segunda-feira, 31 de março de 2008

SEGUNDA CRÔNICA EM: SEMANA SANTA ÀS AVESSAS

ÚLTIMA PARTE


Por conta da noite de ontem eu me acordei no sábado de aleluia disposto, me acordei tarde, me sentindo com o corpo super descansado, com muita vontade de acontecer, logo me deparei na casa com algumas pessoas que já tinha acordado não me recordo quem, depois fiquei sabendo que a leprosa já tinha deixado a casa, pois tinha que voltar a Betânia, por conta da colheita do trigo que necessita de mão de obra. Não sabemos ao certo de como estava o estado da leprosa, pois saiu sem que ninguém percebesse. O ritmo da casa se acelerou com o tempo, depois que todos tomaram seu desjejum, e devo aqui salientar que fiquei abismado com a quantidade de comida digerida por Maria, a gestante, onde José, o piedoso, se dispôs a preparar com bastante afinco sua comida. O almoço teve a contribuição de muita gente, eu coloquei os desocupados do Judas e Pedro para descascar algumas verduras, eu me prontifiquei a fazer um arroz com cenoura, que na verdade pareceu blocos de arroz. Eu estava com muita sede se beber algo e logo me vi tomando vinho queria logo me animar, compensar o dia perdido. Assim que almoçamos nos aglomeramos na varanda e óbvio ficamos observando Maria Madalena contar causos da sua vida e fazendo algumas paródias com os vizinhos que tinham sido bastantes solícitos conosco nos oferecendo além de petiscos uma torta magnífica de macaxeira, que na verdade não deu pra quem quis.
Depois de se dispor a limpar toda a cozinha com uma habilidade surpreendente, Pôncio Pilatos arrumou sua bagagem e sentindo saudosa pela falta que a leprosa lhe causara, voltou pra sua terra de origem a Betânia, talvez fosse ver se tirava a bela leprosa dessa vida inferior que lhe foi oferecida. Após a reunião na varanda recebemos a presença ilustre de Jesus que chegou com Barrabás, este por sua vez chegou bastante tímido, se assustando com tanta irreverência e alto astral naquela casa, em seguida avistamos na praça esportiva um contingente de pessoas se aglomerando e se posicionando para jogar vôlei, daí resolvemos interagir com aquele pessoal, Jesus foi na frente, se sentindo o supra sumo, em seguida fui eu, interagindo com o pessoal pra saber se podíamos fazer um time pra jogar contra, fomos super bem recebidos por todos. A partida rolou até altas horas da noite, onde seguimos após a partida de vôlei para outra de queimado, foi quando percebi que meu joelho não estava muito bem, que tinha acontecido algo de errado, mal podia dobrá-los que sentia forte dores, resolvi me afastar do jogo, por conta da marcação cerrada comigo, como era um jogado bom, todos se viam ameaçados por mim e logo queriam me atingir. Afastei-me do jogo e junto com Judas, em seguida fomos tomar banho de rio, lá colocamos algumas coisas pra fora num papo filosófico, coisas que tínhamos reparado há muito e que tinham se concretizado naquele dia, depois do papo dentro do rio voltamos e pudemos verificar que o jogo já tinha acabado, fomos tomar banho na casa e percebemos em seguida que Maria e José tiveram um desagravo, coisa séria, José já não estava mais na casa, tinha ido pra Betânia, estava se sentido sozinho pela falta de atenção de Maria. Escutávamos a discussão dos dois, pois Maria gritava ao telefone, verificamos que a coisa tava feia, Jesus percebendo o clima péssimo da casa e adiantando que iríamos morrer de fome cuidou em ir pra cozinha e fazer algo para nos alimentar, tentou transformar a água em vinho e o pão em peixe, talvez tenha feito tal milagre, pois não percebemos pela situação de fome que todos se encontravam. Depois do jantar fomos mais uma vez pra varanda e lá nos prontificamos a ficar até quando toda a vodca acabasse, começamos a beber e Maria Madalena se mostra disposta a enlouquecer naquela noite, os goles ingeridos eram enormes, onde percebemos que logo, logo estaria descompensada. Assim que acabamos toda a bebida resolvemos seguir a indicação de alguns aborígenes da região, nos situando das festas que ocorrera naquele dia, fomos numa verdadeira procissão pela cidade de Jerusalém, saindo do Monte das Oliveiras, a cidade tava polvorosa, a primeira estação que fomos não encontramos nada, a festa já tinha acabado por conta de uma chuva que dera, seguimos na mesma procissão em direção a segunda estação indicado, lá percebemos que um trio posicionado tocava MPB, nada a ver com o que esperávamos, talvez quem sabe uma música brega, pois estávamos prontos, ou seja, cheio de álcool.
Maria Madalena, não desgarrando da sua origem adúltera, pois se sentia protegida por Jesus seu salvador está ali presente, se mostrava uma verdadeira mulher da vida, se dispondo com todos ali na festa, sem medo de ser apedrejada em praça pública, demorou. Alguns instantes depois, Pedro, José de Arimatéia e Judas resolveram ir embora, não estavam se sentindo bem ali, demorando um tempo mais, José, Maria e o leproso resolveram também deixar o local, só ficando eu Jesus e Maria Madalena. Continuamos a beber cerveja, enquanto Maria Madalena rodopiava por todo ambiente da festa, eu e Jesus discutíamos sobre várias coisas e não vimos o tempo passar, já era tarde, quando chamamos Maria para se juntar a nós e voltar ao Monte das Oliveiras, quando esta, completamente alcoolizada recusou, nada podíamos fazer, daí resolvemos deixá-la, seguimos outro caminho desconhecido por mim, mas conhecido por Jesus, e como dois loucos e sentido-se um leve frescor de liberdade, resolvemos cantarolar pela cidade, dançando em cantando chegamos ao Monte das Oliveiras quando percebemos que todos dormiam, a casa estava num silêncio só, resolvemos acordar todos, fomos pro quarto do leproso e começamos a cantar, depois fomos em direção ao quarto da Caifás que nem sequer mexeu o corpo, e pra finalizar fomos ao quarto mais cheio o de José, Maria e Judas, ficamos na porta eu e Jesus a cantar em voz alta, ligando e desligando a luz, pra ver se alguém primeiro reclamava, mas ninguém se prontificou a nos xingar, cansamos e resolvemos parar, estávamos exaustos, Jesus colocou a rede de Maria Madalena na varanda e se deitou, eu me retirei do Monte e fui pra praça, queria ficar quieto um pouco, depois de uma hora retornei pra casa, percebi que Jesus não estava mais na rede e agora dividia a cama com Caifás, fui na cama onde estava peguei meu cobertor e fui deitar na rede, num local mais fresco.
Subitamente me acordo com uma brusca queda de chuva e como a casa não é lá essas coisas, me vejo com uma goteira na rede, onde tenho que me levantar e sair dali o mais rápido possível. Armo a rede no meio da sala, mas me sinto desconfortável e procuro um local pra dormir, percebo que na cama onde dormia com Judas, Maria Madalena dorme, esparramada na cama, vou pro outro quarto e vejo um lado da cama onde o leproso se encontrava vaga, me deito lá e espero todos se levantarem, vejo que logo as pessoas começam a se movimentar por dentro da casa e assim todos se levantam, Maria Madalena é a última a se colocar de pé, quando estou passando pra cozinha a vejo ainda enrolada num lençol, quando olhou pra mim começou a ri, depois me lembrei por qual motivo ela ria, ela ontem, no auge da sua loucura sentou no meu colo, eu a agarrei, coloquei a mão por debaixo de sua saia e penetrei meu dedo em seu ânus, foi esse o motivo de tanto contentamento, me recordo ainda que depois que retirei meu dedo do ânus dela levei ao nariz de Jesus de Nazaré que ficou bêbado e loucamente agarrou minha mão não querendo jamais soltar.
Todos estavam se sentido péssimo naquele dia era o último dia de todos. Cedo Caifás, o sonolento, se prontificou a deixar a casa, em seguida o leproso também teve que deixar a casa, depois pude perceber que Pedro, aquele que renegou cristo por três vezes quando estava sendo condenado, não estava na casa, juntamente com Pôncio Pilatos, o bondoso, os dois deixaram a casa assim que chegaram da festa, a casa estava vazia, meu joelho estava por demais dolorido, me recordo depois que Barrabás também tinha deixado a casa ontem antes do galo cantar, mas que voltaria hoje para se despedir do Monte das Oliveiras, depois que almoçamos percebemos pessoas se concentrando no campo de vôlei, eu não estava com a mínima condição de jogar, mal conseguia caminhar, fui assistir, junto com Maria Madalena e Judas, enquanto Jesus demonstrava sua habilidade, quando pouco antes de deixarmos a casa ao longe percebemos a chegada de Barrabás com mais um outro assaltante, vieram com várias bolas de vôlei dispostos a pernoitar naquele campo, só que sua alegria durou pouco tempo, Barrabás não arriscou nenhuma partida mas o outro assaltante que o acompanhava demonstrou categoricamente pra que veio, depois da demonstração esportiva posamos para fotos já de malas arrumadas, celebramos aquele momento histórico e voltamos para Betânia numa condução repleta de pedintes, percebo que uma senhora pobre que conduzia em sua mão um saco plástico cheio de ervas com manjericão, eva cidreira..., o cheiro empesteou toda a condução, as pessoas ao lado da senhora comentavam aquele cheiro insuportável ali dentro, eu achava tudo aquilo cômico, Maria Madalena ria da situação e eu ficava sem graça, querendo obviamente fazer comentários acerca aquela situação mas não conseguia por conta da proximidade das pessoas a minha volta. Descemos já em Betânia e lá nos despedimos com esperança de nos encontrarmos mais vezes num retiro espiritual igual a esse, realizado no Monte das Oliveiras.

Por: Alisson Meneses de Sá

domingo, 30 de março de 2008

FIM DE SEMANA MARCANTE EM: À HORA DO ADEUS

Não pensem vocês que a foto ao lado trata-se da chegada dos ex-exilados, uma vez expulsos do Brasil por conta da devastadora ditadura militar, excludente e armada contra a força intelectual que lutava contra a forma irracional da polícia política da década de 60 e 70. A foto nada mais é do que uma forma histórica de celebrar o divertimento, a interação, a alegria, e, sobretudo, a vida, onde todos demonstraram suas respectivas capacidades de concretizar a amizade. Eu sou o de camisa branca com chapéu na cabeça, o primeiro da direita pra esquerda, onde devo confessar que nessa foto me encontro extremamente acabado, estou segurando o joelho devido a uma contorção que tive na noite anterior numa partida de vôlei com alguns desses que me acompanham na foto, com uma cara de completo cansaço físico, pois a prática de esporte é inexistente na minha rotina. Em pé encontra-se, da direita pra esquerda, Thiago, Bruno e Anderson Muniz, este último tendo uma forte predileção para jogador de vôlei, sempre ganhando em todas as partidas que estava, os outros dois só ousaram interagir nas partidas de queimado. Já sentado, depois de mim temos, Carlos, que foi outro que além de demonstrar ótimas técnicas de vôlei tem também ótimas técnica de treinador, os gritos dado por ele quando eu errava um lance, até hoje ecoa nos meus ouvidos, na seqüência temos um nativo da região chamado Duende, Pimentão e outros apelidos, inclusive o do presidente do Iraque que não me recordo o nome no momento, mas que saliente que o nome é maior do que esse texto que escrevo, que logo que nos prontificamos a jogar vôlei ele se aproximou fazendo logo contatos intergalácticos, se mostrando sempre muito educado e por sorte nossa e aviso dele, ficamos sabemos de eventos na região, que obviamente nos tirou de um possível tédio, em seguida temos André com um Poá no pescoço, onde se tornou a figura marcante da região e da casa, entrou em contato com todos os vizinho da área e se mostrou solícito em tudo, expondo sua categórica irreverência, após André temos dois nativos, só me recordo o nome do primeiro, o de camisa branca que se chamava Marcão, ou para nós, Papai Vanoli, apelido cedido por André, o último de short azul se mostrou um grande jogador de vôlei, eu me recusava a recepcionar as bolas mandadas por ele, sempre trocando de posição. A ilha de Santa Luzia, local onde habitamos por quatro dias, tirando dessa conta Carlos e Anderson, que chegaram ao penúltimo dia, jamais será a mesma depois dessa nossa temporada. Na verdade esse quadro de pessoas na foto deveria ser bem maior, o número de residentes era muito grande, por volta de 15 pessoas, sem contar os demais nativos que interagiram conosco na partida de vôlei e de queimado. Em verdade eu vos digo, o fim de semana marcante faz menção exatamente ao momento de despedida, quando nos sentimos arrastado para a realidade, hora, os quatros dias ali naquela ilha foi um verdadeiro sonho e que na verdade muitos sentirão falta. Foi na ilha, confinados numa casa que coisas aconteceram e que ficarão por toda uma vida...

Por: Alisson Meneses de Sá

quinta-feira, 27 de março de 2008

QUINTA DE QUINTA EM: FELICIDADE

Ainda estou comovido com aos recados de felicitações que recebi ontem, por isso não criei dentro de mim, hoje, um clima, um espírito de indignação que pudesse aqui expor, não que não tenha exisito durante a semana, mas é por causa da emoção que estou, deixarei pra próxima semana uma publicação ao nível de uma quinta de quinta. Saliento que hoje me encontro muito feliz, num sei por qual razão, mas é algo bem natural, algo interno, sem muita explicação e na verdade pra que explicação não é?

Por: Alisson Meneses de Sá

ESPECIAL DE AGRADECIMENTO

Agradecer é algo que pouquíssimas pessoas aprenderam e conseguem fazer com maestria, pois, o agradecimento é algo natural que se aprende dentro de casa, na educação familiar e também no convívio escolar, este último com pouca freqüência. Agradecer é algo instintivo sem necessitar ter um esforço estratosférico nem alegórico para somente dizer um “muito obrigado”, ou mais economicamente “obrigado”. O efeito que essa palavra reflete como forma de agradecimento numa outra pessoa é tão fantástico que só passando por uma situação de desagravo que podemos sentir o potencial avassalador da palavra.
Sem mais delongas e me sentindo uma pessoa amável, querida e de fácil acesso, utilizo-me do artifício de agradecer a todos o carinho recebido ontem, por uma quantidade de pessoas, que até agora estou surpreso, foram felicitações de várias pessoas, pessoas muito queridas e outras nem tanto, de pessoas que conheço há séculos e outra que conheci no final de semana passado, mas que só o fato de ter me enviado um simples parabéns me fez sentir alguém especial. Continuando com toda minha alegria e vontade de viver que poucas pessoas sabem, enfrentando a péssima situação que estou vivendo nesses últimos tempos, onde me sinto fortalecido.
Em primeiro lugar devo aqui mencionar as mulheres que fazem parte da minha vida, mulheres fabulosas que só me faz admirá-la a cada instante, a cada segundo, são as mulheres da vida: minha mãe, minha avó Tita e minha outra avó Alaíde, essas são minha essência, da primeira adquirir a beleza, da segunda a alegria da terceira a elegância, minha irmã Tássia, nossa como eu a amo, minhas comadres Davina que me deu um presente fabuloso, ser padrinho de João Gabriel, o anjinho da minha vida, e Shirley que também me presenteou com uma verdadeira princesa, uma sapequinha que tanto me faz ri, Maria Clara. Aos homens da minha vida devo aqui me curvar em agradecimento a meu pai, que não se faz mais presente nesse plano, mas que me deixou uma herança fabulosa que é a simplicidade de lidar com as pessoas humildes, sempre se colocando do outro lado, a meu avô Luiz, um pai insubstituível, o verdadeiro homem.
Uma vez eu afirmei que amigo é diferente de família porque amigo agente escolhe para conviver e de fato assim continuo afirmando, se alguém que você escolhe pra dividir suas alegrias e tristeza não corresponde a tais perspectivas agente tem o poder de excluí-las do nosso convívio, com uma pequena dor por não acertar na escolha, mas com o saber de que na próximo será melhor. E nesse jogo de seleção eu garanto que hoje eu tenho amigos que carregarei dentro do meu coração por toda uma vida, hoje isso ficou mais claro, pois, são pessoas que a sensação de segurança por está ao lado deles é completa. É nessa escala que se encontra Miguel, meu irmão, meu amigo, meu primo, meu psiquiatra, uma pessoa que além de tudo é inteligente em lidar com a razão, mas um pouco lento ao lidar com as emoções, mas, talvez seja isso que sempre nos mantenha ligados, porque sabes de todos os problemas que passo e categoricamente sabe estender seu braço amigo nas horas de choro. Thiago Duque, outro amigo, se ao menos ele tivesse o coração mole, conseguiríamos ri mais e chorar mais, mas vejo que isso faz parte de sua personalidade e por isso tenho esse carinho imenso por ti e sei que a recíproca é verdadeira porque basta olhar dentro dos seus olhos pra saber o que sente no coração. Valmor, meu amigo de faculdade que se tornará amigo pra toda uma vida, se não fosse você, tenho certeza que eu passaria pela universidade incógnito, mas nos juntamos e marcamos nosso nome naqueles corredores, foi muito divertido passar todo aquele tempo me deliciando dos comentários que fazíamos nos corredores, a ti vai um agradecimento mui especial. Fagner, uma pessoa que ainda deve ser estudada, seus sentimentos são um enigma para os estudiosos, e talvez seja essa condição enigmática que me faça gostar tanto de sua companhia, de ri com as loucuras proferidas, sempre com astral lá nas alturas e que talvez sinta dificuldade de colocar pra fora angústias e dissabores, mas saiba que mediante essa condição o meu sentimento pro ti sempre será verdadeiro. Bruninho, uma explosão de emoção, ser iluminado, de sentimentos verdadeiros e que sabe explorar conforme a situação ofereça e isso me faz sentir a verdadeira vibração dos seus sentimentos, sentindo-me confiante em está ao seu lado, só posso dizer que continue sempre assim. Nunca pensei que pudesse escrever sobre esta pessoa, posso até me enganar, mas a vida é isso de erro e acertos, mas por conviver contigo por 4 dias pude perceber a pessoa fabulosa que é, André, eu acredito que as pessoas precisem ter pessoas como você a lado, o mundo seria muito melhor, eu consigo perceber em você um ser iluminado e agradeço do fundo do meu coração a transformação que fez durante esses dias, pois, esses dias tinha tudo pra ser desastroso, pelas situações vividas na semana que antecedia nosso encontro, devo isso a você e exijo a sua presença com mais freqüência no nosso grupo de amigos.
Passaria aqui dias e mais dias escrevendo sobre pessoas fabulosas, mas num contexto geral, essas pessoas complementam minha essência como um todo.
A todos, meu muito obrigado, como é importante receber o carinho dos amigos.

Por: Alisson Meneses de Sá

quarta-feira, 26 de março de 2008

QUARTA ARTÍSTICA EM: JAN STEEN NO SÉCULO XVII

Fixando-nos na imagem acima, podemos perceber as várias informações que ela nos oferece, delineando minuciosamente os movimentos de cada personagem e dos objetos. A priori, podemos perceber através das vestimentas do personagem o tempo ali presente, talvez por volta dos séculos XVI, XVII, XVIII, onde adentrando ainda mais na imagem verificamos através da janela um casarão, certificamos, assim, que a imagem representa uma região mais evoluída, descartando a hipótese de ser a região, uma colônia européia, por conta também do uso do chapéu, adereço verificado nos homens.
A movimentação da imagem nos oferece mais informações, olhando o foco principal da imagem, a mulher no centro, que segura na mão direita uma jarra e na esquerda uma taça de vinho, tendo apoiado nas suas pernas a perna esquerda do seu companheiro, com um leve sorriso nos lábios a moça dá pouca atenção ao que a senhora de preto, posicionada no lado direito da imagem diz ao homem sentado, a senhora de preto por sua vez, levantando o dedo, fala num tom de indignação, e por sua vez, o homem, sentado, pouco lhe dá ouvidos, rindo de tudo que a mulher, seriamente, diz, algo referente à religião, pois o homem com um pato nas costas ler uma suposta bíblia.
Destrinchando ainda a figura, podemos analisar a condição da casa, a precariedade no cuidado doméstico, daí percebemos ainda no fundo uma espécie de babá que cochila enquanto as crianças, acordadas, se divertem com os objetos que estão ao seu alcance, verificando a pouca higienização, com a mistura de animais dividindo o mesmo alimento com os moradores e as crianças da casa. A luxúria na imagem é tão evidente que a mulher do centro deixa o homem do seu lado colocar uma flor no seu colo enquanto o músico entoa cantigas ao fundo dando a perceber o ânimo da casa.
Precisamente a imagem nos faz entender que se trata de um período em que a fé andava abalada, as pessoas viviam angustiadas por conta da miséria vivida e pouco davam importância com as leis divinas, onde o número de pessoas descrentes crescia abruptamente. As pessoas não se importavam com o amanhã nem com a pós morte, o cristianismo que vigora na Idade Média estava em declínio é quando Lutero encabeça a reforma dentro da igreja e conseqüentemente se afasta, dando início ao cisma buscando agora correr atrás dos descrentes, pregando um formato mais moderado de pedir perdão a Deus e alcançar as graças divinas sem cobrar indulgência, como fazia os católicos.
Jan Steen perfeitamente delineia o que estava acontecendo na Europa do século XVII, usando de cores fechadas para demonstrar a obscuridade do tempo ali vivido, sem muita perspectiva.

Por: Alisson Meneses de Sá

ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO

Chega um tempo na vida que percebemos estarmos mais maduros, preparados para a vida, e é nesse momento que procuramos dar valor aos sentimentos, procurando lidar com eles controlando mais as nossas ações e sensações. Nesse momento é a hora de enfrentarmos nossos medos, nossas angústias e entrar na batalha a favor da vida, enfrentando tudo aquilo que nos aflige de forma às vezes radical, minimizando o medo da morte ou encarando-a de frente, saboreando o doce gosto do risco que é viver.
Sinto o prazer de envelhecer por está mais capacitado a controlar minha carência afetiva, não sinto mais medo de está sozinho ou me sentir sozinho, não sei se o tempo me acostumou ou se de fato aprendi, com o tempo, a gostar de selecionar as pessoas que devem está ao meu lado, não me importando com a solidão; perdi o medo da angústia que me batia quanto a sensação de solidão era fatídica, mas o pavor de ter piedade foi mais arrebatadora e agora sou capaz de abominar qualquer sentimento que antes podia me dar uma sensação ruim. Não consigo mais tolerar a rabugice das pessoas, sinto-me incapaz de conviver com esse estado de espírito que só tem a me diminuir como espécie, quero está ao lado de pessoas de espírito elevado, de alegria contagiante e inteligência apurada, que me faça ri nas horas de riso e que me faça chorar nos momentos propícios. A tolerância a alguns comportamentos é algo que sinto mais apurado nos meus sentidos, pois um simples olhar feio ou uma simples palavra ofensiva, que antes não era inatingível, hoje é algo que passa pelos meus sentidos e lá são processados como sendo algo de bom ou ruim e daí fazendo a minha seleção natural adaptativa daquilo que foi expresso.
O poder de seleção é o grande agravante dessa minha nova perspectiva, talvez eu possa afirmar que seja o mais importante, porque é dele que sinto a segurança antes desconhecida. Antes conseguia gostar de todos com o mesmo valor, sem muito distinguir características, hoje consigo dar valores e sentimentos, me afastando sobremaneira daqueles que tem valores abaixo da média, é a chamada seleção natural das coisas. A seleção me deu o poder de ver a malícia dentro das pessoas, coisa que não me pertencia, pois me sentia incapaz de tal ato por me sentir só, tanto no presente ou futuro, era algo angustiante e hoje se tornou saboroso selecionar quem de fato deve está em minha companhia, que seja por um dia, dois, um mês, dois meses, um ano ou por toda uma vida, isso agora me é permitido simplesmente porque o amadurecimento me dá esse privilégio, como também me é dado o direito de nem sequer desfrutar um segundo sequer com alguém que eu ache não merecedor do prazer que é estar ao meu lado.
Mais seleção e pouca tolerância são os guias que conduzem os meus sentidos.

Por: Alisson Meneses de Sá

TERÇA RETRÔ EM: ARACAJU SITIADA - II

Percebemos anteriormente que a cidade de Aracaju vivia num turbilhão de acontecimentos revoltosos, querendo medidas urgentes contra o ataque sofrido pelo submarino alemão. Tanto a classe baixa como a alta saia em manifestações nas ruas da cidade. Diante de todos esses acontecimentos o interventor de Sergipe Augusto Maynard manda avisar ao presidente Vargas que o estado estava pronto para qualquer tipo de ataque que pudesse defender o território brasileiro.
De fato a cidade de Aracaju se preparou para qualquer tipo de ataque e as passeatas e comícios tornaram-se corriqueiros, se espalhando pelo interior com intuito de esclarecer a sociedade sergipana tudo que estava se passando no seu litoral. Começamos então a perceber que o medo não só estava no mar, mas também ao nosso lado, um possível vizinho, quem sabe, poderia fazer parte da quinta-coluna. Suspeitos eram presos e depois soltos, pois não tinham provas suficientes. As pessoas viviam amedrontadas, tanto por um possível ataque quanto de ser confundido com um integrante da quinta, onde as agressões a estes últimos eram aterrorizantes, partindo sempre de estudantes.


Em 31 de julho de 1943 um novo torpedeamento, agora atingindo o Bagé. Dessa vez a cidade não recebia a notícia com tanto medo como fora os primeiros torpedeamentos. A cidade se prepara para o ataque, os rádios e jornais noticiavam o treinamento para a população para um provável ataque com exercícios de blecaute. A população vivia polvorosa, onde sequer um fósforo poderia ser acesso para não dá sinal.
A polícia aproveitando do poder que lhes era dado abusava assim da sua patente contra os cidadãos, onde estes não podiam passar das 22:00h e se estivessem sem documentos eram levados presos, sendo amarrados ao cavalo e conduzido até a delegacia.


Os treinamentos deixavam toda a população aflita, pois os aviões davam freqüentes rasantes pela cidade e atingiam pontos já estratégicos, sem contar os pontos em que metralhadoras eram posicionadas nas ruas da cidade. Alguns populares faziam buracos no quintal de suas casas, para na hora do ensaio aéreo se esconder.
E assim viveu a população aracajuana, desde o primeiro torpedeamento até os ensaios de blecaute e os aéreos, se imbuindo do nacionalismo pouco visto nos dias atuais e se projetando na esfera nacional como fator decisório quanto à participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e assim eu finalizo todo esse contexto com uma frase de Antônio Lindvaldo de Souza, que escreveu, Aracaju: memórias de uma cidade sitiada (1942-1945) “Isto é o pouco que sei. Essa foi a história que aprendi...”

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 25 de março de 2008

SEGUNDA CRÔNICA EM: SEMANA SANTA ÀS AVESSAS

PARTE II

Dando continuidades ao cômico confinamento que rendeu aos participantes grandes feitos, grandes histórias e grandes amores e também quem sabe, grandes dissabores, onde evidentemente a perspicácia e a personalidade forte de todos deram esse sabor, sem contar que nessa via sacra Jesus Cristo não tem tanta importância assim.
O dia amanhece e o sol que consegue ultrapassar os buracos da janela, da porta e do telhado fez com que eu me despertasse , sendo assim o primeiro a caminhar pela casa, sem ter precisão da hora, pois foi algo que ali eu abominei. Abri a porta dos fundos, fui ao banheiro, lavei o rosto e fui em seguida abrir a porta da frente, peguei um livro e comecei a ler num sofá que estava na varanda. Lá dentro da casa percebo que alguém despertara e logo descubro que é Judas que se posiciona na porta, olha pra mim e me dá um bom dia com um hálito horripilante, ficamos ali no sofá conversando quando percebemos do lado de fora dois vizinhos se comunicando. O do lado esquerdo perguntava ao do lado direito se tinham conseguido dormir bem após o cabaré da noite anterior. Os judeus que tinham opiniões diversas sobre a conduta de Jesus Cristo, filho de Deus, enviado para salvar o povo, mantinha essa característica. O do lado direito adorava nossa diversão, sempre se prostravam na varanda para ver o que aprontávamos já os do lado esquerdo faziam críticas a nossa conduta um tanto quanto anormal para aquele vilarejo. Escutamos aquele comentário, eu e Judas, rindo, por conta que eles não nos viam. Sem contar na decoração que Maria Madalena fizera para a chegada de Jesus Cristo, que, aliás, rendeu a vários curiosos da redondeza registros com suas respectivas máquinas digitais e celulares.
Caifás que segundo informações, sofria de pressão alta, e que não curtiu a festa da noite passada até o fim, indo dormir cedo logo se acordou, fazendo companhia aos entediados lá na varanda, depois nos prontificamos na cozinha e fizemos nossos próprios desjejuns, Maria, a prenha, em seguida levantou-se e aos poucos percebemos a casa despertando. Eu e Judas saímos pro rio, em seguida Caifás, que traiçoeiramente julgou Jesus de Nazaré nos acompanhou, tem quem diga que foi o momento em que ele tentou comprar a traição de Judas para com Jesus por 30 pratas, mas eu que ali estava presente com Judas certifico que isso não aconteceu, Caifás somente registrou em seu celular uma foto minha e de Judas se banhando naquele rio. Ao retornarmos percebemos que a casa toda estava de pé e em ritmo acelerado, com canções nada convencionais para uma manhã de sexta-feira santa, onde todos deveriam está aclamando orações de boas vindas para Jesus que logo deveria chegar. Na cozinha, já preparando o almoço estava José que em hora e hora se desentendia com Maria mãe de Jesus, esta se demonstrava sempre impaciente. Os grupos se formavam nos compartimentos da casa para contar fatos marcantes do dia anterior. Eu por conta da grande quantidade de álcool digerido sequer consegui almoçar. À tarde em Jerusalém foi de completa distração, quando iniciamos uma partida de queimado na praça que ficava logo á frente do Monte das Oliveiras, local onde Jesus posteriormente seria crucificado. Separamos os times e iniciamos espontaneamente o jogo, com disputas cômicas, quando de repente percebemos, caminhando ao longe, trazendo nos braços uma bola de vôlei, o grande filho de Deus, o próprio Jesus de Nazaré, que impressionado ficou com a decoração do Monte das Oliveiras feito por Maria Madalena para demonstrar nitidamente seu real interesse no prometido por Deus, mas ficou ele mais impressionado ainda, pois, nenhum dos confinados se manifestou quanto a sua presença, trazendo a bola e ficando de fora do jogo, pois acredito que ninguém percebeu que aquela bola posteriormente seria conhecida como Santo Graal. O jogo terminou com uma verdadeira lambança, mistura de suor com areia, terminando assim a partida. Os que participaram do jogo ressorveram se jogar no rio, fazendo altas algazarras, Judas e Maria Madalena começaram uma disputa que muitos depois afirmaram ser pessoal, uma disputa pra ver que conseguia o coração de Jesus primeiro, um derrubava o outro dentro da água, estando os dois na cacunda de mais dois ali presentes, parecia uma verdadeira rinha de galinhas. Não me sentindo muito bem dentro da água saiu e volto pro Monte das Oliveiras, logo em seguida foi chegando os demais.
A noite começou com um furdunço em volta da mesa, tendo como cardápio um delicioso cachorro-quente feito pelas mãos do carpinteiro José, todos comeram com prazer e grande satisfação, demonstrada nos olhos. O ponto alto da noite foi quando Maria Madalena manifestou seus dotes num horrendo show, como a própria diz, com a ajuda de Pedro, que não se negou nenhuma vez para demonstrar sua contribuição e José de Arimatéia que além de ter a sapiência de conduzir o corpo de Jesus, morto na cruz, conduziu também o show de Maria Madalena, a injustiçada pelos judeus. Nesse momento Jesus já tinha deixado o Monte, retornando para Betânia, prometendo seu retorno ao Monte no sábado de Aleluia. O show de Maria Madalena foi tão espetacular que não só rendeu aos confinados boas risadas como também a vizinhança daquele vilarejo. A festa pipocava num frenesi só, quando a leprosa, que estava acompanhado de Pôncio Pilatos passou mal, sentido forte dores no pé da barriga, deixando todos preocupados, o apoio dado por Pilatos foi extremo e assim que a situação foi parcialmente contornada a festa voltou a acontecer, pois logo cedo à leprosa se recolheu juntamente com Pilatos, eu logo fui me recolher, também não estava muito bem, mas antes de deitar pude perceber que na varanda Judas já estava num estado já alterado, o leproso que se mantivera quieto por todo esse tempo estava também num estado alterado e dançava alucinadamente com José que estava sozinho, pois, Maria estava se sentindo pesada e logo foi se recolher, fui logo cedo me deitar, deixando a casa em completa efervescência.

Em breve a parte III

Por: Alisson Meneses de Sá

segunda-feira, 24 de março de 2008

SEGUNDA CRÔNICA EM: SEMANA SANTA ÀS AVESSAS

PARTE I


Baseando-se exatamente no fim de semana que rege o evento que aqui descreverei, vamos imaginar uma casa, um pouco distante da civilização alucinada da cidade grande, imaginemos ainda dentro dessa casa uma comitiva de primeira linha, personagens que na verdade movimentou o vilarejo chamado de Jerusalém, especificamente o Monte das Oliveiras, continuemos a imaginar o confinamento de figuras como Jesus de Nazaré, Maria, José, Pôncio Pilatos, José de Arimatéia, Caifás, Maria Madalena, Barrabás, os discípulos Pedro e Judas Iscariotes e dois leprosos, sem contar na participação dos judeus na vizinhança que também deram um tempero a mais ao confinamento, não pensem que será a encenação da morte e ressurreição de Cristo, muito pelo contrário. São Personagens de nomes fictícios, mas de ações reais, que com o decorrer dos acontecimentos irão definindo suas reais personalidades.
A minha participação nesse contexto ficará somente como observador dos fatos, haja vista que a Pata, apelido que me foi dado, não fazia parte da história que conta a morte e a ressurreição de cristo. Vale ainda salientar que figuras que passaram pela Santa Ceia e que não tiveram uma certa notoriedade, aqui não serão mencionado, pois, levo em consideração um fator primordial chamado interação interpessoal ou melhor dizendo, sociabilidade com o grupo de pessoas que pouco se conhecem e tem em mente um único objetivo, sair da rotina exaustiva do dia-a-dia e se enveredar na interação do divertimento. Assim sendo, aqui só constarão pessoas que exalaram dos seus poros algo que poucos conhecem o GLAMOUR. Não esperem aqui uma encenação da morte e ressurreição de cristo como realmente conta a bíblia, pois, muito pelo contrário, aqui todos têm sua devido importância, deixando assim seu recado registrado na vida daquela comunidade que não será mais a mesma.
Estava em casa, ainda em Betânia (cidade esta que Jesus de Nazaré esteve antes de entrar em Jerusalém), de malas prontas quando chega Judas Iscariotes (vale ressaltar que o valor histórico das ações do verdadeiro Judas não está presente na pessoa aqui mencionada, em verdade eu vós digo que Judas abrilhantou de forma fabulosa o contexto da morte de cristo, valendo então do glamour que o Judas obteve eu assim preferi denominar a pessoa aqui encubada) para jantar em minha companhia e assim podermos aguardar a chegada de Pedro (este que também teve um papel fundamental na vida de Jesus sendo o primeiro a conduzir seus ensinamentos, fundando o maior império religioso chamado de Cristianismo) que estava de condução, assim, facilitando nossa chegada a Jerusalém. Antes disso Judas me antecipava alguns detalhes, pois alguns desses personagens tiveram uma aparição rápida na semana anterior, me contando alguns comportamentos estranhos de alguns participantes e a formação de casais dentro do confinamento, deixando nítida a chupada que levara no pescoço numa brincadeira. Assim que Pedro chegou colocamos nossas bagagens na sua condução e nos dirigimos a Jerusalém. Lá chegando nos deparamos apenas com Maria, José, Caifás e um leproso, em seguida sentimos que o tempo tivera se fechado rapidamente e ficamos ali, na expectativa de aquela chuva passar para que pudéssemos nos sentir mais a vontade, levando em consideração a precariedade da casa e os buracos do telhado que provocava muitas goteiras por toda casa e assim termos mais movimentos nela. Para quebrar o gelo resolvemos enfrentar a chuva ali presente, eu, Maria, José e Judas resolvemos interagir com a chuva, correndo como crianças pela rua do vilarejo. Diante daquela tempestade que caía fomos em direção ao rio que separava Jerusalém de Betânia e lá Maria que estava de barriga (naquele dia não sabíamos precisar se ela iria dá a luz a Jesus Cristo, o que depois ficamos sabendo que Jesus já tinha nascido e que ali naquele ventre Maria conduzia o irmão de Jesus) nos contava detalhes sobre alguns personagens e José (que se dispôs a fazer todo o trabalho doméstico, especificamente os culinários, por conta da indisposição de Maria) me contava detalhes da culinária que pretendia adotar.
Ao retornarmos ao Monte das Oliveiras percebemos a presença de Maria Madalena, aliás, não só nós percebemos, mas toda a comunidade de Jerusalém pôde perceber, diante do seu potencial de presença e pelo conteúdo da sua mala de rodinhas ou quem sabe por seu Poá, sempre envolto ao seu pescoço. Posteriormente mais um participante da casa chega, Pôncio Pilatos que estava acompanhado de algum andarilho o que de fato muitos acharam estranho, pois era sabido que na semana anterior Pôncio Pilatos estava tendo caso firme com uma leprosa que Jesus curou (fato esse que será contado posteriormente). Para interação de toda equipe foi necessário que bebidas fizessem presente, bem como músicas do estilo dos participantes e muitas brincadeiras, a água quase era transformada em vinho, por conta da necessidade de espontaneidade que aquele confinamento exigia. Estavam todos reunidos na varanda, reunidos talvez para a Santa Ceia quando adentra ao recinto mais uma dupla que também teve grande relevância, era José de Arimatéia e a leprosa (depois será justificado o porquê do leproso, logo acima mencionado e a leprosa de agora) que logo se introduziram na roda ali formada, logo se interagindo naquele ambiente. A leprosa logo correu pros braços de Pôncio Pilatos que não se importou do seu estatos na sociedade e a recebeu de braços abertos como também José de Arimatéia logo se aproximou de Pedro, formando assim o terceiro casal da casa. Podemos assim perceber que a presença de Jesus nesse primeiro dia não foi mencionado por conta de alguns afazeres do mesmo em Betânia, já que necessitava de uma entrada triunfal em Jerusalém, onde todos já se preparavam. Já eram quatro horas da sexta-feira santa quando todos deram trégua aos seus respectivos corpos e deitaram, cada um no seu ninho já armado, eu obviamente não tinha ninho definido, acabei dormindo no sofá, entre uma goteira ou outra conseguir relaxar meu corpo pro alguns instantes

Logo em breve a segunda parte.

Por: Alisson Meneses de Sá

quinta-feira, 20 de março de 2008

QUINTA DE QUINTA EM: O QUE É MEU EU DEFENDO

A quinta de quinta nada mais é do que um grito, uma forma de liberar algo que me incomoda, onde usarei o blog para expor, colocar tudo aquilo que as vezes fica engasgado na garganta e que prendemos por pura convenções, para fora. Na quinta de quinta as palavras não serão poupadas, sendo expostas de forma grotesca, usando talvez do poder da palavra para libertar qualquer sentimento que teime passar pela minha consciência e lá estacionar. As palavras que serão usadas na quinta de quinta têm como propósito chocar um pouco o leitor mostrando outro viés literário, se debruçando nas palavras mais vil que possa existir.
E para dar início a nossa quinta de quinta começo com algo que me vem fazendo muito mal por esses dias, aliás, por muito tempo. A situação vem me incomodando paulatinamente e com o tempo só fez crescer. Às vezes eu tento buscar respostas nas minhas ações para as ações mal sucedidas de outras pessoas, às vezes quando vejo que algo não é da minha ossada eu me afasto. Mas quando vejo que o caso é grave, que está fugindo de controle e que na verdade sentimentos estão sendo usados, daí, encabeço uma guerra em dois tempos, me incorporo no próprio super-homem e sou capaz de cometer atrocidades, ainda mais se esses sentimentos envolve pessoas que pra mim são fundamentais, pessoas que guardo dentro de mim como pérolas preciosas.
Culpa todo mundo tem no cartório sobre tudo, todo mundo tem culpa se o Brasil continua essa bosta, todo mundo tem culpa se o planeta vive poluído, em tudo todos tem sua parcela de culpa, daí me vem um sujeito, com uma personalidade um tanto quanto duvidosa e me diz ser um santo, que na verdade tudo que está acontecendo tem uma única causadora que é a família, que todos devem ajudar ela pois a situação é degradante. Filho da puta. Cretino. Idiota. Manipulador. Vigarista. Acha que porque é filho de pai e mãe, portadores de bens condizentes, se acha no direito de apontar o dedo e dizer que a máxima culpa está num simples relacionamento familiar. Filho da puta mesmo. O seu cinismo em nada me comove mais, antes, no principio de toda essa crise emocional pela qual ela passou e que por ventura pude presenciar, realmente, dei o braço a torcer e acreditei que na verdade fosse essa a verdadeira causa do problema que ela passava, mas com o passar do tempo fui analisando friamente toda a situação e voltei à estaca zero, aliás, aos números negativos, pois hoje conta somente com números devedores comigo. Não adianta, minha mente que é por demais flexível está sacramentada que a máxima culpa está incrustada na sua capacidade de manipular um ser. Soube usar de vários estratagemas para conduzir a situação, aproveitou da fragilidade sentimental por que ela passava e a submeteu a papeis ridículos, coisa que jamais poderíamos imaginar acontecer, uma vez que ela possuía um caráter forte, de mulher que estava à frente desse papel de mulher reduzida a somente obedecer ao macho. Mas vimos que isso é possível contigo, não sabemos como, mas estamos vendo que isso foi possível. Alguém pode me dizer que isso é amor... Com diz um amigo meu, que analisa o amor friamente, "o amor é algo que lhe trás o bem, que lhe dá prazer" muito pelo contrário, você conseguiu sufocar, manipular e persuadir a inteligência dela de uma forma tão vil que depois de tudo se sente culpado, tendo a coragem de afirmar que não tem culpa que na verdade as injustiças vêm de dentro de casa. Quem és tu pra apontar o dedo e dizer que o erro está onde pensas está. Nós sim, agora podemos apontar pra sua cara e afirmar que você a transformou num animal doméstico, e, diga-se de passagem, seu animal doméstico. Uma vez que nunca, mas nunca ela tinha passado por coisa parecida como está passando agora, sabendo também que você mesmo teve que fazer tratamento para se curar de uma doença chamada possessão. Hora meu camarada, vejo que é hora de se orientar na vida e seguir um rumo diferente do dela, pois iremos realmente verificar o que se passava e tomar todas as providências possíveis. E o mais absurdo de tudo, só pra fechar essa minha quinta de quinta, você teve a coragem, sabendo da situação atual pela qual ela passa, de dizer insultos pra ela, afirmando saber que ela estava ficando com outra pessoa numa festa. Você não acha que isso é demais pra qualquer pessoa normal não? O pior que a sua resposta será não, porque de pessoa como você, que são capazes de fazer atrocidades a achar tudo natural, o mundo anda cheio. Mas nós não cruzaremos os braços como deseja que cruzemos, estaremos prontos pra defendê-la com unhas e dentes de qualquer mal que possa ocorrer. Deixa-a em paz, vá viver sua vida tranquilamente, pra defender minha irmã e tirá-la da situação que você colocou eu serei capaz de qualquer coisa, nem que pra isso eu tenha que sofrer, mas está mexendo com alguém que pra mim e mais que especial. As oportunidades foram dadas, não soube agarrar, então o tempo passa e vamos somente aprimorando esses nossos sentimentos.

Por: Alisson Meneses de Sá

quarta-feira, 19 de março de 2008

QUARTA ARTÍSTICA EM: MANGUE

A quarta artística nada mais é do que a exposição de pinturas ou afrescos, onde delinearei o trabalho exposto sob um parecer não tão técnico. De antemão afirmo que meu conhecimento sobre as artes plásticas é bastante superficial, tentando passar do lúdico para o analítico e contextualizar a expressão exposta pelo autor da obra, buscando com isso ultrapassar o amadorismo e indo vagar na comicidade ou no dramalhão mais técnico.

Para iniciar as quartas artísticas, mostraremos uma obra de Di Cavalcanti, intitulada de Mangue. O título em si já nos trás, a princípio, a percepção de que veremos na figura algo sujo e obscuro e para confirmar essa premissa exposta verificamos as cores que com ele o autor expõe seus sentimentos, sempre usando das cores fechadas para se expressar. O mangue é uma aquarela de grafite datada de 1929, Di Cavalcante era considerado um artista modernista que buscava reivindicar suas indignações através de sua arte.
O mangue retrata a história das polacas, as judias, que saiam dos seus países, amedrontadas com o anti-semitismo que culminava na Europa, sendo muitas vezes ludibriadas por homens que as faziam promessas, dizendo que aqui no Brasil se casariam com judeus. Aqui no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, percebiam que foram enganadas e com vergonha de retornar pra seu país, decepcionando toda a família ou com medo da repressão existente lá, resolviam permanecer aqui e ganhar a vida como meretrizes. A obra de Di Cavalcanti retrata exatamente a angustia que viviam as polacas, onde nitidamente a aquarela destaca no centro da imagem uma polaca de cabelos claros com seus dentes completamente descuidada, não deixando escapar, obviamente, o charme que lhes eram peculiar, percebendo ainda na mesma personagem uma bolsa e um leque, sendo segurada pela sua mãe direita. O trabalho mostra evidentemente a movimentação que era as noites dos bordeis no Rio. O artista faz homenagem a um dos bordeis que ele próprio freqüentava, chamado de Mangue do Rio, daí a homenagem ao título, enfatizando além das moças sempre a se oferecer com olhos melancólicos quanto a outros tipos de diversão, onde um homem que está posicionado ao lado direito da tela no canto de baixo, levanta uma garrafa, percebendo que ali não consta mais bebida se posicionando para pedir outra garrafa. A pintura nos dá uma dimensão de alguém, nesse caso o público que admira a obra, está a se levantar de alguma mesa lá posicionada pra circular no salão, daí percebemos que as mulheres, nesse caso, as prostitutas, percebendo essa disposição do eu - personagem, começam a se exibir com seus corpos languidos e caminhadas compassadas pelo salão. Levamos ainda a acreditar que ali a música toca pra descontrair o ambiente onde observamos ainda uma negra completamente nua, agarrada de seu parceiro que a conduz em passos de dança, não se importando com aquele despudor exibicionista da sua amante, pois pra ele, que obviamente seria algum trabalhador que logo deixara seu expediente para está ali, se deleitando nos braços de sua preferida manteúda, o que importava era a diversão e está sempre em companhia de mulheres. Di Cavalcanti é muito claro nessa exposição quando nos delineia de forma óbvia a vida angustiante das polacas que viviam no Rio. A obra foi à polaca Estera Gladkowicer.

Por: Alisson Meneses de Sá

terça-feira, 18 de março de 2008

TERÇA RETRÔ EM: ARACAJU SITIADA

Prestando aqui uma pequena homenagem à cidade de Aracaju que completou ontem 153 anos de existência e dando início com isso as terças retrô que tem como norte expor de forma enfática e pessoal fatos de cunho histórico. Nessa perspectiva trazemos à tona um fato que mostrou Aracaju, no âmbito internacional, em meio à segunda guerra mundial, posicionando o Brasil no conflito de forma incisiva e marcante para todos que viram e viveram na Aracaju uma vez sitiada.

Vamos nos imaginar moradores da cidade de Aracaju da década de 40, especificamente morando numas das ruas localizada no centro da cidade, como por exemplo, a Rua Estância, como a da foto acima, haja vista, que os bairros mais longínquos do centro ainda estão em estado de bastante precariedade, bairros esses hoje conhecidos como Santos Dumont, Siqueira Campos. Imaginemos tais condições para termos a nítida impressão do que passou a população aracajuana quando eclodiu uma revolta popular para que o presidente da república, na época Getúlio Vargas, instaurando o Estado Novo, tomasse um posicionamento na Segunda Guerra Mundial.
Vivemos numa cidade pouco evoluída, faltando em muitas ruas, calçamento, luz elétrica e água, se agravando ainda mais do centro para a periferia, onde a cidade era conhecida como a “cidade da palha” por conta do grande número de casas que ainda eram construídas de forma arcaica, com palhas ao invés de telhado. Os jornais que habitualmente acompanhamos, por sua vez, fazem severas críticas ao tal desenvolvimento que parece não querer chegar aqui, constantemente mencionando os atos heróicos de Fausto Cardoso quando fez um levante na praça, que hoje leva seu nome, em meados de 1906, indignado com situação precária da cidade, comparada com as demais do país; além disso, os jornais criticavam também o comportamento dos pedestres e noticiavam além dos fatos políticos nacionais o acompanhamento da segunda guerra na Europa.

Até aqui parece que tudo estava tranqüilo, como na verdade era a cidade de Aracaju em meados da década de 40, como mostra a foto acima. Mas além dessa situação exposta algo mais incomodava a população não só aracajuana, mas como de todo estado de Sergipe, pois, por conta da guerra na Europa o tráfego marítimo foi obstruído e como a maioria dos produtos alimentícios vinham do sul, conseqüentemente os produtos eram escassos e quando existiam tinha um valor pouco condizendo com a realidade da população, a parti daí percebemos grande problemas sociais que se desenvolvia particularmente na capital, onde fica nítida o grande número de assaltos existente à noite às casas da famílias mais abastadas. Além de conduzir alimentos os navios também eram um dos meios de transporte mais usado naquela época. Em Aracaju a ponte do Lima era onde as famílias se aglomeravam para esperar seus familiares que vinham do sul e as moças mais afoitas se exibiam para os marinheiros que aqui aportavam.

Esperávamos em 16 de agosto de 1942 uma embarcação que vinha da Bahia e as notícias que corre de esquina em esquina e que algo de estranho tinha acontecido no litoral, às notícias chegavam através de curiosos que ficavam pelas ruas a investigar o que realmente tivera ocorrido no mar, nada agradável nos chegava, não tínhamos ainda a noção de que submarinos alemães estavam por trás do naufrágio que ocorrera com o navio Aníbal Benévolo na noite do dia 16 de agosto, mas sobreviventes do naufrágio confirmaram que de fato submarinos submergiam da água e metralharam o navio. Recebíamos notícias de que pessoas ainda lutavam no mar pra sobreviver, dentre eles existiam homens, mulheres e crianças, mas a maioria dos sobreviventes foram tripulantes que trabalhavam na embarcação. Na cidade a população ouvia os comentários do torpedeamento e se revoltavam contra o ataque, se sentindo desprotegidos, inseguros e ameaçados, contando somente com a sorte, vários grupos de estudantes se mobilizavam nas praças saindo em passeatas gritando por uma participação mais ativa do governo federal no tocante a tragédia ocorrida. A sociedade em nada estava preparada com todo o reboliço que se deu na cidade um tanto quanto pacata, o medo estava expresso nas faces dos populares, era o medo de ser subitamente invadida pelos invasores alemães, era o medo de ser bombardeados pela força armada pouco conhecida dos aracajuanos que mal tinham visto falar sobre ataques submarinos, sem falar na indignação de saber que corpos fuzilados boiavam no mar. A sociedade se impôs diante de todas essas ocorrências esperando uma ação imediata do governo de Getúlio Vargas que até então se mantinha neutro. Após a participação do Brasil na II Guerra a sociedade aracajuana teve que se adaptar a esse medo latente e se imbuiu de formatos de salvaguarda em toda a cidade, moldando toda população para um possível ataque alemão, de fato a cidadã estava toda tomada pelo espírito de guerra. Ademais, decorrer sobre o que se transformou a cidade de Aracaju quando da entrada do país na guerra, rende mais uma terça retrô.

Por: Alisson Meneses de Sá

segunda-feira, 17 de março de 2008

SEGUNDA CRÔNICA EM: AOS DOMINGOS

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A segunda crônica tem como objetivo expor minhas idéias como autor e colocar no campo da evidência as várias maneiras de se conotar as ações humanas, de forma um tanto quanto peculiar ou não. Toda segunda será apresentada aos leitores do blog Samurai, textos de cunho pessoal, às vezes como uma crônica ou como um conto. Iniciaremos assim essa segunda crônica com dois textos: Aos Domingos e Terceiro olho, que falam exatamente como vejo o comportamento de duas pessoas muito próxima desse que vos escreve.
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AOS DOMINGOS

Ao entardecer ela se arruma, parece uma ópera quando movimenta seus membros em direção a sua face frente ao pequeno espelho do seu quarto, pendurado na parede, em cima de sua cama de casal, sempre solitária. Sua face demonstra ansiedade durante aqueles curtos minutos em que ela fica ali, parada olhando pro espelho e refletindo interiormente sobre o que realmente ela pretende fazer daquela hora por diante, pois, sentia-se impulsionada por algo estranho, talvez fosse um sentimento de devassidão que a toma durante todos os domingos. Dia esse reservado para Deus, segundo a igreja católica, mas para ela tratava-se nada menos do que se entregar ao despudor, deliberando todas as suas energias de mulher promíscua que possa existir em um ser. As horas se passavam e mais angustiada ela ficava, mal sabia dizer se aquilo era somente algo que ocorria somente naquele domingo ou se todos os domingos na qual se disponibilizava de realizar aquele mesmo ritual. Ela ficava naquele estado de congelamento interior parecendo uma criança franzina quando aguarda o cumprimento da promessa do pai em levá-la ao parque de diversão, sempre aos domingos.
Descia as escadas mentalizando pra si todas as energias positivas, descia aquela estreita escada se afirmando não ser aquilo que parecia ser e desvirtuando toda aquela má impressão de mulher vulgar que poderiam logo perceber ser.As escadas era seu primeiro passo para entrar na vida que só lhe era permita aos domingos, conseqüentemente depois que ocorresse aquele instante nada mais lhe importava, se transformava na verdadeira devassa. Quando aquela personalidade de que lhe era peculiar durante os seis restantes dias da semana na qual trabalhava como um ser normal e possuía uma vida extremamente regrada, se acordando às 06:20h da manhã e tomando seu desjejum sempre regado a alguma raiz, não lhe fosse mais necessária, iria dar boas risadas pelo que já tivera que passar.
Rebolava faceiramente por aquela rua de olhares perversos e as vezes de desejo, passava por línguas angustiante de mulheres que desejavam ter nela a mesma ousadia que aquela exuberante mulher exibia, sempre naquele horário e aos domingos. Jamais se sentiu retraída diante dos suspiros de reprovação, erguia fervorosamente seu nariz e seguia adiante como se aquilo pra ela fosse realmente um triunfo, rindo particularmente por saber que daquela ousadia só lhe restava o prazer que mais tarde seria suprido ou quem sabe o encontro do verdadeiro desejo que lhe acometia de tal situação.
Seu retorno era sempre cheio de suspiros ofegantes. Mostrava-se sempre realizada e sempre com um enredo para contar as suas companheiras de vila que por hora também exercia a mesma função que ela. As expectativas sempre eram contagiantes e todas se debruçavam pra ouvir seus sonhos de um dia sair daquela batalha, e sempre aos domingos nutria um amor imensurável por alguém que talvez só nutrisse por ela o desejo de ter aos seus braços e saciar seus desejos mais carnais possíveis, mas pra ela algo mais sempre existia, mesmo que não fosse tão declarado quanto poderia ser, mas que só bastava a sua cabeça criar toda essa situação de reciprocidade que a moça deixava de pensar na sua vida angustiante pra imaginar outra vida com mais sabores e cores vibrantes.
Todos os domingos era assim, uma pedra pra se tirar do caminho e um amor pra se construir, seja lá de que ordem e ou de que raça fosse, o importante que nutra por ela o desejo de te possuir como uma verdadeira mulher e não como verdadeira amante peculiar dos domingos e dias santos.

Por: Alisson Meneses de Sá

SEGUNDA CRÔNICA EM: UM TERCEIRO OLHO

Olhava-o atentamente naquele sofá, buscando em algum gesto alguma resposta para todos seus questionamentos. Preferiu não emitir mais nenhum comentário daquilo que era o combustível da sua vida. Achava-o sempre confuso e quem sabe, radicalmente expressando, tornou-se com o decorrer do tempo um ser sem personalidade própria, reduzindo-se ao ridículo daquilo que ele próprio e muitos chamam de “entrega”. Tornou-se pitoresco a exaltação dos tempos em que esteve acorrentado a essa imponente cena de intrigas, entregas e coisas do gênero, que lhe deram aos seus olhos às lágrimas que lhes foram necessárias. A outra parte sempre lhe imobilizou e por muitas vezes sem ar você chegou ao limite da vida e a reposta a toda essa angustiante situação era dolorida. O amor jamais esteve presente nesse emaranhado de palavras que percorriam a altivez do ódio e a complacência do bem querer, acredito que fosse uma espécie de gostar, um carinho... Mas que tipo de sentimento pode ser dado já que pinta a outra parte sempre nas cores obscuras? É melhor não adentrar mais nos seus sentimentos por ser eles uma extravagância de oscilações. Criarei o muro que separará esse interesse em poder me colocar na mesma situação e assim só poder ter notícias suas através de outros meios. Não agüentaria personificar seus sentimentos de autoflagelo por achar que o amor vale mais que essa liberdade que há muito me cerca. Vale o respeito, vale o saber depositar na outra parte toda a estrutura sentimental para que ambos saibam aproveitar da melhor forma possível e não sendo usada com uma arma ou estratégia de guerra, sempre buscando atingir a parte mais fraca. É assim que observamos essa fraqueza que lhe é peculiar diante de todas essas situações que nos apresenta, tudo em nome de um tempo. Tempo este que esteve embutido os dissabores da vida, sempre numa escala maior, comparando com os verdadeiros e reais sabores que uma verdadeira entrega de valores e sentimentos possa nos oferecer. O amor supera tudo e é sempre uma busca pela renovação. Assim continuei a observá-lo, mas com um olhar de sentimento nobre, com vontade de acalentar aquele ser que ver no sofrimento o seu prazer.

Por: Alisson Meneses de Sá

sexta-feira, 14 de março de 2008

SEXTA MARCANTE COM ASHLEY DUPRÉ

Dando início as nossas sextas marcantes, que tem como intuito registrar a imagem da semana, sendo esta um fato atual, noticiado, sobretudo na TV, que seja de domínio público e que tenha a pretensão de ficar pra posteridade, onde tecerei comentários sobre a foto e o fato.


Tem quem diga que a história dela renda um performático livro e que se acompanhar a crista da onda atual que conduz todo esse enredo americano, derrubando o governador de Nova York Eliot Spitzer, virando, assim, mais uma nebulosa página da política americana, num fatídico caso que está virando corriqueiro por aquelas bandas, a obra provavelmente se transformará num best saler
Para celebrar o mês de março que cai exatamente no dia internacional das mulheres, faço aqui uma homenagem a elas, mulheres guerreiras e de destaque que suam para conseguir seu lugar ao sol, ou na verdade transam para conseguir se destacar na vida. Na verdade a foto que destaca a “sexta marcante” poderia ser de alguém mais distinta como seria o caso da sempre sorridente e infalível Condoleezza Rice, que esteve no Brasil ainda esta semana, como também poderia ser a minha favorita ao cargo de presidente dos Estados Unidos, a Hillary Clinton, mas preferi iniciar com um fato sórdido que assolou as manchetes de todos os noticiários americanos essa semana, que foi o caso do governador de Nova York com a prostituta Ashley Dupré, que assina seu poderoso nome na calçada da fama. Virando mais uma página negra da história americana encontramos outros fatos semelhante, lembram da Mônica e do presidente Clinton? Pois é, dentre esses casos tivemos também o do senador de Idaho que assediou um policial no banheiro de um aeroporto, sem contar o caso de David Ritter, senador republicano que era cliente de um serviço de acompanhante e o deputado republicano Mark Foley por ter sido acusado de enviar e-mails de conteúdo erótico para menores e pra finalizar a conjuntura da obra temos o caso do deputado republicano Fendy "Duke" Cunninghan que foi encontrado acompanhado por prostitutas em um hotel de luxo no Havaí.
Aos inimigos da superpotência americana cabe somente neste momento notabilizar onde está a fraqueza da nação. Claro, está no sexo, todo o político americano é capaz de qualquer coisa para viver uma noitada de luxuria fora do matrimônio claro, senão não teria graça. Já sinto o cheiro das mulheres sedutoras, provocantes e libidinosas que serão treinadas pelas bandas do oriente médio com intuito de se deixar explodir após o coito com os fanfarrões políticos norte americano.
Pois é, daqui eu também faço o "v" de vitoria, linda, Ashley, conseguiu de fato a notabilidade que desejava. Agora será: quem dá mais...

Por: Alisson Meneses de Sá

quinta-feira, 13 de março de 2008

NO AVIÃO COM RUBEM BRAGA

Um braço de mulher

Subi ao avião com indiferença, e como o dia não estava bonito, lancei apenas um olhar distraído a essa cidade do Rio de Janeiro e mergulhei na leitura de um jornal. Depois fiquei a olhar pela janela e não via mais que nuvens, e feias. Na verdade, não estava no céu; pensava coisas da terra, minhas pobres, pequenas coisas. Uma aborrecida sonolência foi me dominando, até que uma senhora nervosa ao meu lado disse que "nós não podemos descer!". O avião já havia chegado a São Paulo, mas estava fazendo sua ronda dentro de um nevoeiro fechado, à espera de ordem para pousar. Procurei acalmar a senhora. Ela estava tão aflita que embora fizesse frio se abanava com uma revista. Tentei convencê-la de que não devia se abanar, mas acabei achando que era melhor que o fizesse.
Ela precisava fazer alguma coisa, e a única providência que aparentemente podia tomar naquele momento de medo era se abanar. Ofereci-lhe meu jornal dobrado, no lugar da revista, e ficou muito grata, como se acreditasse que, produzindo mais vento, adquirisse maior eficiência na sua luta contra a morte.
Gastei cerca de meia hora com a aflição daquela senhora. Notando que uma sua amiga estava em outra poltrona, ofereci-me para trocar de lugar, e ela aceitou. Mas esperei inutilmente que recolhesse as pernas para que eu pudesse sair de meu lugar junto à janela; acabou confessando que assim mesmo estava bem, e preferia ter um homem — "o senhor" — ao lado. Isto lisonjeou meu orgulho de cavalheiro: senti-me útil e responsável. Era por estar ali eu, um homem, que aquele avião não ousava cair. Havia certamente piloto e co-piloto e vários homens no avião. Mas eu era o homem ao lado, o homem visível, próximo, que ela podia tocar. E era nisso que ela confiava: nesse ser de casimira grossa, de gravata, de bigode, a cujo braço acabou se agarrando. Não era o meu braço que apertava, mas um braço de homem, ser de misteriosos atributos de força e proteção.
Chamei a aeromoça, que tentou acalmar a senhora com biscoitos, chicles, cafezinho, palavras de conforto, mão no ombro, algodão nos ouvidos, e uma voz suave e firme que às vezes continha uma leve repreensão e às vezes se entremeava de um sorriso que sem dúvida faz parte do regulamento da aeronáutica civil, o chamado sorriso para ocasiões de teto baixo.
Mas de que vale uma aeromoça? Ela não é muito convincente; é uma funcionária. A senhora evidentemente a considerava uma espécie de cúmplice do avião e da empresa e no fundo (pelo ressentimento com que reagia às suas palavras) responsável por aquele nevoeiro perigoso. A moça em uniforme estava sem dúvida lhe escondendo a verdade e dizendo palavras hipócritas para que ela se deixasse matar sem reagir.
A única pessoa de confiança era evidentemente eu: e aquela senhora, que no aeroporto tinha certo ar desdenhoso e solene, disse suas malcriações para a aeromoça e se agarrou definitivamente a mim. Animei-me então a pôr a minha mão direita sobre a sua mão, que me apertava o braço. Esse gesto de carinho protetor teve um efeito completo: ela deu um profundo suspiro de alívio, cerrou os olhos, pendeu a cabeça ligeiramente para o meu lado e ficou imóvel, quieta. Era claro que a minha mão a protegia contra tudo e contra todos, estava como adormecida.
O avião continuava a rodar monotonamente dentro de uma nuvem escura; quando ele dava um salto mais brusco, eu fornecia à pobre senhora uma garantia suplementar apertando ligeiramente a minha mão sobre a sua: isto sem dúvida lhe fazia bem. Voltei a olhar tristemente pela vidraça; via a asa direita, um pouco levantada, no meio do nevoeiro. Como a senhora não me desse mais trabalho, e o tempo fosse passando, recomecei a pensar em mim mesmo, triste e fraco assunto.
E de repente me veio a idéia de que na verdade não podíamos ficar eternamente com aquele motor roncando no meio do nevoeiro - e de que eu podia morrer.
Estávamos há muito tempo sobre São Paulo. Talvez chovesse lá embaixo; de qualquer modo a grande cidade, invisível e tão próxima, vivia sua vida indiferente àquele ridículo grupo de homens e mulheres presos dentro de um avião, ali no alto. Pensei em São Paulo e no rapaz de vinte anos que chegou com trinta mil-réis no bolso uma noite e saiu andando pelo antigo viaduto do Chá, sem conhecer uma só pessoa na cidade estranha. Nem aquele velho viaduto existe mais, e o aventuroso rapaz de vinte anos, calado e lírico, é um triste senhor que olha o nevoeiro e pensa na morte.
Outras lembranças me vieram, e me ocorreu que na hora da morte, segundo dizem, a gente se lembra de uma porção de coisas antigas, doces ou tristes. Mas a visão monótona daquela asa no meio da nuvem me dava um torpor, e não pensei mais nada. Era como se o mundo atrás daquele nevoeiro não existisse mais, e por isto pouco me importava morrer. Talvez fosse até bom sentir um choque brutal e tudo se acabar. A morte devia ser aquilo mesmo, um nevoeiro imenso, sem cor, sem forma, para sempre.
Senti prazer em pensar que agora não haveria mais nada, que não seria mais preciso sentir, nem reagir, nem providenciar, nem me torturar; que todas as coisas e criaturas que tinham poder sobre mim e mandavam na minha alegria ou na minha aflição haviam-se apagado e dissolvido naquele mundo de nevoeiro.
A senhora sobressaltou-se de repente e muito aflita começou a me fazer perguntas. O avião estava descendo mais e mais e entretanto não se conseguia enxergar coisa alguma. O motor parecia estar com um som diferente: podia ser aquele o último e desesperado tredo ronco do minuto antes de morrer arrebentado e retorcido. A senhora estendeu o braço direito, segurando 0 encosto da poltrona da frente, e então me dei conta de que aquela mulher de cara um pouco magra e dura tinha um belo braço, harmonioso e musculado.
Fiquei a olhá-lo devagar, desde o ombro forte e suave até as mãos de dedos longos. E me veio uma saudade extraordinária da terra, da beleza humana, da empolgante e longa tonteira do amor. Eu não queria mais morrer, e a idéia da morte me pareceu tão errada, tão feia, tão absurda, que me sobressaltei. A morte era uma coisa cinzenta, escura, sem a graça, sem a delicadeza e o calor, a força macia de um braço ou de uma coxa, a suave irradiação da pele de um corpo de mulher moça.
Mãos, cabelos, corpo, músculos, seios, extraordinário milagre de coisas suaves e sensíveis, tépidas, feitas para serem infinitamente amadas. Toda a fascinação da vida me golpeou, uma tão profunda delícia e gosto de viver uma tão ardente e comovida saudade, que retesei os músculos do corpo, estiquei as pernas, senti um leve ardor nos olhos. Não devia morrer! Aquele meu torpor de segundos atrás pareceu-me de súbito uma coisa doentia, viciosa, e ergui a cabeça, olhei em volta, para os outros passageiros, como se me dispusesse afinal a tomar alguma providência.
Meu gesto pareceu inquietar a senhora. Mas olhando novamente para a vidraça adivinhei casas, um quadrado verde, um pedaço de terra avermelhada, através de um véu de neblina mais rala. Foi uma visão rápida, logo perdida no nevoeiro denso, mas me deu uma certeza profunda de que estávamos salvos porque a terra existia, não era um sonho distante, o mundo não era apenas nevoeiro e havia realmente tudo o que há, casas, árvores, pessoas, chão, o bom chão sólido, imóvel, onde se pode deitar, onde se pode dormir seguro e em todo o sossego, onde um homem pode premer o corpo de uma mulher para amá-la com força, com toda sua fúria de prazer e todos os seus sentidos, com apoio no mundo.
No aeroporto, quando esperava a bagagem, vi de perto a minha vizinha de poltrona. Estava com um senhor de óculos, que, com um talão de despacho na mão, pedia que lhe entregassem a maleta. Ela disse alguma coisa a esse homem, e ele se aproximou de mim com um olhar inquiridor que tentava ser cordial. Estivera muito tempo esperando; a princípio disseram que o avião ia descer logo, era questão de ficar livre a pista; depois alguém anunciara que todos os aviões tinham recebido ordem de pousar em Campinas ou em outro campo; e imaginava quanto incômodo me dera sua senhora, sempre muito nervosa. "Ora, não senhor." Ele se despediu sem me estender a mão, como se, com aqueles agradecimentos, que fora constrangido pelas circunstâncias a fazer, acabasse de cumprir uma formalidade desagradável com relação a um estranho - que devia permanecer um estranho.
Um estranho — e de certo ponto de vista um intruso, foi assim que me senti perante aquele homem de cara desagradável. Tive a impressão de que de certo modo o traíra, e de que ele o sentia.
Quando se retiravam, a senhora me deu um pequeno sorriso. Tenho uma tendência romântica a imaginar coisas, e imaginei que ela teve o cuidado de me sorrir quando o homem não podia notá-lo, um sorriso sem o visto marital, vagamente cúmplice. Certamente nunca mais a verei, nem o espero. Mas o seu belo braço foi um instante para mim a própria imagem da vida, e não o esquecerei depressa.

Por: Rubem Braga

O texto acima foi publicado no livro “Os melhores contos – Rubem Braga”, seleção de Davi Arrigucci Jr., Global Editora – São Paulo, e selecionado por Ítalo Moriconi para compor o livro “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, pág. 169.

quarta-feira, 12 de março de 2008

PÃO QUENTE

O homem nu


Ao acordar, disse para a mulher:
– Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
– Explique isso ao homem – ponderou a mulher.
– Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar – amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
– Maria! Abre aí, Maria. Sou eu – chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço de escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
– Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
– Ah, isso é que não! – fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
– Isso é que não – repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
– Maria! Abre esta porta! – gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
– Bom dia, minha senhora – disse ele, confuso. – Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
– Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
– Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
– É um tarado!
– Olha, que horror!
– Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
– Deve ser a polícia – disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.

Por: Fernando Sabino


SABINO, Fernando Tavares. O Homem Nu. Rio de Janeiro: José Olympio Ed., 1973. p. 65-68

A BÍBLIA

CRÔNICA DOS PÃES


Certa vez uma criança caiu do vigésimo andar de um prédio, em São Paulo. Seu corpo bateu na calçada e o baque assustou as pessoas que viram a queda. Mas a criança se levantou. Conduzida a um hospital, os médicos custaram a acreditar que nada lhe houve acontecido. A criança ficou em observação e recebeu alta. Está viva até hoje.
A cidade esqueceu o fato. Eu o relembro agora, porque todos os dias vejo o prédio de onde a criança caiu. É um edifício com muitas janelas escuras, onde se penduravam varais com roupas de cima e de baixo. Nas tardes luminosas, ele se ressalta compacto contra o fundo fuliginoso do horizonte, onde se diluem chaminés, telhados e crista da serra.
Os apartamentos do prédio são cubículos habitados pela tripulação anônima das ruas; gente quase sempre sem genealogia e sem bens de raiz. Gente que tem como único patrimônio o cotidiano áspero. No edifício calcinado da várzea, residia a criança singular, que rolou de sessenta metros de altura e continuou viva. Cada vez que encaro esse edifício enfavelado, pergunto-me por que os milhares de olheiras e gente amarfanhada. E eu, que não acredito em marcianos, vejo-me forçado a pensar que dali voou um anjo sem asas, e outra vez se renova minha mais descarada crença no milagre. Não que eu dependa desse milagre urbano e atual para acreditar nos antigos e futuros milagres. Não é isso. Sei que as leis da Física estão aí justamente para explicar que um corpo de criança, baixando do vigésimo andar em velocidade crescente, pode Ter atenuada sua queda ao bater nos fios de iluminação – como aconteceu – e chegar, vivo, de encontro ao chão de concreto. E continuar vivo e esperto como o corpo de uma criança alada. Mas não é a sobrevivência da criança que me informa o milagre. É saber que a Física também gosta de crianças.
O mal dos cronistas é que eles se impressionam com coisas pequenas e passageiras. Posso dar exemplos. Dos bons cronistas que conheço, gosto especialmente de quatro. A rigor, não são nossos contemporâneos, embora sejam atualíssimos. E cada vez mais atualizadíssimos, à medida que aumentam a angústia e a perplexidade da humanidade. Os cronistas a que me refiro chamam-se Mateus, Marcos, Lucas e João. Talvez nunca tenham se preocupado demais com pormenores históricos; e penso que jamais seriam convidados para fazer parte da associação dos jornalistas científicos. Eu diria que eles são cronistas das intenções. Li muita coisa deles, e me parecem totalmente autênticos. Em suas palavras, queima-se uma chama intensa e viva. Diria que eles iluminam o mundo. Admira-me até que os jornais, indiscutivelmente, os maiores redutos de cronistas do País, não tenham tido ainda a idéia de contratá-los. É uma pena, sem dúvida. Mas é essa ausência que me permite, hoje, aproveitar um dos temas mais fascinantes focalizados pelos quatro escritores. ... Trata-se da multiplicação dos pães.
Muitos leitores, que não acreditam nem em milagre de criança que cai do vigésimo andar e não morre, ficam intrigados como as pequenas divergências de palavras no mesmo relato desses cronistas. Mateus e Marcos narram duas multiplicações dos pães. Lucas e João se limitam a uma única versão. Para quem não gosta de cronistas, ou de milagres, essa falha põe tudo a perder. Mas o importante no caso é o fundo de verdade da narrativa. De modo que não me custa nada fingir de cronista e tentar contar esse mesmo fato da multiplicação dos pães, como se não tivesse existido milagre algum. Ou antes: como se tivesse acontecido um milagre ainda maior do que o discretamente narrado pelos quatro cronistas do Evangelho.
Foi assim: a multidão tinha se reunido para ouvir o homem que anunciava a justiça, o perdão, o amor e a ressurreição. Portanto, a barra não era fácil. Num certo momento, o homem que pregava fez uma pausa e avisou que estava na hora de aquela multidão comer. Muitos dos ouvintes haviam vindo de longe. Os amigos do homem, ressabiados, explicaram que não havia alimentos para todos.
O homem que pregava a justiça sorriu quando viu que um menino na multidão oferecia seus cinco pães e dois peixinhos, que havia trazido na matula. Esse menino devia Ter mais fé que os adultos. Com esse pão e peixe, o homem pediu que todos se assentassem na relva, em grupos. Ele ia dividir o pão e o peixe entre todos, e cada um comeria uma migalha, uma isca de peixe. Mas, então, os adultos se tocaram e imitaram o gesto do menino. E eis que um tira de seu alforje mais um pão, e mais um peixe; e outro segue-lhe o exemplo; e assim por diante. E cada um cedeu o que havia trazido só para si e para sua fome. Daí a pouco estavam todos comendo pão e peixe, e um elogiava o peixe do amigo, e o pão do vizinho, e ficaram fartos, alegres e ainda palitavam os dentes de satisfação. E apanharam-se as sobras, para que nada se perdesse, pois daí a um nada chegariam os lixeiros, e recolheriam cestos de pães e peixes e iriam para suas casas contando às mulheres que, à beira do lago de Tiberíades, havia um homem que distribuía com igualdade, dividia com sabedoria e anunciava a vida eterna.
Por: Lourenço Diaféria