com Deus deve está pesadíssima para conseguir suportar toda essa pressão psicológica. Tenho vontade urgente de fugir, de sumir completamente do planeta terra. Queria ter forças pra arrumar minha mala e definitivamente sair daquele ambiente carregado pra nunca mais voltar e nem dar notícias do meu paradeiro. Tenho uma tia morando em São Paulo, quem sabe eu não fugisse pra lá. Não teria nada a perder aqui, pois tudo já fora perdido. Esperança? Isso nem passa pela minha cabeça. Não faço o jogo que alimenta aquele bicho. Meu silêncio não alimenta a fertilidade doentia dela. Sou acusado da infelicidade do mundo todo. Porque isso, porque aquilo, porque isso, porque aquilo. Ninguém nunca me perguntou se estou feliz. Cobranças e mais cobranças. Meu silêncio a destrói aos poucos, ela não tem o que argumentar, nem questionar porque me mantenho calado. Fechado. Trancado em mim mesmo pra não alimentar ainda mais o meu interior introspectivo. Acho que de imediato tenho que pensar em ir pra uma pensão. Fazer minha vida longe desse ambiente, me desvincular completamente. Ter o mínimo possível de liberdade. É como minha condição fosse algo que tivesse de ser perdoada a todo instante. Eu teria que me transformar numa pessoa pura, límpida. Às vezes tento, mas no geral não consigo. Perdão é algo inerente em meu ser. Consigo perdoar até mesmo meu próprio assassino o que dirá uma outra ofensa qualquer. O que eu não consigo conviver é com a incapacidade de altruísmo de pessoas prepotentes e individualistas. Como se seu umbigo fosse a verdade única do mundo. Até de levar uma vida de orgia fora acusado. Ledo engano. Seria meu desejo viver nessa condição desumana que são as práticas de orgias. Mas pobre mente doentia, minha vida é tão simples e tão regada a enriquecimento cultural. Prefiro calar. Fico com meu silêncio incólume. Planejarei minha saída para nunca mais retornar.

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O CIÚMES DE ARI

A história que substancialmente irei me debruçar a contar aqui nesta página é sumariamente simples, instigante, jocosa e prazerosa de ser lida. Ouvi dia desses pela diarista que trabalha em minha casa. Ao atentar nos detalhes descritos, conseguia imaginar todos os personagens fazendo parte de alguma película de Pedro Almodóvar. Os detalhes não seguirão na íntegra, conforme foi me passado, por conta da impossibilidade ao transcrever, haja vista, as impressões pessoais diferenciadas, o da diarista em contar e o meu em ouvir e repassar.
Ari, como era conhecida, é a personagem principal dessa história, uma mulher de seus quarenta e tantos anos, de beleza um tanto quanto tosco, pois sua altura e sua magreza era desproporcional, sem contar seu estilo jocoso de se ultrajar. Mãe de quatro filhos, dois do sexo masculino e dois do sexo feminino, todos já adolescentes. O mais velho era conhecido por usar drogas e furtar residências; o segundo se portava como mulher, andava sempre com roupas justas, minúsculas, femininas e gritantes; a terceira, ainda nova, fugiu com um rapaz que conhecera numa semana; a quarta e a mais nova era contida, talvez por carregar toda a carga de culpa dos mais velhos. Ari já fora casada, ou como diz o popular, ajuntada, por três vezes, contanto com o atual. O primeiro vivia do sustento dela e quando bebia a espancava, sem justificativas e sem propósito; o segundo e pai dos quatro filhos trabalhava, mas deixava todo seu ganho nos bregas da cidade e quando não a espancava, pois tentava ela controlá-lo; o terceiro e atual chama-se Chico, é pedreiro e vive sempre fora de casa quando seus serviços são noutras cidades, inclusive na capital, onde mais trabalhava, Ari o amava como nunca amou nesta vida, sentia sempre um vazio no seu coração toda vez que ele cruzava a porta de sua casa com seu material de trabalho. Ciúmes e possessão eram o que movia Ari, tinha receio em perdê-lo e sempre indagava seus trabalhos na capital.
Certa vez, Ari angustiada resolveu também viajar pra capital, alegando precisar fazer uma consulta médica. Nadinha, queria mesmo era checar uma ligação que recebera no celular de Chico, que temporariamente ficou em seu poder. Ficou hospedada na casa de uma amiga que é doméstica e no mesmo bairro onde Chico ficava, preferia do que ir pra casa de suas irmãs ou de sua mãe, assim evitaria algum tipo de justificativa sobre sua vida, seus relacionamentos e sobretudo, seus filhos. Ela queria saber quem era Dan, um homem de voz efeminada, desejava ela saber se ele, Chico, mantinha algum caso com esse Dan, pois ao atender o celular o dito cujo, achando que estava falando com o Chico, o tratou de forma delicada, cobrando a ida dele. Perguntava-se ela porque ele não suportava a vida que o filho dela levava como gay. Numa discussão Chico lhe disse que esse Dan ajeitava fêmeas pra ele e ele ajeitava machos para o Dan, a deixando furiosa, mas mesmo assim ela precisava tirar a prova dos noves, necessitava estar frente a frente com o Dan.
Coincidentemente, já na capital, ela reencontrou um grande amigo, lá do interior, eram amigos de infância e adolescência, ele morava no mesmo bairro que sua amiga doméstica. O contentamento dos dois foi demasiado, ele aproveitou toda a alegria e a convidou para comer uma rabada na sua casa. No outro dia se aprontaram para o almoço quando de repente Ari recebe uma ligação de sua irmã dizendo que estava chegando para almoçar com eles. Chico numa adrenalina altíssima se prontificou em esperá-la no ponto de ônibus para não se atrapalhar por aquelas ruas esquisitas e um pouco perigosas, pois se tratava de um bairro da periferia. Ari se sentindo desprotegida começou a se espernear descontentemente, alegando que todos deveriam sair juntos, que não tinha a necessidade dele sair sozinho na frente. Chico, olhando furiosamente para todo aquele ataque doentio de ciúmes, mudando de expressão como se muda da água pro vinho, se dirigiu a ela com olhos vermelhos de ódio, a chamando de urubua, de bruxa, que ela parasse com tudo aquilo porque ele não era de bater, mas que estava por um fio pra dar uma surra nela, ali, e que a abandonaria num segundo porque ele não suportava mais ficar com ela, dizia ainda que ela era uma tribufu, feia, uma vaca magra desmamada, que mulher pra ele não era problema. A cena ocorreu na frente de um contingente significativo de pessoas, a dona da casa, suas duas filhas e seus dois genros, mais suas três netas e o amigo de Ari que estava oferecendo a rabada, chegara naquele exato momento para avisá-los que tudo já estava pronto. Todos ficaram imobilizados com a ação do casal, com tanto ódio que exalava de Chico e da expressão de medo que Ari esboçava. Ari parecia estar tapada, com uma cara de choro e a vergonha latente de se abater em desespero, ou pior em perdê-lo. Numa forma de apaziguar a situação, a dona da casa puxou Ari pro quarto enquanto Chico saia de casa. Na casa do amigo, o som estridente, Chico se distraia jogando sinuca enquanto Ari, ainda em estado de choque, dura, tesa, sentada na cadeira como uma peça imóvel e olhar fico pro nada, imaginava sua vida sem Chico. Todos se divertiam, comiam e bebiam com bastante fartura. Do nada, Chico sentou-se próximo dela e murmurando baixinho, só pra ela ouvir a chamava de bruxa, bruaca, vaca magricela, piolhenta, feridenta, ruim de cama, pata choca, que a vontade dele era esfregar a cara dela no ralo pra piorar o rosto dela, porque ela era feia e que só ficava com ela por pura pena. Calada, Ari não se manifestava, porque mesmo assim o amava, sua vida sem ele não teria o menor sentido. Dan adentra a casa e Ari só toma conta da presença dele quando a filha da sua amiga doméstica toca no nome dele quando passava pela frente de Ari, ainda imóvel. Ela despertou-se e olhando fixamente pra Dan, perguntou a ele se realmente era ele o Dan da ligação de outro dia. Confirmando a pergunta e abrindo um sorriso pra ela, Dan disse que toda àquela brincadeira não passou de uma provocação de Chico que queria provocá-la de ciúmes, abraçando e beijando-a no rosto. Ari não agüentou de tanto contentamento e abriu um sorriso pra Dan, que a puxou pra dançar forró naquele chão batido. O contentamento de Ari era tamanha que não se importava em dançar exageradamente com Dan, parecia estar no paraíso, mexia os ombros como se algo neles a incomodasse. Sussurrando no ouvido de Dan ela disse que amava Chico e que ela era capaz até de suportar um caso de Chico com o Dan.

Por: Alisson Meneses de Sá

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

"... e quem ficou, no pensamento voou..."

Nem sei, quem sabe o meu silêncio fosse mais edificante quanto o meu grito ensurdecedor e meramente destruidor. Eu li e fiquei engasgado. Será que sou obrigado a estar com alguém que não me convém mais. Sirvo, somente e unicamente como um alguém para namorar, não sirvo como amigo? Foi o que ficou subtendido nas entrelinhas. Disponibilizei-me a tudo. Só não seria tão cretino como meu instinto as vezes se faz, em fingir uma situação imponderável dando assim garantias reais de uma continuidade e me magoar por dentro como um câncer silencioso. Fui claro e real, fui imaturo também e pelo que vejo descartável. Meus sentimentos não se evacuam no tempo com um simples soprar. Eu admiro, lembro, sonho, desejo, tenho pena porque sou cruel e as vezes insensível, mas nunca descartável. Devo ser descartável sim, não só o autor dessa frase me dispensou como outras de forma um tanto quanto contida. A essas frases que dizem e ao mesmo tempo não dizem. “Odeio quando colocam palavras em minha boca” eu ouvi isso e me veio na lembrança a falta de coragem de ser tão real, o medo de se deparar com a verdade e daí usa-se essas frases incógnitas para dar um ar de quem não quer dizer dizendo. A mim eu garanto que apesar do desejo de extirpar do pensamento como se fosse um prego encravado na minha alma, infelizmente não conseguirei, pois docemente lembraria dos momentos bons e daquelas mensagens, doloridas e significativas, de torpedos. Como já pensado e escrito antes, recebo com maior naturalidade toda a minha culpa de egocentrismo. Talvez não tivesse percebido isso antes, falta de tempo, e só depois de concretizar o que não daria certo, vem à tona tudo que não era visível anteriormente. Pois é eu já sabia. Sabia que era assim, meigo, educado, que sabia massacrar com palavras doces e que se faria vítima de suas próprias palavras. Aqui finalizo com certa mágoa.

Por: Alisson Meneses de Sá

PARTE DE UM NASCIMENTO

De onde ela surgiu, quais suas origens e suas intenções, pra onde irá, quais suas perspectivas, o que espera do futuro. Mal sei como iniciar escrevendo sobre uma personagem tão próxima a mim, e por seus costumes ser assaz diferente do que represento. Afinal o que represento? Ela pode se assemelhar a minha mãe com toda sua truculência, a minha irmã com seu ar puro, a minha vizinha agressiva, ou minha empregada descompensada, haja vista que sua história pode ser também um fato concreto e não um mero caso da fertilização doentia de uma mente que pensa. Desejaria mudar o rumo da vida dela, mas o destino a carrega com mãos bem apertadas. Iniciarei falando do seu passado lá no sertão pernambucano, seus pais eram tidos como escravos contemporâneos da agricultura canavieira que ainda era vigente, era o ano de 1987, Amparo, personagem principal dessa história, nasceu no meio do mato, em meio a facão e cana-de-açúcar em estado primário. Cresceu vendo seus pais se sacrificarem para alimentá-la como também seus dois outros irmãos; um com um ano, o Fabinho e o outro com dois, o Joãozinho, ela era a mais nova, seguindo uma carreirinha, como comentava o pessoal do povoado próximo. Foi o tempo de completar 12 anos pra sua mãe já lhe ensinar a lida de dentro de casa, o passar, o lavar, o varrer, Amparo seguia tudo disciplinarmente, assim que chegavam pro almoço o de comer estava pronto na mesa, quentinho como preferia seu pai. Nunca freqüentou uma escola, sua mãe iria tentar colocá-la no ano seguinte na escola do povoado, porque ela sonhava em estudar, mas certamente sentia-se acomodada na ajuda que Amparo dava dentro de casa, se ela fosse estudar, perderia a sua mordomia, teria que acordar cedinho pra deixar as marmitas prontas. Amparo via os filhos do dono do canavial nos meses de janeiro e julho, era suas férias escolar e eles que adoravam brincar com Amparo e seus irmãos falavam da escola, dos seus coleguinhas, da bonita professora e da cruel diretora, ela sonhava com tudo aquilo e pedia sempre a sua mãe pra colocá-la em uma escola, sua mãe a frustrava sempre dizendo que estudo era só pra gente poderosa, pra dono de fazenda, e um dia quem sabe ela seria filha de um homem rico. Ficava adorando quando ia pra estrada catar coquinhos e olhava os caminhoneiros passar. Ela só sabia que queria ser motorista, achava linda a forma grosa que os homens pegavam no volante. Um sobrinho e sua esposa que passavam férias na fazenda do velho Moacir, dono do canavial que trabalhava os pais de Amparo, ficou sabendo do desempenho da menina e da pouca condição de criar dos pais, procurou seu João da Cana e Dona Ceiça, como eram conhecidos, para lhes propor a ida de Amparo pra Aracaju com eles, garantindo o máximo de conforto possível, pois moravam numa área nobre naquela capital e não podiam ter filhos. Iriam dar estudo, conforto e boas condições de vida a menina, sem contar o carinho de filha. Seu pai, meio desconfiado de tudo ficou quieto, deixando sua mulher resolver tudo, o que fosse melhor pra ela seria pra ele, a mãe, auspiciosa, achou por bem a menina ir, pois seu futuro seria diferente dos deles e dos outros meninos. Assim que terminaram a negociação e saíram de casa, os dois irmãos de Amparo que presenciaram tudo se trancaram no quarto e não suportaram toda aquela situação, seriam separados da companhia de sua irmã, não teriam mais com quem ir pra estrada adivinhar os nomes dos carros que passavam enquanto sentados na beira da estrada marcavam no chão um ponto pra quem acertasse qual o próximo carro que apareceria após a curva. Seu pai saiu logo de casa, pegou o facão e no quintal começou a repicar fumo, sem nenhum propósito. A mãe se jogou na cama, em soluços parecia que lhe tinham tirado um braço do seu corpo. Com lágrimas nos olhos e coração apertado ajeitaram as poucas roupas que ela tinha numa sacola de guardar pão, colocou dentro um perfume de alfazema. Sentada na cama sua mãe com um ar rude disse que no outro dia, logo cedo ela iria viajar com o sobrinho de seu Moacir e sua mulher, iria ser criada como uma princesa, numa casa bacana, mandando em seguida ela dormir pra não dar tempo sequer dela pensar. No dia seguinte, logo cedo estava Amparo no banco traseiro do carro a dar adeus a sua mãe, seu pai preferiu não assistir a partida e foi pro canavial. Seus irmãos agarrados um a cada lado do ombro mãe choravam, seu Moacir tentava acalmar garantido que Amparo voltaria outra, mais educada. O carro se afastava e ela via sua vida se distanciar do seio de sua mãe. Sentiria saudades de Fabinho e Joãozinho, da casa, do pai. Talvez fosse melhor assim, pensava ela. Nunca tivera conhecimento de onde ficava essa casa, pensava que era próximo e que podia ver a mãe de vez enquanto. Estava Amparo atônita com tudo aquilo.

Por: Alisson Meneses de Sá

DEPOIS DO MSN


A tensão tomava conta de toda sua expressão facial. Foi só o tempo de desligar seu computador e correr esbaforido em direção ao banheiro. Ficava a tentar prever como seria aquela nova experiência. Só tinha mantido contado com o ativo, era ele quem instigava a curiosidade dele. O ativo parecia seguro, tinham conversado por muito tempo. Seu parceiro era uma incógnita, era o passivo da relação, segundo o ativo, seu companheiro estava ansioso pela visita de Mário. Este, apesar de sua idade condizente com as expectativas adolescentes, nunca tivera tido um relacionamento à três. Achava tudo muito estranho, pois sempre fora ativo nas suas relações e conceitualmente para compor um trio no sexo a versatilidade se faz inerente, era o que pensava Mário. Domingo ás 22:45h se prostrou Mário na frente do seu computador. No MSN se deparou com Sérgio, o ativo, que não se fez de rogado e sem meios termos se lançou para a conquista de Mário, o convidando a visitá-lo naquela noite, estavam, ele e seu parceiro, ávidos por algo diferente e seria Mário, seguramente, o indicado. Todo àquele jogo de sedução para convencê-lo deixava Mário excitado, mas receoso, pois seria inovador. Dentro do banheiro Mário se excitava, imaginando participar de uma orgia. Eram pessoas maduras. Modernas. Desejavam sair do tédio do relacionamento à dois. Depois do banho, dentro do quarto escolheu sua melhor cueca, vestiu uma bermuda jeans e uma camiseta surrada, calçou suas havaianas desbotadas. Entrou na condução em direção à praia. Desceu na padaria combinada, seu coração batia com uma intensidade cavalar, suas mãos geladas estavam enfiadas no bolso para não ficar grudadas na hora do cumprimento. E se forem dois psicopatas, enquanto um me distrai o outro me golpeia, pensou Mário enquanto aguardava o ativo na padaria. Aquele cheiro de pão acabado de sair do forno abria o apetite. Uma mão pesada toca seu ombro direito, uma voz rouca chamava por Mário. Seu coração parecia querer pular. Virou. Estava ali na sua frente o ativo, como seu cérebro preferia indentificá-lo, enorme, atraente, com um olhar obcecado, querendo lhe devorar ali mesmo, no meio daquela gente com seus pães na bolsa a irem pra suas casas.

Por: Alisson Meneses de Sá